por maneco nascimento
Uma palco com bambolinas brancas (cortinas de fugas às coxias) amarradas, quatro em cada lado da cena, cintiladas pelas cores da iluminação. Um tecladista/back vocal, centro à esquerda, e um baixista/back vocal, centro à direita.
Na direita palco, médio frente, uma poltrona colonial, em couro branco, sobre um tapete felpudo variável do branco gelo e uma mesinha, lado esquerdo da poltrona, com toalha estampada em marrom, cobrindo-a até o chão. Sobre a mesa um vaso de flores brancas.
(Joanna em luz, músicos e cenário/foto Antoniel Ribeiro)
Nesse cenário se espalha a voz e presença assentada de Joanna, a brasileira, que revela-se "Sou das canções/Antes de mim e de você/Tem essa voz/Antes de perguntar por que/Lembre de nós (...) E diz: -É mesmo assim/Quem sabe alguém, amor/Sem essa chama na garganta/Possa te acompanhar/Enquanto eu vivo e sigo/Com o coração/A alegria de cantar", e solta a chama na garganta porque é "Chama" (Geraldo Amaral/Aristides Guimarães) da canção.
(Essa Chama na garganta em alegria de cantar/divulgação)
Joanna abriu seu cancioneiro popular, em entrada no Projeto Seis & Meia, dessa quinta feira, 31 de julho, a partir das 20 horas, no Theatro 4 de Setembro, para show acústico-elétrico de um pouco + de duas horas, com "Eu apenas queria que você soubesse" (Gonzaguinha) e encheu a plateia de vitalidade e voz inconfundível da cantora que começou, também, como todo artista que sabe aonde o povo está.
(Ela é das canções/divulgação)
Revirou seus sucessos emblemáticos e, entre tantos, deu um recado ao seu público no belo hit, de Renato Teixeira, imortalizado na voz da cantora que preencheu as paradas de rádio, "Mandei um recado/Pro meu namorado/Nos classificados de um grande jornal/Pedindo que ele um dia apareça/Antes que eu m esqueça/E melhore o astral (...)". Um ótimo "Recado" na melodia rara e sentimental brasileira.
Tantas inesquecíveis canções, lembrou do presente recebido por Milton Nascimento e "Nos Bailes da Vida" foi que "(...) muita gente boa pos os pés na profissão/De tocar um instrumento e de cantar/Não importando se quem pagou quis ouvir/Foi assim (...)", porque para a intérprete também foi assim. Não teria sido diferente a construção da própria carreira que Bituca reconheceu em si mesmo e na nova voz que surgia no país.
Na intimidade do palco e público, falou do desejo de cantar em espanhol e "Intimidad", dirigido por Armando Manzanero, veio enriquecer a noite em "Quiçás" e outras músicas de identidade linguístico melódico de terras d'Espanha.
(Joanna, a brasileira, nos territórios da canção brasileira/divulgação)
Das homenagens, disse que sempre quis cantar um poeta vivo brasileiro. Lembrou do centenário de Caymmi e de Vinícius, mas cantou Chico enquanto utilizou o cenário da sala de estar. Acomodada na poltrona luxuosa, interpretou "O Meu Amor"; "João e Maria"; "Olhos nos Olhos" e, à vontade, ainda sentada, pos os óculos e leu na folha de papel, enquanto cantou, o que chamou de uma carta em resposta ao Brasil da ditadura,
"Meu Caro Amigo", em que "A Marieta manda um beijo para os seus/Um beijo na família, na Cecília/e nas crianças/O Francisco aproveita pra/Também mandar lembranças/A todo o pessoal/Adeus".
Para trazer de volta o Gonzaguinha, contou uma história de sua estreia, aos 22 anos, em 1979, em que alguém da plateia assistiu ao seu show e, ao final foi ao camarim. Ela perguntou se a pessoa havia gostado do show. Ele respondeu que não e, em resposta à pergunta dela, que ficara em choque, ele teria dito que ela passara o show inteiro de olhos fechados e aconselhou-a que ao cantar olhasse nos olhos daqueles que a amavam. Uma das grandes lições aprendidas em sua iniciação de show biz.
Do grande Gonzaguinha dourou "Guerreiro Menino", emblemática melodia gonzaguiniana de "(...) Um homem se humilha/Se castram seu sonho/Seu sonho é sua vida/E a vida é o trabalho/E sem o seu trabalho/Um homem não tem honra/E sem a sua honra/Se morre, se mata/Não dá pra ser feliz/Não dá pra ser feliz/Não dá pra ser feliz/Não dá pra ser feliz" e, também "(...) Chega de temer, chorar, sofrer, sorrir, se dar/e se perder e se achar e tudo aquilo que é viver (...) Nascendo, rompendo, rasgando, tomando, meu corpo e então eu/Chorando, sofrendo, gostando, adorando, gritando/Feito louca, alucinada e criança/Sentido meu amor se derramando/Não dá mais pra segurar (...)" (Explode Coração).
"Fascinação" também marcou a sua presença e soou, aos bons ouvintes da MPB, lembrança e homenagem a Elis Regina.
Foram as duas horas + desejadas que não se findassem. Desse prazer musical, no Projeto Seis & Meia, Joanna foi classe, talento, carisma, respeito ao público e domínio centrado em show declarado à Teresina. "Eu precisava do carinho de vocês", confessou a artista.
(A chuva de azuis em Joanna, no Seis & Meia/foto Antoniel Ribeiro)
O Projeto retornou à Casa, depois de duas versões realizadas na Galeria do Clube dos Diários, enquanto o Theatro sofria reformas necessárias e urgentes a devolver o local a seu público e artistas desejosos de ocupação. Na Galeria, o furacão Wanderleia, a eterna Ternurinha, e Fafá de Belém, a Bela do Norte.
No 4 de Setembro, Joanna, a estela maris despontada nas vagas do mar da canção brasileira e deixando sinais de tempo de sempre existir como memória do cancioneiro nacional da velha e indispensável música popular brasileira. Show a manter na memória dos borderôs do Seis & Meia.
(O grande público de Joanna/foto Antoniel Ribeiro)
No show bis, Joanna, a brasileira, retornou para não deixar de fora a memória em Roberto Carlos, "Eu Quero Apenas" (Erasmo Carlos/Roberto Carlos) e desceu pra galeria dos iguais e envolveu-se em abraços, carinhos, selfies e presença inteira para seu público, enquanto repercutia "Venha comigo olhar os campos/Cante comigo também meu/canto/Eu só não quero cantar/sozinho/Eu quero coro de/ passarinhos/Quero levar o meu canto/amigo/A qualquer amigo que/precisar/Eu quero ter um milhão de/amigos/E bem mais forte poder/cantar/Eu quero ter um milhão de/amigos//E bem mais forte poder/cantar (...)".
Em canto, a doce presença de Joanna, cantou a muitos, feitos milhões, corações de fãs, saudosos, (in)fiéis e curiosos que super lotaram a sessão única do Seis & Meia, que ainda contou, na abertura, com o charme e voz aveludada a swings, jazz, souls e blues e clássicos MPB e pop e Porter e Gershwin e rara beleza da canção de qualquer estação.
(Rubens Lima abriu show da cantora Joanna/divulgação)
Ninguém precisa viver, sem sentir que arte e cultura se expressam também pela música, voz e melodias e composições da nossa seara resistente, do lado de cá do equador, chamada de Música Popular Brasileira.
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