sábado, 10 de outubro de 2015

"Divino"!

Dança teatro e cultura popular
por maneco nascimento

O palco do Espaço Cultural "Osório Jr." recebeu, nesta sexta feira, 09, um anjo decaído que reaprendeu a andar, dançar e, de posse de novas asas, renascidas, voltou a "voar" em cena aberta, para licenças poéticas e proféticas dos benditos oralizados por cantoras populares, as caixeiras das festas do Divino Espírito Santo.

O espetáculo de dança teatro "Divino" é uma montagem do Grupo Núcleo Atmosfera de Teatro - Nua, de São Luís do Maranhão, que por aqui circulou com lição expressionista de teatro, dança, dança nova, dramaturgia elastecida por atmosfera dramática de corpo que decai, levanta, fala nos silêncios das marcas enredadas.


A partir das 19 horas, o público conferiu um desenho de cultura popular religiosa manifestada, em intertextual de dramático de cena e uma partitura de intérprete criador, em solo de dança contemporânea, à divindade reaprendendo a arte de voltar aos seus, o céu da felicidade santa arbitrada à expectativa de mortais.

No palco de "Divino", um oratório em tamanho semi natural, abrigador da alcova do anjo, ou da coroa do Divino. + ao espaço de cena, um círculo (mandala de napa) amarelo prateado onde o anjo (Leônidas Portela) reaprende a andar e uma barra de pole dance, em que a divindade planta bananeira, já bem ao quase final do espetáculo.

Espetáculo à parte são as cantadeiras dos benditos do Divino. As caixeiras Marina Correia, dona Maria das Graças (Gracinha) e dona Roxa coadjuvam o intérprete criador (Portela) e ampliam a dramaticidade, enquanto fazem as vezes de cantoras/carpideiras e narradoras (coro de vozes) sociais às falas do povo bendito, oralizando razão de fé e sensibilidade cultural dos tempos imemoriais de extensão religiosa.

"Divino" evolui, numa licença de recepção, a queda do anjo que, no círculo da nova vida a ser assumida, desce do oratório e arrasta-se até à mandala, num aprendizado de equilíbrio e reconstrução das asas que o faz senhor do próprio destino recuperado.
(o anjo em evolução/fotos disp. móvel m. nascimento)

Do anjo homem ao homem anjo, a personagem vai evoluindo e, numa mudança de pele, um banho de ouro prepara-o ao tempo de alçar-se a verve das divindades. Ao recuperar as asas, Ele transita entre a plateia a poder-se misturar com os mortais e dividir sua benção, anunciada pelas cantadeiras que preparam, durante todo o espetáculo, a chegada do anjo e também definem a hora de sua partida.

Um rico melódico sincopado cifra o movimento do ator e bailarino, na partitura musical do espetáculo. A batida na caixa de som, o ritmado ao som das vozes sincronizadas, aos benditos cantados, enleiam as memórias afetivas da plateia e afetam sensivelmente ouvidos, em sinergia sonora das mensagens vocalizadas nas narrativas dramáticas apresentadas.

"Divino", na estética de palco e dramaturgia de dança teatro, abre uma comunicação entre o céu e a terra e compõe antropologias visitadas, arqueologia cultural de prospecção imaterial espelhada nas manifestações da festa do Divino, em São Luís do Maranhão, e reverbera sociologia de afinação cultural do berço de tradições revistas e rupturas premeditadas à execução da arte na cena dançada.

 ( o anjo no casulo/fotos disp. móvel m. nascimento)

É de divino estado de aplicação artística à simetria de assimétricos da dança nova e repercute intransitividade equilibrada aos mapas de dança teatro de "Divino".

São Luís, do Maranhão, gerou arte popular materializada e girou cultura de preservação de memória.

"Divino"!

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