“Deixa o carnaval passar...”
por maneco nascimento
Quando o bom humor, ironias, picardias saudáveis e um grande bonde da
folia, em gracejos da canção, deixavam o carnaval passar, nunca batido,
enquanto enchiam os salões de festas em reino de Momo, para três, quatro, cinco
ou + dias foliões e de fantasia até que as cinzas serenassem o ímpeto
carnavalesco.
“Deixa o carnaval passar...” foi, originalmente, publicado em 23 de
fevereiro de 2012, há quase três anos atrás, direto do tonel derramado à
chancela das picardias, maestrias musicais e licenças poéticas de grandes
compositores brasileiros, do tempo e tema terção às rodas febris de bailes de
carnaval, em clubes society e outros corredores da folia liberada.
Eram mesmo outros carnavais e, ano a ano, a disputa para compor e levar
o Prêmio de Melhor Marchinha, do certame, dava aos artistas das letras,
músicas, melodias e arranjos em intersambas de marchas, rancho, romântico e
ritmos pop contextuais do mundo de juventudes composicionais que a brisa do
carnaval contagiava e abria as porteiras e (en)cantava o Brasil de brasis do
povo considerado + alegre e feliz em todo o planeta.
Corria a alegria em versos e prosas melódicas, a perder de vistas, e enleava
os ouvidos radiados à canção brasileira de cepa foliã.
(confetes e serpentinas no Baile da "Noite dos Mascarados" (Chico Buarque)/imagem reprodução)
[Deixa o Carnaval passar...
Nos dias que antecederam a passagem da majestade momesca, festejado
carnaval brasileiro, o país foi só de aniversários em antecipação à alegria
dessas horas de folia. As comemorações pipocaram em confetes e serpentinas que
abririam alas a quem não queria sofrer, não queria chorar, a tristeza foi
deixada...
“(...) lá fora/ Mandei a saudade esperar, lá iá lá, iá/Hoje eu não
quero chorar/Quem quiser que sofra em meu lugar.” (O Primeiro Clarim,
cantada por Dircinha Batista, dos compositores Rutinaldo e Klécius Caldas),
porque quando o carnaval passa, de Chiquinha a Chiquitas bacanas, lá da
Martinica, tudo e todos brilham porque o samba e o carnaval, como se tem no
país tropical, é da pecha de invenção local e vem recheado de memórias.
Em comemorações, se festejou o frevo, em seus 105 anos de invenção
pernambucana mais emblemática. O Dia do Frevo, 09 de fevereiro, na festa do
Recife “Orquestras, passistas e cortejos de grupos percussivos celebram o
Dia do Frevo no Pátio de São Pedro, no centro da cidade, esquentando ainda mais
o clima de Carnaval da capital pernambucana.” (portal Terra/09 de
fevereiro de 2012. 15h52 atualizado às 22h06/acesso: 10.02.2012, às 11h45)
A data remonta a 1907 quando houve a primeira referência ao nome do
ritmo, em jornal do Recife. Os historiadores atribuem que o frevo ganhou forma
na boca dos foliões a partir de uma brincadeira com a palavra “ferver”.
Ao comemorar 100 anos, em 2007, foi considerado Patrimônio Cultural
Imaterial pelo IPHAN (Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional).
A dança característica desse ritmo quente leva o título de proteção cultural
por mérito manifestado. Segundo historiadores, os passos surgem da união do
estilo musical da capoeira, manifestação muito comum no período dos primeiros
frevos.
Já o Rio de Janeiro, a “Cidade maravilhosa, cheia de encantos mil
(...)” (Cidade Maravilhosa: André Filho, 1934), completou 80 anos de samba na avenida, brincadeira que começou lá
pelos idos da década de 1930. Comemora-se, neste 2012, o 80º. Aniversário do
primeiro desfile de Carnaval, que surgiu em 1932.
“O primeiro desfile foi organizado pelo jornal ‘Mundo Sportivo` no
dia 7 de fevereiro de 1932, domingo de Carnaval, e contou com 23 escolas de
samba formadas por 100 dançarinos vestidos de terno ou com fantasias simples e
recatadas, uma imagem muito diferente da exuberância e sensualidade atuais.”
(Veja Celebridades/matéria de Manuel Pérez Bella, 08/02/2012 –
18:47/acesso: 09/02/2012, às 11h30)
O que era pequeno, mas manifestadamente popular, cresceu no olho do
poder oficial e “'Nos anos 40 as autoridades se deram conta que os desfiles
eram uma coisa bonita, da cultura popular, e foram permitindo sua realização.
Até então eram marginalizados’ explicou Monarco” (Idem)
Monarco, da Velha Guarda da
Portela, com seus bem vividos anos de passarela sabe bem do que fala. Seus 78
anos de idade e 65 de carnaval são memórias de um tempo de ouro.
Iniciou-se nessa festa em 1947.
