Trilogia
da mímesis
por maneco nascimento
por maneco nascimento
Depois
da crise com direitos autorais, o Grupo Harém na esteira da estética de se
reinventar, passa a investir em dramaturgia autoral e, nessa perspectiva, monta
a peça número dois da Trilogia Ciência e Dramaturgia hareniana. “Macacos me
mordam – A comédia” abriu o triângulo das desnudas intenções. O segundo vértice
cênico da Trilogia atende pelo nome de “Abrigo São Loucas”.
“Abrigo
São Loucas”, de texto autuado-flagrante das oficinas de criação de Arimatan
Martins, tem estréia agendada ao dia 27 de janeiro de 2013, em Floriano, no
Teatro Maria Bonita, às margens do Rio Parnaíba que separa o Piauí da
maranhense cidade Barão de Grajaú. E, para essa nova montagem que o Grupo
escolhe trabalhar com elenco menor, estão na cena emparedando a loucura de viés
do humor inteligente, os atores Emanuel Andrade, Fernando Jorge Freitas,
Francisco de Castro e Francisco Pellé.
A
dramaturgia rege picardia, ironias e inteligência dramática garimpadas ao
teatro do humor (re)afinado para públicos fins e afins de uma boa dose de
diversão, entretenimento e crítica reflexiva ilustrada de forma que ninguém
perca o fio de Ariadne, nem os labirintos da cena distanciada. Peça em comédia
político absurda, às vezes de “esperando um novo tempo bom”, como argumenta
Arimatan e sem deixar de intertextualizar Godot, mas dentro da estética própria
do Harém.
As
personagens, três ex-primeiras damas, que se chamam Maria, são peças do jogo do
inventário popular (de histórias reais). “Abrigo são Loucas” é uma obra de
ficção, mas qualquer semelhança com pessoas, ou fatos reais será esmera
coincidência, é o que defende o Grupo. O enredo reflete desde contextos da
farra com dinheiro público até a Lei de responsabilidade Fiscal.
As
Marias construídas às personagens prezam pela tradição da comédia, com todos os
componentes molierescos, com suas ironias de crítica voraz, de feroz estocada
aos costumes. Em Molière, a crítica aos médicos. Em Arimatan, aos políticos. As
três ex-primeiras damas são matriarcas, amalgamadas em conceitos antigos,
retrógrados e reacionários. A decadente ex-proprietária de terras e fazendas; a
emergente e a representante das classes populares.
São
mulheres, mães, esposas e humanas. Fora do ciclo do poder, armam para voltar ao
centro da viciosa tradição do poder. Estão juntas pelas circunstâncias, mas há
uma crueldade que as separa e as interliga a um propósito e ou falha trágica do
mundinho corrupto que viram ruir, sem que pudessem manter os padrões que
refestelavam enquanto esposas de políticos “bem sucedidos”.
“Abrigo
São Loucas” está sinalizado numa dramaturgia sob a égide feminina, o signo da
mulher à sombra da política e dos desdobramentos que esta posição social lhe
impõe. Regurgitam memórias áureas e conspiram a reconquista do território antes
marcado pelo mijo do alfa das alcatéias.
Vem
riso grosso pela frente. Que viver, verá a segunda peça da Trilogia Ciência e
Dramaturgia hareniana, em breve ns palcos de Teresina. E, para os que já viram
“Macacos me mordam – a comédia” (arte e ciência), verão “Abrigo São Loucas”
(arte e política), não perderão por esperar o terceiro elemento, “As Bestas”
(ciência e comportamento), já nas forjas de Hefestos só aguardando a hora de
tornar-se “armadilha” ao público da cidade.
Atenção,
ao dobrar uma esquina,olhe pros lados, a Trilogia Hareniana vai invadir suas
raias, da loucura, do humor e do teatro premeditado. É mímesis da estética apropriada fazendo chegada.
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