Corpo caído, corpo recolhido
por maneco nascimento
Da madrugada agitada ao dia seguinte, o velhinho amanheceu
morto. Quando o parente foi dar uma olhada no pai, encontrou-o serenamente
descansado. Frio, em passagem concluída de última viagem.
O homem gordo se agitou. Andou pra lá e pra cá. Resmungou
palavras exasperadas, chamou a mulher. Confirmada a morte do velhinho, chamaram
o serviço de recolha de mortos.
O rabecão chegou e, nesse momento, alguns
vizinhos mais de perto já registravam o momento. Os operários do serviço
público do IML trataram logo de dar encaminhamento ao defunto. Na hora de
recolher o morto, o filho chegou com as mãos vestidas em sacos plásticos. Um
enfermeiro, da vizinhança do lado, se adiantou e ajudou os homens a resgatarem o
corpo da rede em que o senhorzinho havia morrido.
Estava tranqüilo, rosto sereno. Fora colocado no caixão, sem
tampa, preto (popular padiola do necrotério), e levado aos tramites forenses legais do
serviço de investigação causa mostis. Fora a agitação do parente, que parecia
realizar uma dancinha de vai e volta e mover os braços, assincrônicos, e a
repetir que encontrara o pai morto, de manhã, lá pelas nove horas, mais ninguém
parecia prestar muita atenção ao assunto, já monocórdio do filho em insistência
atoleimada. Ninguém queria estender conversa. Os burburinhos de curiosos e
mexeriqueiros já corriam mesmo no paralelo.
Coda - Recolhido o corpo do morto, seguiu rumo. Aos poucos,
os que acorreram ao acontecimento, começaram a deixar a casa do defunto. A novidade
já perdera a novidade. Os mais afoitos do disse-me-disse ainda tentavam tirar,
ou criar espécie, mas já estava claro. O velho morrera, aparentemente, de morte
natural. Era caso encerrado.
(corpo caído, corpo recolhido. m. nascimento/17.01. 2016 às 15h11)
(corpo caído, corpo recolhido. m. nascimento/17.01. 2016 às 15h11)
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