E, na década de 1940, quando começou seu histórico de folião, era também
a época de ouro do rádio e o carnaval em samba e marchinhas já fazia história
nos programas de auditório, através das grandes composições e vozes de rainhas
e reis. Se Chiquinha Gonzaga já abrira alas em 1899, então o que o samba não fez a partir de 1930
para que as décadas seguintes fossem pura mina de ouro.
O samba, o carnaval, o samba enredo, marchinhas, ranchos, entre outros,
a identidade musical de pura nacionalidade em que os grandes mestres abriram a
cornucópia da criação. Ainda em 1920, “Pé de Anjo”, de Sinhô, fez
do seu sucesso ecos que reverberam nos salões até hoje. Na esteira da
popularidade vieram “Ta-hi!” (Joubert de Carvalho, 1930), “O Teu cabelo não nega” (Lamartine Babo/Irmãos Valença, 1931).
As boas disputas musicais nos deram “Linda Morena” (Lamartine
Babo, 1932), “Linda
Lourinha” (Braguinha, 1933).
Em 1934, pérolas como “Cidade Maravilhosa” (André Filho) e “Pastorinhas”
(Noel Rosa/Braguinha) foram encanto e luz na boca do povo.
Já em 1935, Lamartine Babo
ataca de “Grau Dez”, em parceria com Ary Barroso e Noel Rosa e Heitor dos
Prazeres vêm de “Pierrô apaixonado”.
Para 1936, o sucesso é embalado por “Balancê”
(Braguinha/Alberto Ribeiro) e “Mamãe Eu Quero” (Jararaca/Vicente Paiva). Braguinha ganhou + gosto e no ano de 1937, com
o parceiro Alberto Ribeiro, brindou o
carnaval do samba com “Touradas em Madri” e “Yes, Nós Temos Banana”.
Em 1938, “A Jardineira”, de
Benedito Lacerda e Humberto Porto, perguntava sobre a tristeza da
personagem acabrunhada. Mas a música melodramática, uma alegria do samba,
convivia com outro sucesso, “Vaca Amarela”, de
L. Babo e Carlos Netto.
“JouJoux e Balangandãs”, um bom humor de Lamartine Babo, dizia “Joujous, Joujoux? Que é meu balangandã?...” foi samba
para 1939. “Allah-La-Ô”, de
Haroldo Lobo e Nássara; “Aurora”, de Mário Lago e Roberto Roberti e “Iaiá
Boneca”, de Ary Barroso, estão para 1940,
como “Apaga a Vela”, de Braguinha e “Chik
Chik Bum”, de Antônio Almeida, estão para 1941.
Se carnaval tem hora, “Está chegando a
hora”, de Rubens Campos e Henricão, contou o tempo de alegria em 1942,
mas teve companhia de “Nós, os Carecas”
de Arlindo Marques Júnior e Roberto Roberti.
A festa, entre saltos e pulos, foi de “Pirata da Perna de
Pau”, de Braguinha, que está para 1946
assim como “Cordão dos
Puxa-Sacos” de Roberto Martins e Frazão. 1947 trouxe a “A Mulata é a Tal”, de Braguinha e Antonio Almeida e “Coitadinho do
Papai”, de H. de Almeida e M. Garcez. “Chiquita Bacana”, de 1949, traz novamente a dupla Braguinha e Alberto Ribeiro.
A década de 50 também se garantiu. “Se é pecado
sambar” (João Santana); “Daqui eu não saio” (Paquito e Romeu Gentil); “Nega
Maluca” (Fernando Lobo e Evaldo Ruy) e “Flor Tropical (Ary Barroso), foram de 1950. No
sassarico dos salões, “Sassaricando”, de
Luiz Antônio, Zé Mário e Oldemar Magalhães, ganhou 1951. Marlene gravou “Lata D’Água”, de
Luis Antônio e Jota Jr, em 1952. “Marcha do Caracol”, de Peter Pan e Afonso Teixeira, também fechou
esse ano.
“Zé Marmita” (Brasinha/Luiz Antônio); “Cachaça” (Mirabeau
Pinheiro/Lúcio de Castro/Heber Lobato) e “Saca-Rolha” (Zé da Zilda/Zilda do
Zé/Waldir Machado) fizeram, em 1953, crítica humorada e alegria
contagiante.
Ainda para essa década, peças inestimáveis como “Maria Escandalosa” (Klécius Caldas e Armando Cavalcanti) e “Marcha do
Tambor” (Jurandi Prates/Hianto de Almeida/Ewaldo Ruy) deram graça a 1954. Quem sabe, sempre sabe, então Jota Sandoval e Carvalhinho saíram com a perolada “Quem sabe, sabe” que, em 1955,
juntou-se a “Tem Nego ‘Bebo’ Aí”,
de Mirabeau Pinheiro e Ayrton Amorim.
A “Turma do Funil”, composta para o
carnaval de 1956, de Mirabeau Pinheiro,
M. de Oliveira e U. de Castro, dividiu brilho com “Vai com jeito”, de Braguinha. Para 1959, Ivan Ferreira, Homero Ferreira e Glauco Ferreira brincaram com a moeda e o calor do carnaval em “Me dá um dinheiro aí”.
