O poeta planador
por maneco nascimento
Numa semi(meia)lua superior “a lá
arco íris”, bebendo à fonte, despencada do céu esquerdo ao chão direito , do
meio ao canto direito do papel, surge a
imagem iconógrafa das letras em risco de
sutil, simples e direta poesia [precisoserimprecisosepreciso] (pag.
48), assim mesmo, xipofagados os fonemas, morfemas, palavras expressas no
pragmático poético.
São “Influências” do [Ré
pente Lá tente] (pag. 46) presas
na escala de sol, transversalizando poesia e música, em notas que sonorizam a
força do eu poético, que canta e conta, num trocadilho feliz, o aparente comum,
mas que rima o constructo frasal e de lírica moderna e livre.
[Voar agora/Seria a solução./Sair pela janela/Com asas de avião./Num voo
livre,/Leve, pelo céu./Sem rumo./Asas de papel.] (Morais Júnior, José
Machado de. Aprendiz de Planador. Teresina: FCMC, 2015. 86 p.{Aprendiz
de Planador, pag. 15})
E, [Com meu sonho de chegar
ao sol em pedaços,/Eu, Ícaro, refaço minhas asas todo dia, ao acordar./Espero
que o vento sopre a calma na minha cara devagar/E que o meu amor seja mais leve
que o ar./Hoje vou voar pra te encontrar./Amanhã nem sei,/Como/Eu/Serei/Quando/O/Sol/Chegar]
(Mais
leve que o ar, pag. 16)
Como bom poeta e de composições musicais e publicitário, Machado
Júnior sabe brincar com as palavras e vender o peixe, fresco, de guelras
rubras, e com cheiro de saído “agorinha do anzol”. Salta para o vazio,
preenchido de presenças e palavras e brinquedos linguísticos, com humor e
inteligência aplicada ao poético.
Brinca com um brinquedo, de toda memória afetiva de criança, o
planador de papel, e em voo de liberdade leve, aspira que sua solução de fantasia,
de realidade infantil, leve ao céu as asas de papel.
Revira mitos e, ao ascender ao sol de Apolo, às vezes do mortal Ícaro,
desconstrói asas que vicejam pelo sono e, a cada dia morto e ressuscitado,
voa ao encontro da amada, pois que seu amor romântico, mais leve que o ar
sonha por hoje, o amanhã pertence ao Sol, que de precipício, à queda ao alto,
inspira-se mito do eterno retorno aos céus do Sol.
Machado é assim, Aprendiz de Planador, em obra
homônima, diz a que veio. Ao veio poético que o guarda, aguarda, cala, fala e
arrisca um fazer de poesia. E, para
hai-kais de ocidente livre conspira, [Sou
o amor./Vivo e morro/Quando o mundo diz: TE AMO!/Eu, amor, nasço de novo.] (Sou o
amor, pag. 17); [Somos de alguma
maneira/Eternos namorados/Até quarta feira.] (Carnaval, pag. 21); [(UNI) VERSO (IN) PESSOAL./POEMA SINGULAR/DE
UM HOMEM PLURAL.] ([Uni]Verso, pag. 23)
E, ainda, [Licença Poética É
A Cura/Com O Perdão Da Palavra,/Para A Doença Da Censura] (Com
Licença..., pag. 26); [Dilua a
lua/dissolva o sol] (Noite e Dia, pag. 29); [Qualquer coisa a gente toca./A gente
canta./A gente come música./Almoço e janta.] (Nossa música, pag. 35); [Você veio/E visitou meu coração a passeio.]
(Você
veio, pag. 37); [Seus olhos
parecem não ter fim,/Seus olhos me olham.../...Muito além de mim.] (Seus
olhos parecem não ter fim, pag. 38); [Com o sol na cabeça/Digo ao dia:/Cresça e apareça!] (Com o
sol na cabeça, pag. 39)
[Doutor, poesia é doença?/Só para quem não pensa.] (Doutor,
poesia é doença?, pag. 40); [Com
os dedos em riste/O poeta insiste/E sua poesia existe.] (Com
os dedos em riste, pag. 42); [Na/Bala/Tudo/Muda./Na/Hora/Muda/Fala.]
