Teatro é vida, laborada.
por maneco nascimento
Uma amiga, Janaína Alves Branco, publicou desabafo
em seu espaço de manifestação nas redes sociais. Seu suporte, o facebook. Li,
identifiquei-me e julguei importante reproduzir sua comunicação. Antes de ser
romântico, também sou humano, sensível, artista e acredito que suportamos o
tempo que se nos impinge a novas realidades.
(a piauiense, de Teresina, Janaína Alves Branco/foto: arquivo da atriz)
Há + Céu e muito Mar e toda a Terra explorada. Do Céu,
sempre esperança a muitos, em suas diversas crenças. Do Mar, de argonautas a
sonhadores, sempre fronteiras e cartografias versejadas, exploradas ou
desejadas. Mas salgado e dono de muitos mistérios e temores humanos,
enfrentados. De toda a Terra, limites de liberdades e de barreiras, embora não
seja quadrada.
Mas é dessa Terra nossa de cada dia, sob nossos pés
e sobre nossas cabeças que tiramos nossas expectativas, realizamos nossa vida e
legamos heranças e é Dela também, em qualquer fronteira, que fazemos o
que gostamos sob a responsabilidade de nossas escolhas e reiteramos buscar “(...)
a sorte de um amor tranqüilo/com sabor de fruta mordida (...)” (Cazuza), seja
fruta proibida, ou consentida. E ao escolhermos ser artistas, e das cênicas, infringimos
cotidianos óbvios e guardamos as experiências, porque da natureza tranqüila do
exercício de atuar e aprender a fingir.
Janaína Alves Branco, casada com o ator, diretor e mestre em cultura cênica, João Branco, é atriz de mancheia e colega de palco. E lá de sua Mindelo (Cabo Verde) desabafa sobre o teatro que se faz hoje, pega de suas observações e nos dá sua democrática opinião:
Janaína Alves Branco, casada com o ator, diretor e mestre em cultura cênica, João Branco, é atriz de mancheia e colega de palco. E lá de sua Mindelo (Cabo Verde) desabafa sobre o teatro que se faz hoje, pega de suas observações e nos dá sua democrática opinião:
“Teatro, a Arte do Suor
Pergunto a vocês o que é fazer teatro
hoje em dia?
Essa geração (minha também) não está
a entender bem o conceito dessa expressão "fazer teatro".
O teatro está a transformar-se
em marca, em dinheiro, em patrocínio, financiamentos, lucros, má qualidade,
desrespeito... é isso?
Eu quero um teatro que vá além do que
se vê no palco; um teatro das aventuras que unem os grupos; um teatro que faz
as pessoas sair no meio da noite nas ruas à procura de materiais para seus
cenários; um teatro feito com loucos que saem no meio de uma peça vestidos
ainda de personagens para fazer um teste na faculdade; um teatro com as mães
que amamentam suas filhas no camarim entre uma cena e outra; um teatro com os
ensaios na cova de construção de um edifício; um teatro que se apropria de
lugares que nem a policia tem coragem de ir pelo o perigo que reina ali; um
teatro que recupera, educa, forma pessoas; um teatro com as suas peças feitas
em bibliotecas no meio dos livros à luz de velas; um teatro onde as
pessoas não estavam se importando por não ter um belo auditório e que
colocam suas mochilas nas costas e vão de escola em escola apresentando os seus
espetáculos sempre com um sorriso nos lábios; um teatro que incentiva a
criatividade ao ponto de ter um palco montado em pleno mar.
Enfim, muitas outras histórias reais
como essas que sinto falta de ver as pessoas a contar e não outras histórias
como essa de que não conseguem fazer um espetáculo de qualidade por falta de
dinheiro. É muito duro ouvir isso.
O TEATRO é o lugar de transformação,
onde podemos tornar visível o invisível.... Vamos criar, vamos nos reinventar e
valorizar as pessoas que trabalham e que fizeram com que a palavra teatro
existisse nas nossas vidas, que estiveram sentados numa mesa a criar um
festival que colocou Cabo Verde no roteiro teatral mundial e que construiu um
ambiente onde a nossa arte fosse reconhecida e te é dada a possibilidade de ir
mais além do que algum dia estaríamos à espera.
Façam TEATRO, com martelos e
serrotes, com suor e lágrimas, com respeito e humildade....
Façam TEATRO nos bares, nas calçadas,
nas praças, nos alçapões, nas casas abandonadas, nas praias, nas escolas, façam
e não fiquem à espera das poltronas do único auditório da cidade...
Façam TEATRO com estudo, com
pesquisa, com conhecimento, com procura, utilizando uma ferramenta maravilhosa
que existe e (quase) ninguém utiliza, chamada Centro de Documentação e
Investigação Teatral, com a mais rica biblioteca teatral que eu já vi.
Pergunto: qual o último livro sobre teatro que leram?
Façam TEATRO, sem dinheiro mas com
qualidade....
Façam TEATRO, para ricos e para
pobres (de dinheiro e não de espírito)...
Façam TEATRO...
FAÇAMOS TEATRO...” (Janaina Alves Branco, Quinta, 21 de fevereiro
de 2013 às 16:42 ·/Mindelo [Cabo Verde])
Ótima atriz e amiga, Jana, mora com
seu marido em “Mindelo, cidade que localiza-se na ilha de São Vicente, é sede do concelho
homónimo e é a segunda maior cidade de Cabo Verde. Ocupa uma
área total de 67 km² a noroeste da ilha, na Baía do Porto Grande, porto
natural formado pela cratera submarina de um vulcão com
cerca de 4 km de diâmetro. O Ilhéu
dos Pássaros, com 82 metros de altitude e que hospeda um pequeno farol,
sinaliza a outra extremidade da cratera. Esta cidade é geminada com Mafra[1].” (www.wikipédia.com.br/acesso:
23.02.2013, 11h34)
(Ilha de São Vicente - Cabo Verde/foto: wikipédia)
Do teatro que fazemos, do teatro
que queremos, da arte que escolhemos, Merde! É de natureza humana sobreviver ao
adverso. O teatro, invenção do homem, também sobreviverá. Evoé, Baco!
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