Carnaval também para índio veio com “Índio quer Apito”,
de Haroldo Lobo e Milton de Oliveira que abriu o ano de 1960 e “A Maria Tá”, também de Haroldo Lobo e Milton de Oliveira, esteve lá. “Marcha do Cordão do Bola Preta”, de Nelson Barbosa e Vicente Paiva foi
para 1962.
1963 apresentou “Twist no
Carnaval”, de Braguinha e Jota Jr.; os parceiros João Roberto
Kelly e Roberto Faissal vieram de “Cabeleira do Zezé”; “Pó de Mico”, de Onildo Silva, Renato Araújo e Dora Lopes alertou o salão e Capiba compôs “Madeira que cupim não rói”.
“Mulata iê iê iê”, de João Roberto Kelly veio para 1964 e em 1965 foi de composições como “Água na boca”, de Mendes, gravada pelo Bloco Cacique de Ramos, como também de “Na Onda do Berimbau”, de Osvaldo Nunes. A “Colombina iê iê iê”, de João Roberto Kelly e David Nasser alegrou 1966, assim como risos, palhaços e alegria em “Máscara Negra”, de Zé Keti e Pereira Mattos.
Também de amor vive a alegria e “Amor de Carnaval”,
de Zé Kéti, salvou 1968. As bandeiras da alegria carnavalescas trouxeram “Bandeira Branca”, de Max Nunes e Laércio Alves e também “Marcha do Remador”, de Antonio Almeida, para o
ano de 1969.
Música e alegria são temas de folia e diversão, logo muitos sucessos
ganharam força ano a ano e viraram “hit”, como “Chuva Suor e Cerveja”, Caetano Veloso, 1971. Também da Velha Guarda, para 1971, “Bloco da Solidão”,
de Evaldo Gouveia e Jair Amorim.
“Tem capoeira aí”, de Batista da Mangueira, esteve na vida de
1973 e “Boi da Cara
Preta”, de Zuzuca, brindou memórias infantis em 1974. Caetano Veloso criou a “A Filha da Chiquita Bacana” para 1975.
Outras raridades do carnaval ganharam memória, como “Tomara que chova”, de Paquito e Romeu Gentil; “Roubaram a Mulher do
Ruy”, de José Messias; “Maria Sapatão”, de Chacrinha, Roberto, Don Carlos e
Leleco; “Marcha da Cueca”, de Carlos Mendes, Livardo Alves e Sardinho;
“Tristeza”, de Haroldo Lobo e Niltinho e também “Até Amanhã”, de Noel Rosa, o poeta do Morro.
Memórias dos dias de 20, 30 e muitos anos outros que preencheram os
salões e alegorias, à produção, em série, a uma das maiores
expressões artísticas nacionais. Porque este é o “País Tropical” (Jorge Bem Jor) e, hoje e sempre,
ainda é samba.
Deixa o carnaval passar... porque se lá atrás havia
gênios do samba, nesses dias de novos hits salvam-se os bambas que fizeram
memórias de outros carnavais.]
(confetes mascarados/imagem reprodução)
Causa orgulho deter, em memória e história musical
brasileira, tantos risos e tantas alegrias às vozes sociais de melodias, canções
que o tempo resguardou até que escafandristas (lembrando Chico Buarque, autor
de grandes sambas) venham curiar o próprio espólio cultural da MPB.
Esse é o país do samba, do carnaval, da fantasia,
da alegria, dos morros mal vestidos, das balas perdidas, “que depois do meio
dia, nem polícia e nem ladrão” (Gonzaguinha), do discurso de fé de que vai
passar o tempo ruim que pipoca nos noticiários, com ou sem filtro, ou sempre
com filtro da informação.
E, para manter a alegria, que brasileiro é de luas,
sois e verões, apto aos dias de carnaval e fantasia, porque não é de ferro, é
que, por isso e apesar disso, “vai passar nessa avenida o samba popular” (C.
Buarque)
Àqueles que não perdem o cordão da alegria, seguram
a onda e, ao próprio bem, não tiram ele (o Carnaval) da cabeça, merecem a
menina moça/menino contente que qualquer um tem, parafraseando o velho Chico,
em seu caudaloso curso de músicas do alegrado brasileiro, é que se faz o Brasil
de brasis e de carnavais que purgam a alma nacional de natureza foliã.
“Deixa o carnaval passar...”, isso é de Saudades e
Memória do Carnaval brasis, é coisa nossa. E, como diz o Noel, em bom refrão " O samba, a prontidão/E outras bossas,/São nossas coisas,/São coisas nossas!" (São Coisas Nossas/ Noel Rosa)
Fonte: veja.com
terra.com
www.samba-choro.com. (letras de marchinhas de carnaval... por Paulo
Eduardo Neves)
http://letras.mus.br
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