por maneco nascimento
A estreia deu-se em temporada de dois dias (15 e 16 de outubro), às 20 horas, no Theatro 4 de Setembro, tudo sendo construído na hora, em tempo real de uma hora. O elenco, 20 artistas das vertentes da linguagem da cena de teatro, dança, música, técnica de palco, bastidores, vestuária e caracterização, som, luz, video-exibição.
O espetáculo, um mergulho pelas trilhas de cinema estrangeiros e nacionais, musicais, grandes ídolos, Divas, música pop, clássicos orquestrados, rock pop. Musicais e shows e filmes, que marcaram a história da cultura pop e que reverberam, desde que o homem não pisou na Lua, ou um pouco antes quando se começava a grande disputa das indústrias culturais e cultura e arte que se inscreveram, em paralelo, ou em simbiose com as novidades do século 20 e 21, entrecruzados pelo mundo pop art business, show espetáculos biz.
A trilha sonora, que desenha o espetáculo e amplia as licenças poético dramáticas e conflui com imagens de cinema e musicais e clipes icônicos pop, revela a feliz ideia de imergir nas memórias musicais que marcaram gerações e imprimiram razão e sensibilidade à cultura de massa e a força do mass media artístico ao redor do mundo criativo.
Louis Armstrong, “What a wonderful world”; "Como Nossos Pais” (sucesso de Belchior, por Elis Regina, do show Falso Brilhante); “All my loving” (Beatles); "Meu mundo caiu”(de Maysa); “Billie Jean” (Michael Jackson); do filme A Noviça Rebelde, "The hell are alive”; “Singin in the rain” (filme Cantando na Chuva); projeção de áudio original e imagens de "Moulin Rouge”.
E, “New York, New York” (musical/filme Cabaret); música do filme “Bete Balanço”; “Lay your Love on me”; do filme “Flashdance”; “Maniac”; "Mamma Mia", ABBA e filme Mamma Mia; filme “Hair”, “Staying alive”, filme Embalos de sábado à noite; musical/filme “Fame”/versão de Sandra de Sá: Sol de Verão/Fama; musical de Madonna, “Vogue” (com a participação super especial do Balé da Cidade de Teresina) e Elis Regina (Aquarela do Brasil) e Marília Pera (Elas por Elas) e as Marchinhas populares brasileiras.
Cena que se vai construindo, numa desconstrução matalinguística à geografia da cena, #FAMA#emtemporeal vem, desde a primeira entrada, para um desvelar de impactos e cenas humoradas que reviram a história de Shows de auditório e trazem, nas entrelinhas, também, a Era do Rádio, o teatro musical, programas de calouros (que aparecem na carpintaria dramática, como os testes para participação no espetáculo, que deverá ser montado em 15 dias).
A metalinguagem do teatro dentro do teatro, as revelações de bastidores in loco, e o construtivismo da cena que, num crescente, vai revelando uma feliz e criativa solução de contar a história, através das músicas e imagens originais, projetadas em telão ao fundo, que se fundem com a cena, de primeiro plano, quando os intérpretes/cantores "dublam", dividem a cena com grandes ícones e as canções + populares de todos os tempos.
Cláudia Simone, Gislene Danielle, Vieira Neto (Kiko) e Lucas Coimbra e Machado Jr., os cantores/atores vão distribuindo sabedoria musical e vocal, enquanto costuram a própria cena de metateatro na profissão de intérpretes, sejam os que venceram o teste para cantor(a), durante as audições, sejam os que já estão para a cena para seu solo de bem cantar. Há um sinergia e felicidade em cada canção encenada e nada a dever, "nem a você, nem a ninguém...".
Um gracejo, um drama, um rock, um pop music, um deus Ex-machine ampliado ao teatro musical contemporâneo em que a desconstrução é construtiva do enredo dinâmico, afiado e afinado às vozes e aos vozes de ouro bossa nossa. Cacau, Gil, Kiko e Coimbra estão indomavelmente doce deleite de bem cantar e respirar teatro trilhado às vezes de musical.
