que passou
por maneco nascimento
“Este ano não vai ser igual
àquele que passou...”, aquelas fantasias que, durante o ano inteiro, a
expectativa costurava, ficou para trás, na memória de outros carnavais.
Os Bailes sociedade, os desfiles de fantasias, os três ou quatro dias de folia e fantasia, uns pra cá, outros pra lá, até quarta feira, perderam-se no tempo do já foi assim.
Os Bailes sociedade, os desfiles de fantasias, os três ou quatro dias de folia e fantasia, uns pra cá, outros pra lá, até quarta feira, perderam-se no tempo do já foi assim.
Assaz, não há + o transitar das
gentes, famílias, foliões, caretas, mascarados, os vendedores de máscaras
tradicionais de papel cartolina e celofane aos feitos de, o fantasma do
quadrinho, a colombina, o pierrô e o arlequim, os monstros e personagens das
indústrias culturais de massa, na simplicidade artesanal de esconder, na
brincadeira do fingimento de estar fantasiado e ser o outro contido nos eus das
máscaras sociais de tantos carnavais.
Os grandes desfiles, quando ainda
na Avenida Frei Serafim. As escolas de tradição, das + exóticas e ostentosas às
+ simples que vinham, dos bairros e periferias foliãs, compor à concorrência e
estar no rol das julgadas e escolhidas como as melhores do ano.
Unidos da Palmeirinha, Escravos
do Samba, Piratas do Ritmo, Sambão, Brasa Samba, Skindô e, a novidade
onomatopeica de sambas enredos e neologismos das passarelas, a caçula e de
enredos ostentação, Ziriguidum, entre tantas outras agremiações que romperam o
asfalto da Frei Serafim e marcaram histórias do carnaval de Teresina.
Os dias de desfiles das escolas
de samba de primeiro e segundo grupo e os dias dos blocos sociedade, blocos dos
sujos. E o diverso e fantástico das fantasias, improvisadas ao tempo da rua, ou
meticulosamente planejadas ao sabor e humor e escatologias permitidas nas
reinvenções, revestidas ao brinquedo feliz de apresentar-se na pista de
espetáculo e subir e descer rua acima, rota abaixo, em grupos, em times e
corporações alegres, ou só, pra contrariar o coro dos contentes.
Enfeitar o tempo de sorrir e
divertir, também, aos curiosos e menos corajosos de representarem uma
personagem, e investir no templo de liberdades e profanidades consentidas ao
reino de Momo.
As personagens emblemáticas e os
tipos libertários de tantos carnavais. Robinho e seu riso grande em
imaculada felicidade; o estilista e carnavalesco Lulu Maravilha, que o
nome já dá lampejos do maravilhoso mundo de vestir e compor alegrias, em seu
requinte de composições ao Desfile de Fantasias, Destaque de Escolas e passarela
livre, quando as obrigações oficiais lhe davam cancela liberada para deslumbrar
nas calçadas, nos canteiros da Frei e asfalto do lado de cá, na margem da área
do cordão e serviços da comissão organizadora do carnaval.
Bernardo Cruz,
carnavalesco das costuras detalhistas e brilhos cosidos ao amor artesanal,
direcionado às + belas fantasias e vestimentas de cores e efeitos visuais a
vestir passistas e estrelas destacáveis às comissões de frente, alas e carros
alegóricos na ópera sabão de maior espetáculo a céu aberto, de herança imitação
dos tradicionais desfiles do eixo sul. O mestre Bernardo fez escola e deixou
legado ao ateliê do samba e às discípulas da alta costura carnavalesca e
barracões mágicos.
E a nossa eterna Rainha do
Carnaval de Teresina. A Rainha da Comissão de Frente de todas as escolas que
passavam pelo canteiro de obras do carnaval, a divina Nicinha. Sempre
linda, arrumada, fantasiada, simpática e risonha, maquiadíssima e desfilando
prazer e amor à festa momesca da cidade verde.
(imagem colhida da linha do tempo de K. Kruel Fagundes)
Emblemática e de carisma
invejável. Para aparecer e mostrar que gostava de samba e carnaval e confirmar
que sempre esteve no grupo dos bons sujeitos, nem ruim da cabeça, nem doente do
pé, lembrando o gracejo musical, no sambinha excelência, de Dorival Caymmi.
Nicinha adorava conceder
entrevistas e brilhar à frente dos holofotes. Recompunha a maquiagem, ajeitava
os óculos “fundo de garrafa” e, lá estava, revisitando as próprias memórias e
tempos de amor ao carnaval, desde a adolescência, quando ensaiou as primeiras
entradas à passarela da maior festa que o país pode transformar em cultura
popular manifestada.
