[É engraçada (não, não é) toda essa polêmica sobre o show no Salve domingo passado. Parece que está sendo nosso Woodstock.
E foi, apenas, uma moça tocando e cantando sem camisa/blusa e um rapaz que deixou a bunda de fora.
O que incomoda nem é uma pessoa ou outra ou várias não curtirem alguém seminu (ou nu, mesmo) em público. Vai entender os recalques de cada um. Mas o pior são os discursos.
O pseudocaso da seminudez (ou nudez, tanto faz) dos meninos no Parque da Cidadania mostra, mesmo, como o discurso conservador moralista voltou (?) com toda a força. E é feio, agressivo, raivoso, preconceituoso. E mostra que a história não anda para a frente. Vivemos mesmo tempos simultâneos. As pessoas vivem em décadas ou séculos paralelos.
Lembrando que Woodstock aconteceu em 1969. Há 47 anos, portanto. Até há algum tempo se brincava com os remanescentes dos bichos-grilo: "está vindo de Woodstock a pé". Pasmem.
Tem gente que ainda nem chegou lá.]fonte: (André Gonçalves 3 h
Bom. Ninguém precisa endossar o que já é feio, por si mesmo. Nem engrossar o coro dos Dezcontentes (chafurdindo a ideia do Poeta) numa sociedadezinha ascéptica, conservadora, moralista da porta da rua pra fora, ou de discursos que corroborem com a Teoria do Silêncio. E não vou explicar o que significa essa Teoria, quem não souber que lesse um pouco +.
Tenho visto formadores de opinião discorrerem sobre "o nu do Salve Rainha", ou de como estes mesmo(a)s paladino(a)s da conservação da moral e dos bons costumes costumam brincar de serem heróis/inas para angariar prestigio, ou brigar para estarem bem na fita, num bom mocismo que beira a qualquer coisa, menos a vestígio de entender de liberdades, livre arbítrio e diversidade de ação + pensamento + atitude + cidadanias ampliadas.
Talvez, esses discursos higienistas da moral cristã e bons costumes, + vertigem de repetir/repartir a velha máscara colorida às conveniências de quem melhor gere uma proteção a falsos poderes, fáceis pudores e francos desejos assépticos de manterem seus mundinhos formais aos próprios desígnios e informais a quem quebre seus protocolos de sociedade dos incêndios, dos cassetetes, dos sprays de pimenta e balas de borracha e de fogo, da melancolia de despencados de seus bons e áureos tempos de chumbo.
"Quem te fez saber que estavas nu?" brandia o discurso de peça paraense que por aqui passou nos anos oitenta do século 20. E, para a fábula d'O Rei nu, quem nunca ouviu falar, leu, ou viu reproduzida essa lição fabular de enfiar o dedo na própria ferida?
Estão nas entrelinhas, de fuga do óbvio, a discussão crítica de quem também perceba o nu, não só no outro(a), mas também em si mesmo(a). O que se fará dessa constatação, de percepção do verdadeiro nu, é onde moram as várias leituras de recepção da nudez, ou do "choque" de se lhe ser "imposto" o nu alheio.
Vi alguns pronunciamentos acerca do "vexame" de nudez na noite do Salve Rainha, último domingo (18) e, "confesso abestalhado" que não estou decepcionado (parafraseando outro Poeta). Vive-se um brasil (país assim mesmo, apequenado) de discursos diaspórico da rendição alheia. Do expurgo do outro(a) que não corrobore com a atitude dos bois tangidos.
Como diz André Gonçalves, "o discurso conservador moralista voltou (?) com toda a força. E é feio, agressivo, raivoso, preconceituoso."
A inquirição de Gonçalves já responde. "Este é um país que vai pra frente...." reiterava o discurso-jingle da ditadura brasileira do país do milagre econômico. E, os heróis da resistência fizeram sua parte, resistiram. Quem acreditar na história paralela à oficial, também crê no genocídio nazista. Parece que uma coisa nada tem a ver com outra? Talvez, melhor não ter muitas certezas e + observar sem perder a ternura, ou a coragem.
Agora, quanto ao nu dos menino(a)s do Salve Rainha. Será que estavam mesmo nus? Será que estamos vestidos? Quem fica bem, ou mal vestido na fita oficial?
Com a quebra de direitos sociais adquiridos; a volta da educação moral e cívica; o desmantelamento das disciplinas reflexivas na matriz do ensino básico; as favelas incendiadas ao intercurso da especulação imobiliária nos grandes centros urbanos; o endurecimento policial de cão feroz das polícias do estado brasis; os discursos pro-ditadura; os púlpitos neo-políticos-homofóbicos no congresso nacional; o surgir das sombras protegidas do neonazismo-fascismo tupuniquim da cepa "do lado de baixo da linha do equador, onde não existe pecado (meu Poeta preferido); o estado de polícia-justiça-politica entrelaçado a favor de bem comum de seus pares; os golpistas parlamentares dando as cartas de dezgovernabilidades e um brasil, dos mesmos, sendo paulatina e cinicamente orquestrado a se instalar a quem sobreviva corroborativamente...
É. Parece que há alguém nu. O Brasil está nu, gente. Escandalosamente nu.
Quem a mim parece está decentemente vestido, "ou não!" (parafraseando + um Poeta), mas afirmativamente brasileiro, coletivo e esperando que haja algo pra colocar na panela e alimentar os seus, somos nosotros. Porque, convenhamos, panela é, na cadeia alimentícia homo modernus, suporte à manufatura de alimentos e não objeto de discurso de burguesia brasileira sem qualquer charme.
O Salve Rainha está é muito bem vestido. E, se nu, quero definitivamente estar despido junto com Ele. Porque se é pra ser bíblico, abro mão de Noé e sua embriaguez de vinho e fico com Jesus Cristo e sua máxima de Amor ao próximo(a), que esclarece sobre pedra na mão dos detratores de Madalena.
O(a)s formadores de opinião, o(a)s profissionais e liberais, o(a)s eleito(a)s e curado(a)s pela fé obreira do reino capital, o(a)s que atiram uma pedra, disfarçam, olham pro céu e pedem graças a Deus que nos protege indistintamente, vigiem em seu redor. Estão meeesmo vestidos? Se aliados ao Rei, é para estarem em mesmos trajes?
Quem te faz saber que estás nu? Eu não posso, já estarei muito preocupado com minha própria nudez, pelos próximos anos que se nos afiguram.
Deixe o Salve Rainha continuar sendo como sempre foi. Ele não é modelo do mundinho perfeito dos eus, selfies e dos seus. Se quer ficar em seu "The Truman Show" (aos que sofrem de melancolia americanófila) ou O Show de Truman, traduzindo para um bom português do Brasil, fique na sua vibe e deixe que o livre arbítrio alcance quem não quer estar em sua onda maniqueísta.
+ à esquerda. + à direita. + ao centro. centrão. melancólicos decaídos do usufruto do período da exceção. é muito salutar manifestar-se. é livre democrático posicionar-se. infiel é não manifestar-se.
E, para que nunca se perca a ternura e a crítica reflexiva: Fora Temer!
E Salve Rainha!
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