segunda-feira, 25 de abril de 2016

3 X 3

Jogos dramáticos, humanidades redimidas
por maneco nascimento

Um triângulo das felicidades poéticas consentidas. O tripé das coisas raras feito obra dramática eficaz, quando reunidos autores (literatura/dramaturgia), ator e diretor em espetáculo de desafios humanos e ciência estética da construção da personagem e desconstrução das peças que unem o jogo da verdade cênica às "mentiras", na arte do fingimento e práxis de persuadir e convencer na força do ato de encenar.

Um autor, um dramaturgo, um ator e um diretor, quatro peças para um jogo três a três nos campos do lúdico de frases de efeitos, textos, fases e nuances das falas dramáticas, vozes do teatro às narrativas do dramático de primeira e terceira pessoas, na Pessoa do romancista Cristovão Tezza, do dramaturgo Bruno Lara Resende (adaptador do texto literário ao dramático), do diretor Daniel Herz e do ator Charles Fricks, que obram o milagre dos peixes à cena de "O Filho Eterno".


Espetáculo patrocinado pelo Ministério da Cultura e Petrobrás, que abriu temporada em Teresina, nos dias 22, 23 e 24 de abril de 2016, às 20 horas, no Teatro "Torquato Neto" (Complexo Cultural Club dos Diários/Theatro 4 de Setembro), "O Filho Eterno" desempenha amor e "ódio" temperados à recepção, furacão e branduras à ressaca das tempestades humanas, com uma qualificada carpintaria dramática do texto adaptado ao teatro.

Sem deixar gorduras, nem conter melindres puristas na abordagem do conflito da personagem/autor, escritor ralentado, marido desempregado, pai de família, artista em entressafra da criação e pai de primeira viagem de um filho, com síndrome de down, a construção dramatúrgica textual, em simbiose à de cena, vai ganhando corpo e pulsação de verdades proibidas e regurgitadas da natureza humana à cênica, como uma pérola aos outros, avisados e desavisados, e colhe-os a todos com competência e precisão de arrastar "peixes" ao entendimento dos diálogos e vozes sociais carpintados ao melhor teatro, sempre-vivo.

(Charles Fricks é e está inteiro em "O Filho Eterno"/acervo: Cia. Atores de Laura)

Sem excessos, nem desgastes. Conflitos e dores e amores e pequenas maldades da alma, em histeria econômica e, ao mesmo tempo, exasperada, da aceitação/negação da natureza própria espelhada na natureza do outro, fruto de si e continuidade de genética e alhures.

Nas discussões do traço familiar e do traçado doméstico, em confronto com o social e íntimo revirados, estão imprimidos à razão e sensibilidades testadas a falta de escolha do "perfeito", enquanto gerado na forma do filho "imperfeito".

"O Filho Eterno" um suavizado tapa, em luvas do trabalho do bicho da seda, que compõe a obra de dramaturgias caras e estéticas livres e leves do jogo dramático, que encontram na arte do ator e método a primazia de eficiência lúdica e técnica de bem representar a natureza e a alma humanas, no artístico do fingimento.

(as vozes e o diálogo nas escritas de si e do outro/acervo: Cia. Atores de Laura)

Tezza, Lara Resende, Herz e Fricks acertam na mosca. E deixam a plateia em choque suavizado à força do encenado. Charles Fricks não só nos dá de presente uma maturidade interpretativa do fazer teatro, como em solidariedade da profissão dedicada a seu público aplica pureza, sobriedade tranquila, amor incondicional na arte de interpretar, a retorno da recepção atenta.

Seu repertório, de nuances e variáveis de vozes e emoções num turbilhão conflituoso de ser e não ser, imprime um libelo da grande arte do ator. É belo ver o intérprete "brincar" com as intenções e inflexões dramáticas arguidas e prospectadas do âmago da consciência do artístico e técnico, em corroboração ao sentimento e emoções calorosas do conflito.

Entre a fera e o belo construídos à personagem do pai com filho down, Charles despeja arte sublime e método pragmático de bem construir a personagem. Libera uma catarse que ao tempo em que condena, redime o pai numa transição levemente densa.

Paira na arte do ator, entre alegrias e dores numa contenção explosiva de intérprete, a energia inteligente do teatro vivo. A cartografia de cena cumplicizada pela direção e ator ampliam o discurso das vozes que geracionam amor puro e atomizam a matéria do discurso limpo, de natureza do bem e do mal presentes na natureza de qualquer um.

Tudo feito num jogo, de quatro cabeças criadoras que equacionam  matemática de 3 X 3, o fim da partida de "O Filho Eterno" é inteiro para corpus do corpo construtor da cena viva. Tezza/Lara Resende, Herz e Fricks, pais e filhos da obra dramática, expandem laços humanos, são pais de filhos eternos às expensas do belo ato de "O Filho Eterno".

Evoé, Cia. Atores de Laura! 

(companhia carioca de teatro vivo/acervo: Cia. Atores de Laura)

Tais filhos desta cena não poderiam ter sido gerados senão pelo universo que conspire, também, Laura.

Macktub!  

5 comentários:

  1. Este comentário foi removido pelo autor.

    ResponderExcluir
  2. Espetáculo LINDO, um dos melhores que vi nesse ano. Merece todos os prêmios que têm. Quanto ao Charles, ama a arte é visível pelo seu brilho no olhar. E tão humilde e tão bom. Uma combinação que difícil vemos, mas quando existe é tão intensa que acaba como que em "Filho Eterno", uma explosão de profissionalismo e amor ao que faz. Parabéns Fricks!
    Y.L.

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. faço minhas, suas palavras. grande ator e em dignidade plena da profissão. sinto orgulho de ser ator quando vejo tão bom desempenho. Charles é rei em terra da cena de Cia Atores de Laura.

      Excluir
    2. faço minhas, suas palavras. grande ator e em dignidade plena da profissão. sinto orgulho de ser ator quando vejo tão bom desempenho. Charles é rei em terra da cena de Cia Atores de Laura.

      Excluir
    3. faço minhas, suas palavras. grande ator e em dignidade plena da profissão. sinto orgulho de ser ator quando vejo tão bom desempenho. Charles é rei em terra da cena de Cia Atores de Laura.

      Excluir