Era assim, em boas doses de
folia, confetes, serpentinas e cores da diversidade, em minhas lembranças de outros
carnavais, de fins da década de 1970 e aquecidos dias e fevereiros que correram
os anos oitenta.
Depois os carnavais foram
perdendo seu tempo de existir na Frei Serafim. Transferidos à Marechal Castelo
Branco, à beira do rio Poty e, ensaios na Cajuína, sem muitos resultados que
satisfizessem sua permanência ali e retornou à Mal. Castelo Branco para receber
os desfiles e os axés importados a requentar o fim de noite.
As tradicionais escolas foram
arrefecendo o fogo, os desfiles ficaram menores. A saída do centro da cidade
diminuiu a fluência de público. Deslocar-se à Mal. Castelo Branco ou Cajuína
gerou + custos e riscos de chegar e sair.
O certo é que o carnaval de
desfiles de escolas de samba ficou grande d+ ao centro da cidade e a cidade
cresceu para fora do Alto da Jurubeba e abriu perspectiva de maiores campos de
recepção de grande público e céu + amplo para deslizar carros alegóricos e
eventos à grande massa, caso ela acorresse ao novo local. Sim, ela foi aonde o
espetáculo poderia estar e ser ofertado. O espetáculo é que perdeu o brilho de
outrora.
Sem investimento público oficial
satisfatório e sem as agremiações escolas de samba abandonarem a zona de
conforto, nem desempenharem a cultura de comunidades que trabalhassem o ano
inteiro, na antecedência do próximo carnaval, e aquecessem as baterias à auto
sustentabilidade e manutenção da brincadeira, independentemente do sinal
financeiro da pmt, + dada à manifestação massiva de carros cortejos, às custas
dos proprietários e concorrentes do corso, agregado ao livro dos recordes.
O verdadeiro carnaval de rua e de
desfiles de escolas e blocos de sociedade vai cumprindo rito de passagem ao
próprio ocaso. Às vésperas dos dias momescos, escolas começam a abrir
trincheira de cobranças e reclamões à falta de investimento no serviço de
desfile. E, como funcionárias públicas, recebem um holerite em cheque e vão
improvisar papel, tnt, cartolina e tecidos malhados a vapor barato, em
insistência de rememorar os velhos e saudosos carnavais.
Das memórias e saudades do samba,
dos desfiles da (na) Frei Serafim e dos camarotes “improvisation”, nos muros do
Colégio das Irmãs, e as idas e vindas enquanto esperava-se a entrada da próxima
escola aos dias de aventura e deslocamento, em noite de desbunde, alegria desenfreada
e restos de fantasias, na Marechal Castelo Branco que recebe o público que
nunca migra a outros sítios carnavalesco, interior adentro do Piauí.
Das melhores memórias afetivas em
carnavais, lembrar da doce menina e velha Nicinha de guerra, em front da
passarela do samba e desfiles oficiais da festa de Momo que por aqui passou e
que no tempo da areia brilhante e “strasser” e “gliten” fazia poeira na alegria
de viver bons carnavais.
“Nicinha (Leonice Ribeiro de Almeida) nasceu em
Ipiranga, em 5 de março de um ano qualquer no início da década de 40. Filha de
Timóteo Ribeiro de Almeida e de Rosa Maria de
Almeida. Com o seu falecimento, em 22 de maio de 1992, em nossa capital, o
carnaval de Teresina perdeu um de seus maiores símbolos: Nicinha, a porta-estandarte
de todas as escolas, a Rainha de todos os carnavais.
No
carnaval de Teresina, 1993, foi lembrada pela Prefeitura Municipal de Teresina,
com a denominação Nicinha a Eterna Foliã. Muito católica e extrovertida.
Baixinha, míope, encurvada, não dispensava saia rodada, baton escarlate e rouge
vermelho. Em qualquer época do ano, estava usando sempre a fantasia que mais
gostava, a da eterna Nicinha. Gostava de cantar La Violetera.” (Nicinha Eterna Rainha do
Carnaval. Texto recolhido da linha do tempo de Kenarde Kruel Fagundes/acesso 9
de fevereiro de 2015, às 20h)
Oh, abre alas que eu quero passar
e não esquecer o memorial da história do carnaval da “Tristeresina” que já foi
e não volta +. De Chiquinha, a Gonzaga, parafraseada para aproximar da
lembrança dos velhos e sempre carnavais à Nicinha, Bernardo, Lulu, Robinho e
tantos outros alegres manifestados da memória social, da cultura intangível
tangida às favas do “never more, never more”, para lembrar Dobal, que poeta dos
melhores que há, não sei se amante do carnaval, mas sei que bom sujeito sempre
foi e como brasileiro que é, gostava de samba.
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