Belo Aborrecido
por maneco nascimento
A noite do dia 5 de agosto deu à Teresina + uma estreia de espetáculo. Desta feita, uma montagem que reuniu a dramaturgia de cena e direção de Luciano Brandão e a adaptação de texto ao palco e interpretação de Júnior Marks.
Numa realização do Grupo Humanitas de Teatro e produção executiva da Caju Produções, "O Amor é Assim e não Assado", a peça, cumpriu seu rito de passagem ao tempo de dar prática ao aprender a aprender à hora do pega pra capar.
A cenografia, de Wallancy Nunes, praticáveis coloridos encaixáveis à formação de novas formas no jogo de desmonte da narrativa apresentada. Do teto pendem varetas gigantes em dialética às vezes das varetinhas jogadas, na área de margem do proscênio, quando se dá + um início de espetáculo. A medida que a cena é composta, os praticáveis vão se acomodando ao desenho dramatúrgico.
Da mochila da personagem, Neto, são retirados adereços que contrarregram em complementação cenográfica. Um teclado de computador, branco; uma tolha de banho, branca; duas sacolas de papel com marca de grife de butique, marrons; um boné, branco, desdobrado e dobrado, depois de usado, como a exemplo de dobradura asiática; um telefone de fio, de teclas, branco e outros elementos que são sacados da mochila, à medida da exigência do enredo, um livro, outro livro e um programa de peça de teatro nacional, com foto do elenco, que circulou pela história da personagem.
(registro de celular, de Marcelly Oliveira)
A iluminação, Wallancy Nunes, marca os tempos de marcas do cenário móvel e das idas e vindas idiossincráticas da personagem, enquanto vai e vem no tempo assimétrico da narrativa. A sonoplastia, Luciano Brandão, vai desenhando a envergadura do sentimento passional que não encontra na personagem construída, por Júnior Marks, correspondência ou sintonia que decodifique ouvido de intérprete aos reclamos da trilha.
Esta que vai preenchendo a ação naturalista e de (des)pretensioso exercício do ator ao método sem Brecht, nem Grotowski, nem Stanislavski. Só há o intéprete em ação de queda livre sem, ao menos, as asas de Ícaro.
O texto adaptado do livro, Quando o Amor é Assim e não Assado, está na carpintaria teatral, com força dramática e intenções inteligentes. A composição textual soa bem, garante uma boa oralidade e até se compreende as inflexões, mesmo que venham com uma (des)carga de pouco esforço. Não há ruídos comprometedores, há comunicação truncada ou desligada da construção da personagem + contundente, expressiva e com sangue no olho, sem cair no lugar comum da caricatura.
Têm, as falas dramáticas, um apelo natural do texto irônico, mas que desusam o bom humor contido, nas linhas e entrelinhas, e caem na hibridez do despejar, sem saborear o tempo das palavras, nem construções frasais que costurariam melhor a compreensão do amor que sendo assim e não assado, assaz perde seu tempo no ar de um "noir", sem requinte de cinema com seus silêncios, economias, tempos de esperar e de enfurecer do vazio ao preenchimento da fúria em furacão mudo.
As falas repetidas a ecos, ou redundâncias que acionem vozes marcadoras conversacionais de ratificação do discurso, mereceriam um desfribilamento do coração da paixão distanciada à cena, com efeitos de nuances eletrocardiogramáticas que definam variação sobre o mesmo tema. Ouvir + à própria voz, talvez reverbere melhor recepção e estética de vigor dramático da personagem, defendido por Marks, na prática do ator.
Há um desenho dramatúrgico, de Brandão, que define imagem e signos da desconstrução da personagem e que emblematiza o monta e desmonte da natureza questionada e expiada do homem-adolescente-homem que se traduz às vezes de Marks. O coloquiaslismo imprimido por Marks enfraquece sua própria atuação.
Por vezes, com toda liberdade de compreensão da licença poética, ao rito de aproximação do método do distanciamento, o que parece retornar à onda que cai e volta a se levantar é que há pouca influência das marés e as fases lunares de Marks horizontalizaram o matiz da diversidade da cor dramática.
O diário do belo aborrecido não corresponde às inscrições impressas nos praticáveis, nem na poesia que poderia apontar para a quebra do comum e apresentar a simplicidade, sem perder a correspondência da carta lida ao amor de adolescência.
Romper o paradigma, sem perder a tradição, acreditar no brinquedo do fingimento e convencer para reiterar a arte de fingir no eu ao outro que espera a ponte que liga o artista a seu público. A despretensão do resultado de "Quando o Amor é Assim e não Assado", a peça, causa estranhamento. Logo, gera conflito e sem conflito não há teatro.
Teatro pronto é teatro morto. A construção da personagem, dos construtores da cena, está em processo paulofreireano, aprender a aprender a lição que "sabemos de cor, só nos resta aprender", repetindo o exercício do exercício.
Teatro peterbrookiano vive, em Luciano e Marks, mesmo quando não parto, ou que fique, talvez exija maior pragmatismo, pelas mãos forcepsianas, que renda partitura intérprete criativa e ato criador de deuses sapientes de pés de barro.
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