sábado, 23 de fevereiro de 2013

Teatro é vida


Teatro é vida, laborada.
por maneco nascimento

Uma amiga, Janaína Alves Branco, publicou desabafo em seu espaço de manifestação nas redes sociais. Seu suporte, o facebook. Li, identifiquei-me e julguei importante reproduzir sua comunicação. Antes de ser romântico, também sou humano, sensível, artista e acredito que suportamos o tempo que se nos impinge a novas realidades.
(a piauiense, de Teresina, Janaína Alves Branco/foto: arquivo da atriz)

Há + Céu e muito Mar e toda a Terra explorada. Do Céu, sempre esperança a muitos, em suas diversas crenças. Do Mar, de argonautas a sonhadores, sempre fronteiras e cartografias versejadas, exploradas ou desejadas. Mas salgado e dono de muitos mistérios e temores humanos, enfrentados. De toda a Terra, limites de liberdades e de barreiras, embora não seja quadrada.

Mas é dessa Terra nossa de cada dia, sob nossos pés e sobre nossas cabeças que tiramos nossas expectativas, realizamos nossa vida e legamos heranças e é Dela também, em qualquer fronteira, que fazemos o que gostamos sob a responsabilidade de nossas escolhas e reiteramos buscar(...) a sorte de um amor tranqüilo/com sabor de fruta mordida (...)” (Cazuza), seja fruta proibida, ou consentidaE ao escolhermos ser artistas, e das cênicas, infringimos cotidianos óbvios e guardamos as experiências, porque da natureza tranqüila do exercício de atuar e aprender a fingir. 

Janaína Alves Branco, casada com o ator, diretor e mestre em cultura cênica, João Branco, é atriz de mancheia e colega de palco. E lá de sua Mindelo (Cabo Verde) desabafa sobre o teatro que se faz hoje, pega de suas observações e nos dá sua democrática opinião:
 “Teatro, a Arte do Suor

Pergunto a vocês o que é fazer teatro hoje em dia?

Essa geração (minha também) não está a entender bem o conceito dessa expressão "fazer teatro".

O teatro está a  transformar-se em marca, em dinheiro, em patrocínio, financiamentos, lucros, má qualidade, desrespeito... é isso?

Eu quero um teatro que vá além do que se vê no palco; um teatro das aventuras que unem os grupos; um teatro que faz as pessoas sair no meio da noite nas ruas à procura de materiais para seus cenários; um teatro feito com loucos que saem no meio de uma peça vestidos ainda de personagens para fazer um teste na faculdade; um teatro com as mães que amamentam suas filhas no camarim entre uma cena e outra; um teatro com os ensaios na cova de construção de um edifício; um teatro que se apropria de lugares que nem a policia tem coragem de ir pelo o perigo que reina ali; um teatro que recupera, educa, forma pessoas; um teatro com as suas peças feitas em bibliotecas no meio dos livros à luz de velas; um teatro onde as pessoas  não estavam se importando por não ter um belo auditório e que colocam suas mochilas nas costas e vão de escola em escola apresentando os seus espetáculos sempre com um sorriso nos lábios; um teatro que incentiva a criatividade ao ponto de ter um palco montado em pleno mar.

Enfim, muitas outras histórias reais como essas que sinto falta de ver as pessoas a contar e não outras histórias como essa de que não conseguem fazer um espetáculo de qualidade por falta de dinheiro.  É muito duro ouvir isso.

O TEATRO é o lugar de transformação, onde podemos tornar visível o invisível.... Vamos criar, vamos nos reinventar e valorizar as pessoas que trabalham e que fizeram com que a palavra teatro existisse nas nossas vidas, que estiveram sentados numa mesa a criar um festival que colocou Cabo Verde no roteiro teatral mundial e que construiu um ambiente onde a nossa arte fosse reconhecida e te é dada a possibilidade de ir mais além do que algum dia estaríamos à espera.

Façam TEATRO, com martelos e serrotes, com suor e lágrimas, com respeito e humildade....

Façam TEATRO nos bares, nas calçadas, nas praças, nos alçapões, nas casas abandonadas, nas praias, nas escolas, façam e não fiquem à espera das poltronas do único auditório da cidade...

Façam TEATRO com estudo, com pesquisa, com conhecimento, com procura, utilizando uma ferramenta maravilhosa que existe e (quase) ninguém utiliza, chamada Centro de Documentação e Investigação Teatral, com a mais rica biblioteca teatral que eu já vi. Pergunto: qual o último livro sobre teatro que leram?

Façam TEATRO, sem dinheiro mas com qualidade....
Façam TEATRO, para ricos e para pobres (de dinheiro e não de espírito)...
Façam TEATRO...
 FAÇAMOS TEATRO...” (Janaina Alves Branco, Quinta, 21 de fevereiro de 2013 às 16:42 ·/Mindelo [Cabo Verde])

Ótima atriz e amiga, Jana, mora com seu marido emMindelo, cidade que localiza-se na ilha de São Vicente, é sede do concelho homónimo e é a segunda maior cidade de Cabo Verde. Ocupa uma área total de 67 km² a noroeste da ilha, na Baía do Porto Grande, porto natural formado pela cratera submarina de um vulcão com cerca de 4 km de diâmetro. O Ilhéu dos Pássaros, com 82 metros de altitude e que hospeda um pequeno farol, sinaliza a outra extremidade da cratera. Esta cidade é geminada com Mafra[1].” (www.wikipédia.com.br/acesso: 23.02.2013, 11h34)
 (Ilha de São Vicente - Cabo Verde/foto: wikipédia)

Do teatro que fazemos, do teatro que queremos, da arte que escolhemos, Merde! É de natureza humana sobreviver ao adverso. O teatro, invenção do homem, também sobreviverá. Evoé, Baco!


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