A companhia luxuosa da Banda composta por Fábio Mesquita, piano, teclados e escaleta (ponto comovente em "Footloose", quando dialoga com Machado Jr.); Lucas Coimbra, Direção Musical e voz; Lucas Santana, guitarra; Machado Jr., contrabaixo e voz e Roberto Carvalho, bateria, consegue ser a melhor base de lançamento, às estrelas, de todo o elenco classe A que interage a história contada.
Confluem em mesma e intensa energia os intérpretes criadores, bailarino(a)s, Chica Silva (coreógrafa e bailarina), bailarino(a)s Jeciane Sousa; Zé Carlos Santos e Robert Rodriguez, que deslizam feito agulha e linha, costurando um ilustrado elegante de coreografias e manifestado de diálogos pelo corpo que discursa as vozes às musicas e musicais representados.
Os técnicos/atores que interagem diretamente e geram novidade de também contar o enredo, em que o fim é o começo e as variações de cenas, à toda a importância de todas as personagens que cantam e oralizam o mapa dramático e revivificam as profissões envolvidas na trama, sabem do convencer.
João Vasconcelos, Direção e Produção Geral; Adriano Abreu, Direção de Cena, somam-se a Pablo Erickson que traz uma luz limpa, delicada e envolvente à linguagem de shows musicais, a escrita que sobrevaloriza o artista que gera a luz e aquece o que é tempo de Estrela.
Fabiano Bezerra, o Sonoplasta; Edithe Rosa, na personagem de contrarregra-atriz e de impulso de vencer como cantora de musicais; Stella Simpson, investida na cena como camareira/atriz de musical e assinante de Figurino e Caracterização do elenco; Antonio José, como o Gerente de palco e Marcio Brytho, na pele de Operador de video-áudio renderizado.
Se as imagens confluídas a um conjunto estético plástico, cartografado no desenho dramático, não falassem nada e o reunido técnico profissional, que gerou o ótimo resultado, não vingasse horrores, ainda haveria que dar crédito a um grupo de artistas, atores, atrizes, cantores, cantoras, músicos, técnicos que internalizaram uma fórmula de sucesso impactante-feliz e um redondo espetáculo, em persuasivo suporte de atrair a recepção e deixá-la envolvida na teia criativa e expressiva de bem realizar.
+ do que ser só entretenimento, o espetáculo com características de linguagem musical rapta a atenção do público, desde a primeira imagem de Louis Armstrong e sua bela voz e carisma emprestados a uma sequência da sétima arte, na valorização dos temas, das discussões sociais e políticas, das imagens imortalizadas por "uma ideia e uma câmera na mão" e a ditadura do montador que posterizou cenas inesquecíveis à arte do cinema.
Não faltou, na tessitura do espetáculo, as homenagens aos Estelares que se nos são caros na nossa proximidade cultural de arte, artistas, fãs e às memórias inesquecíveis, Marylin Monroe, Júlio Romão, Amy Winehouse, Junior (Salve Rainha), Marília Pera, José Wilker, Dr. Rubens Lima.
A grata forma do dramaturgo, J. Vasconcelos, dizer o quanto podemos ser sempre gratos a arte e ao artista, sejam os nossos, sejam os nossos outros de outros países.
#FAMA#emtemporeal é uma pancada de qualidade e surpresa, em resultado final apresentado, para quem se atém a música e musicais e teatro de representação dos melhores dias de nossas vidas, pela memória da arte e cultura da cena de espetáculos, nas linguagens reunidas à metalinguagem proposta ao espetáculo.
Teatro construtivista, que o elenco se desconstrói enquanto alinhava felicidade cênica.
Dobra um Cabo da Boa Esperança e deságua nas terras apropriadas ao ato de representar e representar-se na arte de ser artista e dialogar com seu público. O faz bem e deixa um rastro de competência artística.
A proposta, de construção ao vivo da cena, deixa margem para maturar o vinho, nas repetições do resultado, e festejar Baco como bem detém o corpus que construiu o corpo sinérgico de #FAMA#emtemporeal.
Valeu o quanto pesa na balança do bom dramático.
fotos/imagens: (Luciana Marreiros)
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