segunda-feira, 15 de abril de 2013

Achados e achados


Achados e achados
por maneco nascimento

O Teatro Careta exportou, de Caxias para Teresina, nesse último domingo, 14, às 19 horas, e apresentou no palco do Complexo Cultural do Matadouro – Teatro do Boi, uma montagem de cena experimentada para comover e despertar identificação, ou não. Eu gostei.

Jean Pessoa, colega de palco e vizinho da gente, mora aqui do lado, (Timon), montou palco, em dobradinha com Maciel Mourão, também de terras maranhenses (Caxias), e brindou a cidade verde com “Aonde Está Você Agora?”. Um exercício discursivo da amizade, de dois jovens, conservada a custo do crédito na esperança e no reencontro da felicidade entre amigos.

“Aonde Está Você Agora?”, enreda Pedro e Gabriel, dois jovens que desenvolveram uma amizade, desde que tinham 8 anos de idade, na cidade de Vila Velha/ES, e se tornam grandes amigos. Do encontro na praia, gazeteando aula, enquanto crianças, a trama evolui para novas reuniões, em diversas fases da adolescência, até que o destino os afasta, provisoriamente.

(...) Apesar do abismo social que os separa, nasce desse encontro uma amizade verdadeira que sobrevive ao tempo e ao espaço. O espetáculo relata a vida destes personagens de uma forma simples, (...) não segue uma ordem cronológica, tornado-se um quebra cabeça para o público que se vê amarrado à espera de um desfecho (...). (release do espetáculo)

Desenredo romântico. Apontado, pelo Teatro Careta, como tragicomédia, a montagem aproxima Jean Pessoa e Maciel Mourão duma iniciativa de fazer teatro. Brincar de fingir, de forma séria, e abrir brechas para que o público recepcione a ideia, como melhor lhe aprouver.

(Maciel Mourão e Jean Pessoa/foto: divulgação)

Um tempo de cena pé dentro. Um texto comum, de história comum que reúne paixão, amor fraterno entre amigos e o risco de preservar amizade, mesmo que o tempo, as distâncias e adversidades separem as personagens, que um dia planejaram manterem-se unidas pelo sentimento de não se perderem um do outro.

Enquanto crianças, um já sonhava ir para Nova Iorque, tocar sua guitarra. O outro só queria poder ter uma bicicleta amarela para umas pedaladas e dividir sua vida pequena com alguém. Este o artista pobre e aquele o “rico” ingênuo. 

O de condição socioeconômica melhor, segue seu sonho, com a família, para a capital do mundo. O amigo pobre, fica sozinho, na velha vida comum, esperando a volta do grande companheiro de travessuras, que deve retornar, depois de sete anos, conforme o combinado.

O plebeu, já órfão de pai, depois perde, também, a mãe. Acaba envolvido com drogas e cadeia. O príncipe tem sua experiência novaiorquina e retorna ao encontro marcado, em dia e local estabelecidos. Nas cobranças e abandono e saudades, os amigos se recuperam em final feliz da boa amizade, sobrevivida ao tempo.

A cenografia, duas peças de tecido (malha) estão do céu ao chão do palco, esticadas, uma de cada lado, palco meio/frente. Duas velas de jangada que ilustram a praia e transformam-se em confessionário e ou outros ambientes de licença poética. Ao fundo a luz do sol recortada, no ciclorama (fundo), como emblema das mudanças de tempo e efeito tropical praieiro.

Nesse mapa dramático de praia, escola, Nova Iorque, quarto e solidão, “central park”, uma rua qualquer, cadeia, entre outras licenças teatrais, Jean e Maciel vão contaminando o público e engendrando reflexão para texto ingênuo, mas concentrado na humanidade reflexionada. 

Maciel Mourão, com registro vocal forte e limpo desempenha bem sua personagem e mantém presença na cena. A energia do máximo, contido, no corpo que nega e afirma. Jean Pessoa também se impõe para dividir calor de ator e domínio de fingimento e contrapõe, com o colega de cena, pequenos detalhes em corpo que quer e se fecha em copas da personagem construída.

(Maciel Mourão e Jean Pessoa/foto: divulgação)

Há um diálogo que se enfrenta e se completa. Dois atores acreditando no que praticam e, no esforço do convencimento, estão na média de + acertos.

Os figurinos, bem direcionados na pesquisa da juventude que essa brisa encanta, têm funcionalidade. Codificam os signos e siglas que a dramaturgia quer esclarecer. A agilidade com que trocam de roupa, também define a boa contrarregragem, contida na energia de contar uma história.

A luz, operada por Lucas Mesquita, é eficaz e define matizes do sentimento descrito pelas personagens. A operação de som, aplicada por Felipe, contém força de aliviar, ou transcender sentimento da pesquisa garimpada para o efeito desejado. 

Jean Pessoa e Maciel Mourão, entre achados e achados, não perdem chances de vibrar emoção da trama contada. Realizam o teatro da escolha, da densidade dramática, das intenções e extensões humanas de contracenar. São suas melhores respostas ao teatro que acreditam. Fazem com que se acredite também. E fazem bem.

“Aonde Está Você Agora?”, está onde a cena pede que o teatro sobreviva. O tônus da fé dramática reverbera talento e determinação desejados. Se é para comover, comove. 

E deixa, “Aonde Está Você Agora?, aberto ao público que possa digerir, quando apreender a lição, que um homem pode amar outro homem, sem que necessariamente estejam envolvidos, com outro sentimento, que não o da amizade entre dois bons e velhos amigos.

Um comentário:

  1. ...e o público, tornado-se cúmplice desse espetáculo, já providencia um "livrinho mágico" a fim de manter-se em sintonia com ele e reencontrá-lo daqui a uns dias... quem sabe?...

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