teatro goiano
por maneco nascimento
por maneco nascimento
A
Companhia de Teatro Nu Escuro, de Goiânia, no Goiás, girou a cena na trama, tecida, pelas histórias da menina Maria. As memórias de vozes sociais se vão enredando no novelo das recordações de uma família rural e suas peculiaridades campesinas, de avó, irmãos, mãe, quermesses, roça, casamento, sonhos e migração à cidade, onde os desdobramentos da vida ganham sabores + amargos para a família da menina e, com a volta dos parentes da adolescente para o campo, ela fica a mercê de favores da "madrinha" e de outros estranhos, por onde a personagem narradora da própria sorte andeja até libertar-se do destino que lhe impunham.
A apresentação aconteceu na tarde do dia 02 de outubro, às 15 horas, no palco do Theatro 4 de Setembro para um público atento às histórias de "Plural".
(o espetáculo é Gira/foto Layza Vasconcelos)
Da infância na roça ao outro mundo da cidade grande, um salto dos encantos e cotidiano simples e alegre ao rugir de trabalho infantil, medos, ameaças de vida e violências nas periferias e franjas sociais, coragem e redenção da personagem, quando emparedada pelo assédio sexual sofrido. Drama e poesia, trágico e humor licenciados na dramaturgia construída para "Plural", com direção de Izabela Nascente.
Dramaturgia (Abílio Carrascal, Hélio Froes e Izabela Nascente ) inspirada nas histórias reais das mães
dos integrantes da Cia. de Teatro Nu Escuro, aplica à peça um perolado de alegria, festa, memórias revisitadas e feito obra de arte em que todo o universo conspirador traduz qualidade técnica, estética, plástica e um redondo dramático do elenco afiado por Abílio Carrascal, Adriana Brito e Eliana Santos.
(elenco "Plural", é afiado/foto Layza Vasconcelos)
A concepção de bonecos, cenografia e figurinos (Izabela Nascente) não só enchem os olhos da recepção, como enleia à medida que se vai desenrolando a narrativa.
Cenografia de 4 stands pendidos do céu do teatro ao nível do palco, delimitam espaço da cena e, à forma de quatro largas persianas, sobrepostas por mandalas de diversos tamanhos e tipificadas com rendas, dão margem a discos de memórias dispostas em gavetas circulares, por onde passam narrativas projetadas, projeção mapeada (Lina Lopes), da(s) história(s) fantásticas ou cotidianas narradas, pelas personagens memoriais à trama da personagem Maria.
Também amplia a cenografia 2 balcões horizontais e um vertical às vezes de ambiente doméstico dos bonecos (casa, cozinha, quarto, roça, praça de quermesse e tenda de marionetes) que funcionam a uma dinâmica super eficaz de mostrar e esconder os bonecos animados. Estes na escala variável de manipulação direta, pelas costas e cabeça e por fios e pendidos de cordas em carrosséis de alegres títeres.
Os figurinos sóbrios e temáticos de tessitura popular emblematizam a plástica dramática e mantêm em forma estética a fórmula de vestir bem os atores, narradores, personagens na aplicação da alegria e festa que todo o des (enredo) de Maria traduz à dramaturgia conspirada.
A pesquisa visual (Rô Cerqueira) em soma da identidade visual (Marcos Lotufo) elementam pesquisa e delicadezas estéticas, cosidas na plástica interativa e em sinergia de todo o corpo do tecido tramado das voltas e reviravoltas da roda vida revirada, em regurgito das memórias. Grafam estilo e cartografam belos efeitos.
As músicas cantadas pelos intérpretes/narradores são grande refresco de felicidade e encontram eco de total entrega do elenco, em supervalor musical. A trilha e preparação musical (Abílio Carrascal) complementam o desempenho que vem se achegando no drama dos dias de Marias. A musicalidade do espetáculo interage e encanta, imediatamente, a recepção e novela em canções de atenção às festas e memórias de cunho popular, que gradam maior efeito, enquanto embricada na história.
