O Grupo Teatral Eava Fênix apresentou sua melhor prática de iniciação da cena proposta, no palco do Teatro Municipal João Paulo II. A montagem vinda de Caxias, no Maranhão, “Maria, simplesmente Maria” mostrou sua força de expressão dia 28 de maio de 2011, às 19 horas.
Com texto e direção geral de Erika a. V. de Almeida, a peça desliza por crônica ligeira de cabaré society do século 19, em dias de Brasil a novas imigrações e reunião de línguas diversas, acorridas ao novíssimo mundo tropical.
Em ambiente de “rendez vouz” ao abrigo de fantasias dos barões do café e toda uma aristocracia sedenta de sexo, as vidas comezinhas de cocotes e mulheres outras traficadas para o negócio dos prazeres, é que o enredo quente cruza o destino de quatro Marias e seus amores disputados.
A construção dramatúrgica textual não peca pela ausência de informações, peca por excessos que vão caindo aos borbotões nas falas contextuais históricas das personagens apresentadas, deixando muita gordura na dramaturgia de cena. O texto de diálogos e solos de apresentação das Marias pesa por inflexões fracas, ora das protagonistas, ora dos antagonistas e coadjuvantes.
Maria Molambo, a africana, ex-escrava que exercita a própria liberdade no cabaré, não consegue ser convincente na pele da atriz que a interpreta. A coreografia de apresentação não se sustenta, nem como manifestação de ritos africanos, nem como iniciativa coreográfica produzida para o fim. A prosódia dirigida para inflexões textuais está no lugar comum. Imitações pejorativas do falar regional que se vê aplicado nas novelas de tevê.
Maria Ana, a índia traficada da selva amazônica para atender a capricho do Barão, chega sob uma construção da personagem de performance imberbe, não há muita verdade nem nas falas nem no corpo para perspectivas do universo gentio. A personagem só tem um crescimento quando o guerreiro, seu amor, vem resgatá-la da selva de pedra. Há uma boa intenção em serem humorados, mas fica um apelativo fácil sem consistência de técnica no que se vê.
Marie François tem, na intérprete, uma desenvoltura mediana em cena, a maioria das falas é gritada. Os textos esganiçados enfraquecem a essência da personagem. A atriz apresenta um sotaque francês satisfatório que sustenta até o fim. Mais economia dramática e ouvido aplicado a si mesma, talvez alcem a intérprete a melhores cenas. Os silêncios, aparentemente inexistentes nas construções frasais, é o que melhor costuram entonações e inflexões acertadas.
Maria Padilha, a espanhola, na pele de Erika Almeida, consegue ser destacável do início ao fim. A atriz apresenta uma maturidade natural e consegue contracenar quase o tempo inteiro em que presente na cena. Segura o espetáculo, quase a carregar a densidade óbvia sobre as costas da boa intenção de não deixar a cena morrer.
A economia e maturidade, mesmo no dramalhão por vezes aquecido ao enredo, estão melhor aplicadas na intérprete de Maria Padilha. Também têm desenvoltura significante o ator que compõe o Joaquim Martínez, personagem passional e amante extremo e o que dá vida a Juan Galhardo, este último intérprete tem mais tranqüilidade de apresentar sua construção de ator para a personagem.
De modo geral o elenco é muito jovem, com pouca experiência de palco e, numa possibilidade de apresentar-se em cena profissional, acabou por desequilibrar o exercício do exercício que deve-se aplicar na hora do “pega pra capar”.
Os atores que exploraram o faxineiro(beato) e o coreógrafo(sobrinho do dono do cabaré)ao tentarem ser + histriônicos que a própria natureza os propiciou transformam suas cenas em histerias e gritos, criando ruídos à comunicação dramática.
Os pontos + fortes do espetáculo, as coreografias de disputa da mulher amada, centro do furacão do triângulo amoroso. Os atores, de sangue quente, expressam toda a verdade de sangue espanhol possibilitado. Os olhos, os corpos e a energia existentes dão o maior convencimento ao ato de fingimento proposto.
Como explicou Erika Almeida, o novo elenco trazido a Teresina teve pouco tempo de ensaio. Mesmo com as deficiências visíveis, os intérpretes de “Maria, simplesmente Maria”, que compõem grupo envolvente de crianças, adolescentes e jovens se aliam numa força comum e defendem sua obra com toda a dignidade possível.
No mundo mágico do teatro, em que o universo conspira a favor das respostas à cena, “Maria, simplesmente Maria” cumpre bem seu papel e forja a própria história à memória do teatro de Caxias, no Maranhão.
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