por maneco nascimento
Vejo ruído. Com que frequência? Em todo o tempo de instalação da Exposição [[ruido]], do publicitário, fotógrafo, escritor, poeta e licenciador de outros olhares a reboque do contumaz enxergar de vistas viciadas, André Gonçalves.
A Exposição ficou em cartaz, à exploração pública, de 10 de setembro a 10 de outubro, na Casa da Cultura de Teresina e foi um libelo de assomo de visitação.
Escolas, curiosos, transeuntes, turistas, artistas e afins da cultura provocativa e instigadora passaram pela CCT para dar uma olhadinha no que provocou tanto [[ruido]].
A Instalação, entre conceitual e dialética de expressão aberta, às recepções diversas e adversas de ver, sentir, olhar, enxergar, ou passar batido ao sinal contemporâneo de fumaça, sem o didatismo das antropologias acadêmicas, cumpriu bem seu papel de ser e estar novidade como A flor que nasce no tédio, rompe o ócio, para nunca esquecer um bom poeta.
[[ruido]] ocupou dois ambientes de exposições da CCT. A Galeria Lucílio Albuquerque, em forma de "l", da entrada paralela, segundo pavimento, seguindo de sul a norte, e a quebra ao oeste, direita de quem entra, como perna do "l".
No corpo do "l" se é recepcionado por um painel móbile, em "pastiche" de arte urbana spray auto relevada por camadas de vermelho sobre vermelho e, na mensagem grafada, em caixa alta, "No amor eu sei voar! Alcindo é massa Eu sou unicor". Ao lado, esquerdo, completa a instalação, a bacia inox (sobre módulo vertical branco), com apetrechos de laborar as texturas do painel (spray, lixas de disco, lixas de folha, pregos, flanela, martelo, etc.).
(móbile "pastiche" arte urbana/fotos: disp. móvel m. nascimento)
Seguindo a mão, à frente, um pequeno tamborete, silencioso e só. O puf (poltrona) de centro de sala, feito boia d'água, espalha-se ao chão. Um segundo puf deixado à sala, mal arrumado e, pasmem, no dia em que visitei a Exposição, sábado dia 10, havia um gato (em participação especial) que dormia o sono da tranquilidade, ao lado do objeto estábile, em Galeria de Exposição.
(um hóspede a + [[ruído]]/fotos: disp. móvel m. nascimento)
Um retroprojetor sobre módulo branco vertical; um puf branco, à frente do módulo, e ao chão um microssistem (sonzinho), acompanhado com dispositivo de fone de ouvido. Na parede, lado esquerdo da Lucílio Albuquerque, cinco reproduções de telas, em desfoque, de grandes obras pictóricas universais. No esforço de requerer a "originalidade" das telas, duas identificações me sobraram à hora, talvez "A Estudante", de Anita Malfatti, e "Monalisa", de Da Vinci.
(olhares de recepção em desfoque/fotos: disp. móvel m. nascimento)
Ícones em desfoque. O que gira foco, quem gera foco, o que será desfocado para foco de interesse?
Desfoque, enfoque, memórias perdidas, achadas, identificação das lembranças, das caixinhas de memórias de pequena, média e longa distância, parecem nos aplicar em provocativo ao esforço de resgate de repertório e ou de identidades que passam pelo tempo de registros de memórias. Qual é o foco em detrimento do desfoque?
Os ruídos se espalham pelo tempo da Sala de Exposição. Na perna da Galeria, do "l" da Sala, um caminho de distância e aproximação. O caos em pedras brancas foscas e estilhaços de vidro, espelhados se misturam aos recortes, rasurados, jornais que se espremem e se esquecem ao fundo e canto da parede da Sala.
Ruídos sim. Comunicação, também para Palo Alto, é a de que é impossível não comunicar. Para [[ruído]], não há como não comunicar. No [[ruído]] a boa comunicação que instiga, inspira e puxa o receptor para interagir com a obra exposta, estar dentro, estar fora. Ser parte da obra, está na obra que provoca atenção e interesse em ver-se também objeto de exposição.
Além da ocupação da Lucílio Albuquerque, uma Sala anexa, à esquerda, foi reservada à instalação de papéis cortados, restos e sobras de memórias rasuradas (fotos, retratos, papéis, etc.) dentro de bacias inox, recortadas por luzes, delicadas, decróicas. Pequenos tamboretes, em madeira aparente de cor natural, também estão à composição de núcleo de reservas dos pedaços de memórias aparadas em vasilhas.
A este estilo de aproximação provocativa a quem passa pela Sala e ouve as inquirições, que saem das caixinhas de som dispostas em pontos estratégicos, detive a ousadia de denominar de "Quarto de Memória".
(guardados em vasilhas/fotos: disp. móvel m. nascimento)
As vozes, em perguntas que não querem calar, puxam pela escuta de visitantes, enquanto moto continuo interrogam acerca de história, acontecimento, esquecimento, lembrança, "esquecimento no esquecimento, quanto cabe? Imagem cabe na imagem partida?
Memórias se entrecruzam, suscitação de imagens, textos reflexivos, perguntas, um Bolero de Ravel suaviza os choques de atenções que mesclam-se com outras comunicações, comentários, audições radiofônicas e ou de outros suportes midiáticos que povoam o ambiente da Sala de memórias trazidas à audição pública.
Leve, tranquila, nada agressiva, consoante de atrair e trazer para dentro das memórias prospectadas, a comunicação "sem ruídos" que se instala no "Quarto de Memória". Sinergia comunicacional, sinestesia que paira pelo esforço natural de dedicar ouvidos e consentir em estar dentro do turbilhão provocativo, no mergulho das memórias que podem estar em fuga do hábito de preservar memórias comuns, do cotidiano de ser identidade e sociologias de preservação de pertencimento.
É uma Sala para chegar, sentar e envolver-se no redemoinho de inquirições que provoquem uma pausa para pensar no eu contido no outro, no isto e aquilo que compõem a natureza das coisas, das gentes, das vidas que, às vezes, passam pela janela e, Carolina já perdeu, há muito, o hábito de ver.
Eu vejo [[ruído]]. Com que frequência? Em todo o tempo da Exposição [ruído 2015] André Gonçalves. Reverbera, em percurso da atmosfera de atração do objeto visto e seguindo em expansão universo adentro de minha particular recepção, numa rotação em que possa digerir as informações, fluxos comunicativos e estéticos plásticos para arte de reinvenção da arte inquietante.
Eu vejo [[ruído]]!
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