(Na
Bala, pag. 45), o poeta apropria-se do humor cáustico dedicado ao
mudo(a) e, num intertextual recolhido do popular, gera poesia.
[Amor
meio quimera/Um dia achei que fosse./No outro já era.] (Amor
meio quimera, pag. 74); [Em vez
de palavras mudas,/Mudas de palavras.] (Pé de Poesia, pag. 77); [Antes
do sol se por/Abelha beija flor] (Antes do sol se por, pag. 82); [Às vezes/Falo./Às vezes/Grito/Às
vezes/Calo...] (Às vezes falo, pag. 84) e [Você
nem sabia/Que nossa amizade/Virou poesia.] (Você nem Sabia, pag. 85)
Ao sensual e sexual, reflete o que latente e quente e pulso de desejos, [Quando me vi estava teso,/Pedaço de
pau./Quando me vi estava preso,/Homem animal./Quando me vi estava aceso,/Pleno
carnaval./Quando me vi era um bicho/Plural] (Espelho, pag. 19); [Você
toca o avesso do meu verso/me acende como incenso/Vício insensato,/Fogo-fátuo,/Quando
você vem?] (Fogo-fátuo, pag. 22)
[Teu calor semeia/E colhe em mim/Meu pedaço mais terno,/Encantado.//Teu
amor é inferno,/Enlouquece e me aquece/No meu próprio amor/Confinado.] (A
Outra Mulher, pag. 62).
E recorrente na fantasia sexual,
[Me aspira,/Me expele pelos poros,/Pelos
pomos, pelos pelos./Brinca com novelos, gata./Numa noite grata./Quando você vem?]
(Fôlego,
pag. 63); [Para entender tua
vulva, tua verve,/Minha boca sorve e serve./Mato tua sede com a minha língua,/Depois
calo./Enquanto meu falo/Morre à míngua.] (Oratória, pag. 65); [Me bate/Como bate o peito./Me abate com
jeito./Me combate o desejo./Me ordenha./Sela minha fala./Fala minha senha.]
(Fel(Ação,
pag. 72), et al.
Também é intertextual, com Chico Buarque para trocar em miúdos
quando arruma a casa [SE FOR EMBORA/Deixe a porta aberta para sair o resto do amor./QUANDO VOCÊ FOR/(...)] (Arrumando A Casa, pag. 57), ou cria
proximidade com Renato Russo, para Eduardo e Mônica, [Ele sem ela/Balão sem gás/Ela
com ele/Um som de jazz/Ele sem ela/Comida sem sal/Ela com ele/Canção de Gil/Ele
sem ela/Inverno em plutão/Ela com ele/Verão no Brasil/(...)](Feijão E Sonho,
pag. 50).
Poetiza, porque cria, os filhos, em “Letícia”, “Arthur”, “Amora”, “Amina” (pags. 51, 52, 53 e 54). E, não esquece dos poetas (mortos), [O poeta cheio/De estar tão vazio/Quis ser
um ponto/Entre a ponte e o rio.] (Dom
Quixote, pag. 69); [O poeta morre de manhã./O poeta morre e eu sei que
acordei/Sem um acorde.] (O poeta morre
de manhã, pag. 70)
e, mais, [Dedos, teclas/Num piano/Translucidam o som/Em preto e
branco./E na doce alquimia do acalanto/O poeta pousa sobre o muro/Como um poema
concreto e puro.] (Ramos, pag. 71).
Lembra o poeta, de Flávio de Castro e Ramsés Ramos, em seus traçados p(r)o(f)éticos (in memoriam).
“Aprendiz de Planador” é para Machado Júnior uma lição iniciática, na
arte e ofício de fazer poético, e, para leitores ávidos por novidades, em razão
e sensibilidade, uma leitura recomendável. Geleia gerada, morou?
Macktub!
fotos/imagem: (acervo icsr.org.br/Música Para Todos)
Obrigado pelo bela tradução, meu querido Maneco.
ResponderExcluirSem letras para expressar o fato, sem palavras para rimar com o ato de ser feliz e grato.
bom livro. poema certo. homem e humanidade pertos.
ResponderExcluirbom livro. poema certo. homem e humanidade pertos.
ResponderExcluirbom livro. poema certo. homem e humanidade pertos.
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