ao discurso do drama
por maneco nascimento
O Núcleo de Estudos Dramático realizou temporada, no Teatro "Torquato Neto", dias 26 e 28 de julho de 2016, às 19 horas, com o espetáculo "Corredor Polonês".
O intuito das apresentações, é justificado ao final, como angario de fundos à manutenção da Escola Técnica Estadual de Teatro "Gomes Campos".
A montagem do NED ganha a cor de atuação pelos associados do Projeto, Giselle Torres, Célia Lopez, Flávia Souza, Iarla Ribeiro, Afonso Lopes, Júlia Rahab, Orlene Araújo, Valdênia Carvalho.
O espetáculo é dirigido por Chiquinho Pereira, diretor da ETETea "Gomes Campos" e coordenador do Núcleo de Estudos Dramático.
A trama é densa e afunila discussões familiares de sobrevivência, desenganos e desencontros. Um chafurdar nas memórias de violência sexual, fantasias erótico violentas, política e anarquia enviesada, amarguras interrelacionais, dores e perdas das melhores memórias colhidas por arranjos de escolha dos outros sobre a própria escolha.
Uma família ao complexo de "Flor de Obsessão" intertextualizado e repaginado aos efeitos de dramático intenso, aos riscos de afiação de sentimentos conturbados e mergulho de sortes regurgitadas para sabor do inefêmero das vidas expiadas.
O espetáculo abre com solo que varia entre a loucura e realidade histérica de uma mãe (Iarla Ribeiro) em vida anacrônica. Loucura, hospital, filho (nascer, perder) e o recorte ao ambiente doméstico, front das guerrilhas particulares dos filhos enterrados na condição de um pai, internado, que mija sangue há três dias.
Uma mãe carregada de culpas, crimes e pecados (Flávia Souza); irmã lésbica agressiva (Giselle Torres), irmã anarquista e Cristiane F. (Célia Lopez); irmã subjugada (Júlia Rahab) pelo marido cafajeste, cunhado ambicioso (Giordano Bruno); o irmão evangélico (Afonso Lopes) e as enfermeiras (Orlene Araújo e Valdênia Carvalho).
Um desempenho eficaz de efeito dramático horizontalizado, com variações cardiogramáticas mais intensas em Giselle Torres, que por alguns momentos desfere golpe de maníaca e amarga, mas lineariza intenções, à maioria das vezes, num decorado eficiente.
Célia Lopez, numa cínica e perturbada efígie de contra-lei e discurso centrado na casa em que todos dobram às baias da loucura; Flávia Souza interage numa mãe arrastada à máscara das dores e males maternos, a desgraçada à própria sorte de mãe heroica de um paraíso perdido; Afonso Lopez, o evangélico lunático e contundente da personagem que vence a língua presa do ator e o transforma na falha trágica de defeitos da personagem.
O texto, de Ítalo Leite, nas variações e desvarios à personagem da mãe esquizofrênica, "louca, doente, pobre, suja" (Iarla Ribeiro) intercursa em Medeia (Eurípedes) e Otelo (Shakespeare) e realiza vai-e-vem de onda marinha às memórias perdidas e achadas da personagem trágica, de tradição enlutada, eleada na releitura por vezes de composição moderno-trágica, de corrigir tempo em Corredor Polonês.
Texto e personagens se intercalam às falas e vozes sociais de coletivo e de intrínseco doméstico e geram identidade de humanidade, com a plateia que imerge na catarse e falhas trágicas da família torturada, em indelicadezas e socos no pé do estômago.
Dá um mote de reflexão e inflexão dramáticos ao que a recepção não pode fugir. Pode recuar, recusar pela ação imberbe de persuasão, quando ocorre, ou submergir de vez e compor o complexo nelsonrodrigueano, que perpassa nas vias expressas de Corredor Polonês.
Dobram-se os cios, sinos e sujeiras expostas da trama, em grave dramático, com um exercício de cena que prende e mantém olhar da plateia, empenhado no que está previsto pela direção do espetáculo.
É um corredor de ação e método, em franca aptidão de comer o teatro pelas beiradas e degustar, ao final, a ambrosia que amplia a sinestesia da maturidade de encenar, quando ela chega.
Está, o espetáculo, na boa média de compor teatro.
Obrigada pela presença e sobretudo pelo texto sobre o espetáculo, o qual aguardamos ansiosos, haja vista a profundidade, sinceridade e conhecimento de causa com que são expostas sua palavras. Grata, Maneco!
ResponderExcluirobrigado a você pela confiança. mas são só palavras. teatro é teatro e obra não é pra ser questionada, mas sentida.
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