um adolescente de 30 anos
por maneco nascimento
O ator, diretor de teatro e um dos fundadores do Grupo Humanitas de Teatro (Timon - Ma) fez, recentemente, sua inscrição na galeria de aspirantes a escritores.
No último dia 5 de agosto, também em noite de estreia de espetáculo de teatro, o artista lançou o livro "Quando o amor é assim e não assado". Obras homônimas tiveram sua hora de acontecer. Primeiro a cena de palco, depois a de lançamento e autógrafos.
"Quando o amor é assim e não assado", o livro, apresenta um Júnior Marks na experiência de reunir coesão e coerência no tratado literário e despender persuasão entre o criativo, o comum e o zelo em assertivar ação que atraia a atenção de leitores.
Uma peça para leitores curiosos e afins de reconhecer, ou até reconhecer-se, nas memórias afetivas e diário adolescente do + novo autor lançado à cova dos anciões das letras competitivas.
Algumas escolhas de arte visual e diagramação recolhem caráter de acuidade com o trabalho final do livro. Lançado pela Editora Lego, a Capa, criada por Luciana Dantas, traduz um muro em "preto" que reúne matizes de cinza, amarelos, azuis, verdes, vermelhos, róseos pinks, lilás et all. Um arco íris dialetiza um rosto que parece nadar do muro para a liberdade, emergindo de um lago de cores a quase expressionismos de pintura abstrata.
Ainda na composição da Capa, os baldes de tintas abertos e usados, um andaime de madeira, pincel e rolo pincel largados ao chão tablado. Uma analogia, possível, de um fundo para palco em estreia da cor que salta do muro da cena à vida.
"Palco" e muro em tom cinza, parede de fundo às cores evidenciadas. No centro da Capa (muro) uma tarja em gradação do roxo ao rosa pink em que surge o título da obra, em letras no branco: Quando o amor é assim e não assado, na escritura de letra cursiva.
Na Contracapa, quatro variações de mesma foto do autor, em semi perfil, com gradações de cor do verde, amarelo, azul e lilás. De óculos rayban escuros, numa performance idealizada de galã para a tela de cinema, ou + atualizado, o "selfie" nosso de cada insigth.
(foto da capa/image face Junior Marks)
No miolo que sanduícha a arte visual de apresentação do livro, papel couchê, letras graúdas em vermelho ocre e ilustrações, capítulo a capítulo, que referenciem algum destaque do texto a cada conciso capítulo.
O formato do livro, a quase um paradidático de aproximação a universo infantil, autoriza uma ilustração simples, mas representativa, de Marcelly Oliveira. As personagens ilustradas, a partir da página 9, não têm rosto e vão ganhá-lo a partir da página 26, para perdê-lo novamente lá pela página 50, quando a personagem narradora vai afunilando a consumação da relação homoafetiva, com o melhor amigo, por quem sempre nutriu uma paixão.
Talvez, no inconsciente criativo da ilustradora, as personagens vão numa crescente de identidades em formação e, no ápice do assunto + alvejado pela personagem central da trama, o rosto volta a desparecer para "sublimar" a realidade distante do mundo real, das expectativas contextuais do tempo e hora de felicidade, da personagem narradora.
A personagem de 30 anos revira seu passado e abre seu diário de afeições e amizades escolares da infância/adolescência e o cunho de comportar a maturidade, experimentada pelo sexo e confirmação da paixão que deixa de ser platônica, para caracterizar-se correspondida pela confissão do amigo Hiago, que também sempre se sentiu atraído por Neto, que negava e denunciava a primeira paixão incondicional.
Marks tem um humor peculiar de suas próprias falas contumazes, do dia a dia e encontros com colegas de profissão, e apreende essa característica de oralidade à sua escritura literária. Os capítulos não têm ordem cronológico-temporal regular e se estabelecem em idas e voltas, numa montagem do quebra cabeça e desvendar dos meandros e trilhas do território do minotauro.
Na busca da saída a sua própria Ariadne, o labirinto se apresenta de forma inteligente, na conquista da liberdade do novo autor, em concatenação da vida da personagem construída para revelar sua própria saga de ver O Pássaro Azul.
Bom humor, sem apelo fácil. As "Onomatopeias sempre são providenciais..." que retornam em algumas situações, realizam boas rotas de fuga, da personagem, no adiamento de decisões e fechamento de entendimento de dramas transformados em tempo de riso.
As falas repetidas, ecos da informação redundada, também ganham sabor diferencial do estilo do autor. Sejam para designar o silêncio "dos grilos", exaspero da paixão ou as + diversas circunstâncias de reforço da história contada, as repetições gracejam a narrativa e definem marcação conversacional que elaboram humor e leveza ao narrado.
As descrições das personagens e pragmatismo do assunto também tornam a leitura fácil, de atraente interesse e, mesmo no misto de pequenas vaidades e ingenuidade (in)conscientes, sejam da personagem/autor ou do autor/personagem, o livro cumpre seu papel de aproximar identidade e identificação com o exposto e expia tema não + de tabu ofensivo, nem de qualquer estranhamento maior.
Para quem não absorva muito bem a adversidade e novos discursos em tempos de novas sociedades, talvez "Quando o amor é assim e não assado" seja um viés de ver o mundo fora dos paradigmas e eixos de velhas certezas, verdades absolutas e descuido do espaço do outro.
Reflete o homem em seu tempo de escolhas e confirmação de orientação de sexo, profissão, discurso social e reforço das falas coletivas de inclusão e determinantes do próprio nome.
"Quando o amor é assim e não assado", que traz no corpo de contributo literário o editor Roger Ribeiro; Revisão de, Vitorino Rodrigues e Projeto Gráfico, de Luciano Brandão, está entre as leituras locais recomendáveis.
(o mundo de Marks/image face J. Marks)
É pegar pra ler. Ver pra crer e tirar a melhor da recepção, a própria.
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