Eliane Paiva***
por maneco nascimento
Cara e querida amiga, Eliane, vou me permitir o direito de tratá-la com essa intimidade. Recebi recomendação de que você gostaria que eu apresentasse livro que, cuidadosa e carinhosamente, realizou acerca das memórias e histórias colhidas e contadas de sua avó.
Em primeiro lugar, um grande abraço a essa pessoa gentil, doce e que, quando me encontra há sempre um sorriso, que inspira melodia deslizada ao jogo das teclas brancas e pretas de um bom piano, em bom uso.
E em seguida, digo: ora, que honraria se me deixa com essa responsabilidade de apresentar assunto que tão bem só poderia ser objeto de observação e comentário, eficazmente feliz, de alguém que teve esse precioso convívio e particular assento de afetividade com essa mulher, mãe, avó, educadora, mestra e maestrina, senão você e ou seus irmãos, netos queridos da vó Adalgisa?
Mas, você assim quis me ofertar com essa candura, de abrir esse breve comentário sobre o registro, ora oficial e possibilitado pela Universidade Federal do Piauí, como resposta em matéria impressa em livro, obrigado. Essa intangibilidade que você, cuidadosamente, amealhou na forma de resgate e recolho pessoal, feito passo coletivo, à apreciação pública nesse necessário livro publicado.
Falar da douta senhora que dedicou toda uma vida, em carreira voltada à música e à pedagogia de atrair atenção aos sons e melodias sentimentais e ao canto orfeônicos e que marcou seu tempo e deixou mais que uma partitura amarelada pelo tempo, senão um nome que vence os anos e gerou novos artistas, no próprio seio familiar, que continuaram sua obra, é de sentimento orgulhoso a quem o faz.
E, lembrar que, sua continuidade artística e cultural, através de seus netos, bem como pelos "outros" filhos a quem dedicou seu aprender a aprender amplia esse sentimento de orgulho. Alunos, alunas, aprendizes e afinadores dessa obra que ganhou dinâmica de expansão, feito luzes de big bang, a aquecer a história construída pela mestra, desde os bons anos em que ensinou a seus escolandos, não só a pedagogia da vida, mas também a atração pelo artístico, a escola de aprendizado e a música que ganhou nossa contemporaneidade, em seu exemplo de facilitadora musical.
Quem nasce artista, sabe como encaminhar seu amor pela arte e lega os melhores exemplos, especialmente se boa mestra. Das memórias colhidas ao livro, uma vem a esse comentário.
O depoimento colhido por Eliane para compor assunto do livro, consta à década de 30 a memória de uma das alunas de Adalgisa Paiva, Cristina Cruz Cardoso, que revelou frequentar o cinema Olympia e lembrar demais de ouvir sua mestra executando músicas lindas ao piano, enquanto passava o filme. Tocava as composições em voga, do período, e nos intervalos de exibição da fita, Adalgisa também cantava, com voz forte e bonita, que da porta do cinema se podia ouvir.
Essa demonstração profissional e artística que também repassou a seus aprendizes, é o que a transformou em "A Grande Oitava", alcunha carinhosa de uma de suas netas, Eleonora Paiva. Eleonora conta que, convidada a prefaciar o livro, organizado por Eliane, lhe veio uma lembrança que jamais esquecerá: "minha avó tocava piano para minha filha Silvana (sua primeira bisneta) dormir. Sentada ao piano e, com com uma energia e entusiasmo de uma adolescente de 78 anos, tocava, dedilhando delicadamente o piano, uma canção de ninar que compunha naquele mesmo momento. Um momento único e bem íntimo. Assim era Adalgisa Paiva: única."
E continua, "Enquanto Giacomo Puccini compunha sua obra La Boheme, na Torre do Lago, em seu casarão, Alexander Scriabin, compositor russo, compunha seu Concerto para piano, em fá sustenido op. 20. Nesse exato domingo, 02 de agosto, os sinos tocavam na Igreja Matriz de Nossa Senhora do Amparo e nascia, ao som desse Sol musical, na caatinga, Adalgisa Paiva, numa cidade pequena chamada Teresina, no ano de 1896."
Eleonora finaliza seu prefácio, dizendo: "Suas memórias resgatadas pela sua neta Eliane, todos os depoimentos mostram a mulher extraordinária que ela foi e deixou plantada a semente de sua arte em muitos que passaram pela sua vida, abrindo caminho para outros que seguiram depois dela. Eu costumo chamá-la de 'A Grande Oitava', a nota mais alta de uma escala musical. O Piauí tem agora, a oportunidade de conhecer e de resgatar a memória desta grande artista, que escrevia em sua canção: 'O luar da minha terra é prata fina quando surge nas palmeiras, ilumina..."
Não poderia melhor apresentar essa obra nesta noite, senão através das palavras sinceras e cheias de amor irrecorrível de uma de suas netas, Eleonora, que prefacia o livro de outra, a autora Eliane Paiva.
Como falar de Adalgisa Paiva, a partir de um olhar de auxiliar seu na correção de texto da obra "Adalgisa Paiva - o legado de uma educadora"?
Dizer com a maior convicção que Eliane Paiva e seu esforço, dedicação e acuidade particular fez com que o universo conspirasse um excelente material de memórias da cidade do início do século passado e suporte de curiosidade, pesquisa e interesse, também acadêmico, a quem não perdeu a ternura ao que nos faz revisitar Pound, quando lega a original "o novo nasce da conformidade do velho".
Sem caráter pejorativo, lembramos que nossos velhos são nossas melhores referências de memórias afetivas. E dona Adalgisa Paiva, essa mestra e maestrina que a cidade nos legou, nos renova e nos faz imergir nas memórias e histórias que se nos contou para que, através dessa obra editada pela UFPI, possamos continuar a ouvir "A Grande Oitava".
Obrigado, Eliane querida, pelo convite, e digo que meu orgulho não é maior porque não tive essa honra particular de ser neto de dona Adalgisa Paiva. Um grande abraço musical.
Evoé, Adalgisa Paiva!
***texto de apresentação do lançamento do Livro "Adalgisa Paiva - o legado de uma educadora", de Eliane Paiva, lançado na noite do dia 13 de dezembro de 2016, às 20h30, no Café Literário "Genu Moraes", durante festa de 31 anos do Grupo Harém de Teatro.
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