sexta-feira, 21 de outubro de 2016

Corpos que riem

em linguística musical
por maneco nascimento

O espetáculo tem linguística de musicais. Estão lá as trilhas, as canções interpretadas, os cantores e cantoras virtuosamente pop, os músicos e seus instrumentos selvagens, o mapa dramático e estético de persuasão e convencimento da recepção, os atores e atrizes e os bailarinos e bailarinas. Está lá o espetáculo estendido na távola do lúdico, mágico, científico e sensível à práxis de show biz.

Nesse terceiro vértice de comentário ao espetáculo #FAMA#emtemporeal, que estreou à primeira temporada, dias 15 e 16 de outubro, no palco do Theatro 4 de Setembro, a atenção volta-se aos bailarino(a)s que imprimiram falas, através de corpos graciosos e desenhos da partitura individual de quem dança às respostas do coletivo.

Chica Silva, que também assina coreografias do espetáculo; Jeciane Sousa; José Carlos dos Santos e Robert Rodriguez, o quadrilátero que enfatizou a dramaticidade dalgumas canções no enredo de #FAMA#emtemporeal.

Na metalinguagem, de prólogo do espetáculo, Jeciane, José e Roberty concorrem em audição a uma vaga do espetáculo. Antes José Carlos e Robert Rodriguez tentam cantar, mas seriam desastrosos como cantores e, reconduzidos ao teste de dança, acabam aprovados ao espetáculo.

Na metacena, os bailarinos ganham força e expansão da carreira de primeira incursão musical (metateatro em tempo real) e vão ampliando as identidades de movimento e deixando rastro de talento, ao longo dos 60 minutos de atração musical.

Chica Silva é estilo de economia e concentração, sem qualquer necessidade de arroubo de vaidade. Sua versão de Gene Kelly, à canção "Singin in the rain" (Cantando na Chuva), consegue afiar a atenção do público e a licença poética de reprodução da cena do clássico do cinema ganha sabor de liberdade dialogada pelas linguagens intertextuais.

Em "Bete Balanço", a canção do filme homônimo, lá está também Chica em seu contributo de dança, na pedagogia de leitura de versos composicionais, através do corpo. Outras passagens quentes que a dança exige imagem, movimento, linguagem e falas do corpo, o corpo de Chica Silva também é voz que emblematiza frases na dança.

Jeciane Sousa consegue ser uma espécie de "al faz tudo" da cartografia dançada do espetáculo, parece está em 90% do que se dança no espetáculo. Essa quase sempre presença dela na cena se nos dá uma alegria e felicidade de ver uma artista em poder e performance eficientes ao deslizar passes e marcas intrínsecas de talento e fraseados corporais à dança.

Desde o teste ao espetáculo, com "Billie Jean" e, enveredando por "New York, New York" (filme e musical Cabaret), da cena clássica de Liza Minelli, é a Jece quem divide a cena com Edithe Rosa e Stella Simpson. Domina fácil o palco e atua muito bem, obrigado, para dança e teatro sugeridos.

Vem também em "Bete Balanço", ao vigor de coletivo; "Maniac" (filme Flash Dance), para solo que impõe não só energia, mas muito preparo técnico. Preparo esse para percorrer em segundos uma coreografia, sair, trocar de figurino e retomar a outro enredo com + garra, que bem ilustra a personagem de "Flash Dance".

Seu metateatro, um ritmo quente pé dentro da cartografia coreografada. Os Embalos ganham sábado, domingo e geracionam outros ritmos dominados da intérprete criadora.

Em "Vogue" (Madonna) é de novo peça no coletivo que bem expressa práxis eficaz de dançar com o Balé da Cidade de Teresina. A sua presença é bela, bela, bela, bela, a sua presença. Um cisne arbitrado fora das fábulas trágicas e mergulhado no fabuloso do contemporâneo à nova dança.


José Carlos dos Santos, ator e bailarino e educador físico reúne disciplina, amor ao que faz com verdade de cena e uma paixão vazada aos poros, quando está no centro da dramaturgia que lhe caiba. Postura, presença, domínio da cena que está para sua partitura e um belo de acreditar no que faz, que é peça chave de persuasão. Quem não acredita no que está fazendo, não convence ninguém.

Dança com domínio da própria técnica que consegue presenciar e está eficiente, também, no coletivo quando divide cena com Jeciane e Roberty Rodriguez, ou quando elementa passagem de identidade no palco, ou à própria repercussão de Narciso à cena dos espelhos. Um ponto alvo, é quando realiza teste para cantor. A personagem premeditada avança sobre o ator, mas não é cavalo do santo. É ciência do teatro experimentada.

O quarto bailarino, Robert Rodriguez, é o que + audaciona-se sobre o coletivo e impõe a própria idiossincrasia de brilhar na cena, mesmo quando o roteiro exige equidade na coreografia. Gestos longilíneos e amplificados pela energia big bang em fúria de formação de nova estrela.

Por outro lado, expele felicidade natural, preenche a cena com sua grandeza de falas quase de alguém que está reaprendendo a ouvir. O quarto cavaleiro da apologia de musicais ao #FAMA#emtemporeal, sola sua identidade feliz e tem seus 60 minutos de fama, junto com os colegas de palco,

Se houver uma alusão à memória de Lennie Dale, ou ao movimento de afirmação cultural pela dança e teatro musical dos Dzi Croquettes (contracultura, realidade, ruptura ideológica e transformação social dos anos 70 carioca, pela ironia e inteligência de confronto realizados pelos atores/bailarinos daquela geração política), ela aparece na persona de Robert Rodriguez em #FAMA#emtemporeal.

O coletivo que dança no espetáculo, não dança feio nem quando está nas coxias. Devem a si mesmos o talento demonstrado e o vigor de bem dançar quando falam pelas siglas e signos do corpo que expressa linguagem.

Em tempo real não perdem a prosa, nem a linguística do que se propõem enquanto dançam.

Evoé, Chica, Jeciane, José Carlos e Robert!

fotos/imagem: (josé carlos santos/  m. nascimento//

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