A dramaturgia de cena, que envolve aptidões de ator (Abílio Carrascal) e atrizes (Adriana Brito e Eliana Santos), em dinâmicas do diverso de manipulação de bonecos, e incursões, por vezes, pelas vozes dos narradores e, por outras, pelas das personagens, consegue equilibrar tempo hábil de encenação, em tranquila passagem pela narrativa, sem atropelar o enredo e manter sempre quente toda a história. Está na história porque sabe contar e conta bem a história, porque sabe dedilhar o planejado.
A troca de cenas e de ocupação de espaços dramáticos incorrem num pragmatismo assaz e audaz e prende a assistência em todo o novelo tramado. Bonecos animados e feitos à vida, por manipulação variada e de uma delicadeza orgulhosa para quem vê, como o deve ser para quem os manipula.
Dos bonecos confeccionados, por Izabela Nascente, Marcos Lotufo, Marcos Marron, Rô Cerqueira e Cia. Nu Escuro, esses animados preenchem valores culturais de memórias afetivas, que vão desde as fantasias infantis ao cotidiano doméstico rural e urbano e trazem humanidade refletida no discurso e nas vozes sociais à força e beleza da vida contada.
Os vídeos projetados, a cargo da direção de vídeo (Rô Cerqueira e Lázaro Tuim) são uma sutileza e reforço técnico, em estéticos recortados nas mandalas, que trazem uma qualidade muito legal ao espetáculo. A cena em que as mulheres tecem o algodão e, simultaneamente, há uma projeção a feitos de bonecos de sombra, é luxo.
Como a peça rememora histórias e memórias reais ou imaginárias, a cena de fiar, no teatro de sombra de recorte animado, reporta ao curta-metragem brasileiro "A velha a fiar", de 1964, dirigido por Humberto Mauro, com música popular homônima cantada pelo Trio Irakitan. Aliás as projeções sobre mandalas, de animações recortadas a efeito de teatro de sombra, é de uma beleza à parte.
Completam o corpo coletivo que fala de arte arbitrada, a ótimos resultados, a assistência de direção (Lázaro Tuim); operação de luz (Rodrigo Assis); direção de produção (Hélio Froes e Lázaro Tuim) e fotografias (Layza Vasconcelos).
"Plural" plurariza arte, beleza, ciência e teatro, cultura e mergulho no que há de + estrito à história humana, as memórias revigoradas. Belo espetáculo. Um libelo de dramaturgia livre e assertivada na arte de alegrar, entreter, à práxis da persuasão da recepção, em artifício do fingimento. Sabe o caminho dos palcos.
"Plural" circulou por Teresina pelo Palco Giratório. É Gira. Girou cultura.
Bônus informativo:
Além do espetáculo, a diretora da Companhia de Teatro
goiano, Izabela Nascente, ministra a oficina “Construção de Bonecas na estética
abayomi". A oficina acontece neste sábado (3), de 14h às 20h, na Casa da Cultura de Teresina. As inscrições foram gratuitas. Os participantes da oficina aprenderão a construir bonecos manipuláveis com a estética das bonecas Abayomi. O objetivo é juntar a técnica de amarração das Abayomis em estrutura de bonecos de manipulação direta para balcão.
Companhia de Teatro Nu Escuro (GO)
A Cia. de Teatro Nu Escuro foi fundada em 1996. Montou 14 espetáculos, seis deles compõem o atual repertório da Companhia. O trabalho contínuo, os investimentos em novas linguagens e a cumplicidade, com o público, vêm rendendo importantes frutos. Seus trabalhos foram selecionados para o Prêmio Funarte de Artes na Rua e para o Prêmio Funarte de Teatro Myriam Muniz. A Companhia recebeu a Medalha de Mérito Cultural do Estado de Goiás.
A Cia. de Teatro Nu Escuro foi fundada em 1996. Montou 14 espetáculos, seis deles compõem o atual repertório da Companhia. O trabalho contínuo, os investimentos em novas linguagens e a cumplicidade, com o público, vêm rendendo importantes frutos. Seus trabalhos foram selecionados para o Prêmio Funarte de Artes na Rua e para o Prêmio Funarte de Teatro Myriam Muniz. A Companhia recebeu a Medalha de Mérito Cultural do Estado de Goiás.
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