por maneco nascimento
"[...] Itabira é apenas uma fotografia na parede. Mas como dói!"
(Confidência do Itabirano/Carlos Drummond de Andrade)
A noite do último sábado, 01 de outubro, foi palco de + um Palco Giratório.
[Palco Giratório apresenta! "A Projetista", dia 01 de outubro, sábado, às 20 horas, no Theatro 4 de Setembro.
Um espetáculo da bailarina e coreógrafa mineira Dudude Hermann circula pelo Palco Giratório.]
A viagem de chegada à cidade-laboratório de Projetos concorrentes a propostas de circulação de espetáculos, que começa com a personagem andando em círculos até chegar a seu escritório, uma escrivaninha com pirâmides de papéis, blocos, anotações, etc.,
É como se instala a cena dramática, de "A Projetista", numa dialética de metáfora reflexiva, acerca de volume de papéis, justificativas, currículos e persuasão para aprovo de projetos culturais. Como um dos vieses de discussão.
Mas há + outros que se nos vão sendo apresentados à inteligente ação criativa e prática de arte e cultura, na dança nova, proposta pela intérprete criadora, bailarina e coreógrafa Dudude Hermann. A que custos os papéis envolvidos, enviados repercutem uma devastação de floresta, + árvores envolvidas na consecução de papéis a serem aproveitados, utilizados em cópias e + cópias de projetos.
Outros olhares e falas de auto-crítica estão na repetição da repetição dos exercícios da nova dança.
Uma metalinguagem, um olhar para si e para as respostas e perguntas que aparecem na partitura do corpo que apresenta, representa, cria e transforma em discurso criador, o objeto de cena que reverbera a dança, a nova dança, a arte cênica feito obra de compra e venda, de consumo e circulação artístico e cultural do corpo e movimento.
No metateatro repercutido há atriz da cena, à personagem, em texto e discurso e percurso da evolução da defesa e auto defesa da arte e cena para texto e discurso de persuasão e convencimento pelo falas e vozes lançadas à recepção coptada a toda a atenção.
Há a atriz-bailarina, à personagem intérprete-criadora, que marca sob signos, siglas, movimentos, emblemas e marcações de corpo e movimento toda uma trajetória construtivista de dar mostra ao ato criador, de forma humorada, crítica e reafirmada sobre a ação de construir dança circunspecta, no intrínseco de dança contemporâneo-nova dança.
Espetáculo limpo, inteligente, distanciado e brechtiniano a perder-se da catarse irreflexiva e contempla luz e sombras sob a égide de dançar, bem dançar, ou até "dançar", quando a dança não comunica.
"A Projetista" abre vários canais de recepção, como seria natural a obras em expiação, e diz: "ei, estamos aqui em dança", creia ou não.
E, especialmente, abre uma licença poética em epílogo eficiente na partitura textual apresentada na cena. A escrita é clara a qualquer um(a), mesmo o(a) de repertórios + encolhidos.
Do escritório asséptico e "perfumado" ao caos da última cena, em que o soalho é campo de papéis lançados ao vento das projeções e controle de Projetos encaminhados a controle de recepção de projetos à circulação de arte e cultura, chega-se à projeção da, talvez, última árvore.
A sobrevivente a tanta exigência de papéis e papéis de quem tem que gerar papéis dramáticos a concorrer papéis que circulam.
A personagem, à frente de todas as outras personagens (a plateia), fica defronte da projeção de um exemplo de árvore. Um retrato na parede. Só, isolada, bucólica, com sol ao fundo do próprio ocaso.
Peça de adoração? Uma obra aberta às novas recepções que possam surgir da imagem icônica de, talvez, a última árvore do planeta. Essa, + uma recepção embutida na cartografia dramática de "A Projetista".
Da arte, criação e repercussão de uma mineira, um intertextual com outra arte mineira, a drummoniana:
"Itabira é apenas uma fotografia na parede. Mas como dói!"
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