sábado, 4 de fevereiro de 2012

Memórias brasis


Memórias brasis
por maneco nascimento

(...) Foi encontrado morto. Ali, naquela calçada de esquina, não havia um homem morto. Mortos ali estavam um pedaço grande do humor, uma parte importante da poesia, um amigo insubstituível. Morria ali uma glória da arte popular do Brasil. Poucas pessoas conseguirão ser tão espirituosas quanto Maria o foi.” (Anysio, Chico. Sou Francisco. 2ª. ed. Rio de Janeiro: Rocco, 1992)
(criador, redator, poeta e cronista Antônio Maria/foto colhida de www.releituras.com)

Nas memórias de Anysio, Antônio Maria Araújo de Morais, nascido no Recife, em 17 de março de 1921, o grande cronista brasileiro, que em março de 2012 completará 91, era um dos seus grandes amigos. Parceiro de Chico Anysio na TV Rio, mas também já se haviam encontrado no campo do trabalho em outras emissoras de comunicação de massa, entre elas, a Mayrink Veiga e Rádio Tupi.
 (chico anysio show/foto colhida de grandesimagens.com.br)

Segundo Chico, Antônio Maria como era reconhecido o artista de roteiros de programas originais, fora um de seus mestres e ídolo, “Ah, Antonio Maria! Ninguém escreveu humor de modo mais original que Antonio Maria. Dêem-me duzentos textos e eu aponto os que foram escritos por ele. Foi o único autor realmente original que conheci. Original e inteligente. Inteligente e brilhante. Brilhante e engraçadíssimo. Trabalhei em todos os seus programas na Mayrink Veiga (...)” (Idem)

O cronista + carioca que o Rio já teve, também sofreu de amores, como lembra Anysio. Entre os que viu morrer de amor estariam José Brasil Câmpio, apaixonado pela cantora Maysa, e Antônio Maria. “(...) José Brasil Câmpio, apaixonado pela cantora e que morreu de amor por ela. Aliás, vi o amor matar duas vezes. Dois amigos meus morreram de amor. O outro foi Antônio Maria.” (Idem)

Não há quem conteste a caneta do pernambucano Antônio Maria, responsável por tiradas comoA única vantagem do homem só é poder usar o banheiro sem precisar fechar a porta.” (Anysio, Chico. Sou Francisco. 2ª. ed. Rio de Janeiro: Rocco, 1992), ou “É perigoso ter muitas mulheres. Quem tem seis, por exemplo, tem cinco chances de ser passado para trás.” (www.frasesepensamentos.org/mulher.htm)

Tino para o jogo hábil das palavras, Antônio Maria também amou com toda a sorte que o amor lhe poderia trazer e perder esse amor transformou-o no “monstro” da crônica brasileira, segundo memórias de Chico Anysio, “A mulher a quem amava o deixou sem maiores explicações ou motivos e voltou para o marido que estava na França. Antônio Maria começou a morrer ali. E ali nasceu o maior cronista deste país. Desse dia em diante, comido por dentro, Maria começou a escrever bonito, em vez de engraçado.”

Também deslizou por composições à musica e, em 1955, teve gravadas por Dolores Duran músicas compostas em parceria com Ismael Neto, “Canção da volta” e “Carioca”. (pt.wikipedia.org/wiki/Dolores_Duran). O homem, poeta e de coração para saudades e solidão, sofreu com a tranquilidade dolorosa e de silêncio furioso de todo amante.

"Às vezes, me sinto muito só. Sem ontem e sem amanhã. Não adianta que haja pessoas em volta de mim. Mesmo as mais queridas. Só se está só ou acompanhado, dentro de si mesmo. Estou muito só hoje. Duas ou três lembranças que me fizeram companhia, desde segunda-feira, eu já gastei. Não creio que, amanhã, aconteça alguma coisa de melhor." (O diário de Antônio Maria/ www.releituras.com/antoniomaria_bio.asp)

De humor venal típicamente antoniomariano. Chico Anysio ainda recorda do amigo Maria, nos bastidores, “escrevendo correndo (sempre entregava o texto na última hora) e todos nós em volta atrapalhando, (...) Aí a porta abriu e entrou uma senhora:
- Boa tarde. Eu sou da Liga contra o Câncer.
E Maria, sem tirar os olhos da máquina, respondeu sem titubeio:
- Eu sou a favor.


Segundo Chico Anysio depois da perda do grande amor A. Maria não mais escreveu para o humor porque seria um sofrimento e não aquele prazer antigo dos bons tempos em que conviveram juntos.

Maria estava sofrendo demais para ser engraçado. Suas crônicas cresciam na beleza e na aceitação geral. Pessoalmente era o mesmo homem, mas sua alma tinha cicatrizes. Passou a beber além do habitual. Dormia pouco e sofria muito. Um dia parou na porta do Rond Point, um bar que freqüentava na esquina de Copacabana com Fernando Mendes, e pediu que lhe trocassem um cheque. Não chegou a receber o dinheiro (...)” (Anysio, Chico. Sou Francisco. 2ª. ed. Rio de Janeiro: Rocco, 1992)
(chico e a televisão/foto colhida de businesstelivision.com.br)

Memórias brasis recortam velhos homens e grandes artistas da cultura nacional. Maria e Anysio não passam imunes pela história do rádio, teatro, tevê, cinema e literatura brasileiros. Evoé, velhos artistas!

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