por maneco nascimento
O espetáculo “Ela”, que estreou há um pouco + de três anos, com incentivos da Lei A. Tito Filho, através da Prefeitura de Teresina/Fundação Municipal de Cultura Monsenhor Chaves, assinaturas de Roteiro e Direção de João Vasconcelos e Direção Coreográfica de Valdemar Santos, voltou à cena no último dia 31 de maio de 2011, às 20 horas, no Teatro Municipal João Paulo II.
Dessa volta do estaleiro, a montagem de dança/teatro que, segundo o programa original, “transpõe em seu roteiro fases da mulher universal em que é revisitado o princípio da criação Homem/Mulher desde o nicho primevo(África – berço da humanidade) e aporta no Brasil indígena para em seguida ganhar força recortando o contexto sócio-histórico da revolução industrial (...)” é um muito imberbe espetáculo revisitado.
Natural que haja uma nova visão. Em outro momento e com substituição de bailarinos para a repaginada experiência mostrada nesse maio de 2011. Á época da estréia, ocorrida com pompas e circunstâncias, tudo foi festejado dentro da estética emblemática, bem depurada, e impacto imagético bem definido.
A dobradinha João Vasconcelos e Valdemar Santos se preservou. No elenco modificado, sobreviveu, da montagem original, Elizabeth Báttali. O novo corpo de “Ela” trouxe as novidades Cleide Fernando, muito segura e eficaz; Bruna Santos estreando profissionalmente sem deixar dúvidas de que foi uma boa escolha ao projeto.
Também compõe essa reestréia Artenildes Afoxá que, com experiência de dança mais livre e de histórico de manifestações afro-descendentes, fica muito aquém do mapa desenhado para uma técnica específica de dança/teatro que se impõe por uma neutralidade dramática econômica e segura, encontrada nas meninas com noções de dança acadêmica.
No corpo de estréia, como bailarino imposto para o projeto, está Luis do Vale. Personagem chave no contraponto dramático de “Ela”, não consegue dar sangue à arte do fingimento. Ilustra uma imagem sem tônus, nem energia da personagem masculina da dramatização e enfraquece o conjunto. Elas estão por si só. Talvez essa escolha precise ser revista, sob risco da boa experiência do passado cair no pueril.
Mas o “Ela”, de 2011, traz duas crianças que preenchem a cena com mais graciosidade que a performance de 20% do trabalho adulto. AlziraRisa e Andresa Báttali refrescam o drama, com propósito dramatúrgico. A inclusão das crianças no ambiente operário, do começo do século 20, atualiza o contexto sociopolítico e denuncia o trabalho infantil.
Os futuros são carregados de memórias confirmadoras do passado. Belchior talvez não tivesse construído memória musical tão legal, como “a felicidade é uma arma quente (...)” (“Saia do meio caminho”), caso não tivesse intertextualizado Beatles, traduzidos por Drummond, em “a felicidade é um revólver quente”. Ninguém está preso ao passado. O passado é parte carne de quem constrói futuros.
O sangue pagão verte-se também de traços divinos e o DNA das memórias é de todos os recortes temporais. Pound e Gaudí deveriam ser leitura obrigatória a quem não acredita no passado. O “Ela” do passado continua sendo a melhor referência para o que se viu nessa nova investida, trazida à cena em 31 de maio último.
O desenho dramático e estético continua fiel ao sinal iniciático quando “Ela” surgiu. A dramaturgia coreográfica também se impõe. O elenco é que precisa ser melhor depurado, porque senão “Ela” por elas desaparecerá na fogueira das vaidades estabelecidas.
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