por maneco nascimento
"Arrumação" foi que se viu, como resultado do segundo módulo da Oficina de Texto Teatral. O curso ministrado por Isis Baião prepara a cidade para receber os novos autores de textos dramáticos.
Na apresentação do resultado, Baião, disse que dali a pouco gostaria de ver aquela plateia lotada. Que o melhor resultado ao artista do palco é uma plateia cheia e, se numa noite de lua cheia (era uma noite de lua cheia), com as boas respostas conseguidas num dia de espetáculo.
A premunição se confirmou, o Teatro "Torquato Neto" ficou lotado para a apresentação de "Arrumação", na noite de 21 de julho, às 19 horas. Amigos de geração de Isis, familiares, estudantes de teatro, atores e atrizes e diretores de teatro da cidade, intelectuais e o público que acorreu a ver que "Arrumação" era aquela.
O resultado do II Módulo da Oficina de Texto Teatral (Esquetes de Humor e Peças Curtas) foram aos textos encenados que deram "Arrumação", em ato bem arrumadinho, à práxis de cena à "A Colônia" e "Quadros de Família: A Farsa dos Amantes".
A encenação conseguida reitera produção textual facilitada por Isis e as respostas de humor, crítica, reflexão e diálogos diretos e práticos dão a boa impressão que, o investimento começa a render frutos, desde que saiu a Primeira Mostra de Futuros Autores, em 2015, com "Arrumadinho". Dessa feita, "Arrumação", na Segunda edição da Mostra de Futuros Autores fez-se cena hilária e dinâmica +.
No primeiro exercício apresentado, "A Colônia", o enredo é em um hospital psiquiátrico, com algumas fugas licenciadas, de emenda dramática, ao espaço exterior da quarta parede (intervenções da plateia) em link de dentro e fora da mesma ação dramática.
As situações absurdas e personagens histriônico-lunáticas refrescam, na cena vista, para textos gracejados e discursos pontuais das autoras Mary Gonzaga e Samira Ramalho. A geografia dramática de palco se completa na concentrada atenção do elenco.
Destaques a Gildete Soares se efetiva bem, como uma enfermeira mandona, violenta, perversa cômica e ninfomaníaca; Érica Fontes (paciente/médica do manicômio) já tem domínio à cena; Célia Lopes, como a avó cadeirante e cheia de manias de perseguição e anti-comunista, é outro vértice diferencial na trama; Xico Carbó, o mordomo empertigado e ambicioso se garante.
Os outro(a)s colegas de loucura, Samira Ramalho, Larissa Gonzales, Állex Cruz , Zélia Golik, Karla Dayana, Eric Mafrah, Luís Machado cumpriram bem os votos de atuação, fossem atores, iniciados, iniciantes, ou não. Deram sua ótima contribuição e conspiraram pelo universo de cena humorada, das escatologias do lunático risível, sem apelos gratuitos.
(Ada Kawaii e Állex Cruz nos bastidores de O Manicômio/foto: Ada Kawaii)
Nos entreatos, de uma encenação à outra, os textos discursos da história politica atual também são efetivos. Criados por Samira Ramalho e Érica Fontes, receberam poder de leitura e acepção dramática nas vezes de Xico Carbó, Érica Fontes e Eric Mafrah.
A linha divisória, entre a loucura, a reflexão política, a crítica e realidade reflexionada, também vem recheada de bom humor e separa e reúne, em novas fronteiras, a cunha da ação dramática que se completa.
O segundo texto encenado, "Quadros de Família: A Farsa dos Amantes", fere histrionismo na comédia pastiche, em ato único, num dialogismo com as feitas de dramalhão mexicano. Dois casais mergulhados em conflito, a partir de um futuro desvendado pela cartomante charlatã mais eficiente que se tem.
Os cônjuges, Caridade e Jorge Henrique; Maria Mercedes e Carlos Daniel se enroscam nas próprias falhas trágicas, onde a desconfiança, traição e crises de ciúme, segredos revelados, amor entre pai e filha adotiva, amor homoafetivo entre um dos homens do quadrilátero amoroso e, + outras manobras dramáticas ao riso revelam leveza de tratar as risadas e inesperadas tramas a la novela mexicanizada.
Os autores do drama "la cucaaraachaa", Hugo Lenes Menezes e Angely Costa, e o revezamento de atuações narrativo se afinam por Állex Cruz (o marido que troca a mulher pelo secretário); Célia Lopez, a filha (i)legítima e amante do "pai"; Érica Fontes (a mulher traída e reveladora do passado sujo da filha adotiva); Gildete Soares, a cartomante certeira em desvendar futuros (in)comuns, + Jorge de Melo, Luis Machado, Samira Ramalho, Eric Mafrah, que afiam pleito tempo a boas risadas.
Ganham maior destaque neste drama acentuado, Érica Fontes que consegue não só desvendar uma ótima atuação de mulher traída, como também revelou poder de improvisação e acentuação de fidelidade textual que roubou a cena.
Gildete Soares dobrou os sinos ao riso, por enveredar numa cartomante vivaz, livre dos arquétipos da tradição e corroborar com um bom "timing" de humor e incisiva intervenção dialógica na performance de visionária de destinos.
Állex Cruz detém uma linhagem de saber por onde andeja suas intenções. Seu corpo reage bem e metodiza gestos que delineiam o que vai construindo à personagem. Do concentrado ao espalhafatoso, cai-lhe bem o trazido à exigência da direção à personagem.
Célia Lopez, a filhinha preferida do papai, também endossa o enredo com seu + de experiência e vivacidade no palco. Samira Ramalho, que ao final das encenações (O Manicômio e Quadros de Família: A Farsa dos Amantes) revelou que não era atriz, inverteu ritual cênico com boa desenvoltura e comunicou bem.
Eric Mafrah, Jorge de Melo e Luis Machado fecham o cerco do bom riso e doam certificado de atenção às marcas do mapa de dramaturgia de cena e persuasão de demonstrar pelo invisível dramático, feito real de fingimento.
A interação estética pela Sonoplastia (Célia Lopez); Iluminação (Célia Lopez e Gildete Soares); Direção Cênica (Xico Carbó) e Coordenação Geral (Isis Baião) reúne as outras pontas do vértice texto-atuação-técnica apresentadas.
Que "Arrumação" é essa? É de um bom exemplo de como se pode conseguir verdades cênicas quando se aproxima interesses de investimento, profissionalismo e aptidão naturais na metodologia do ensino aprendizagem e o universo conspirador em favor do teatro.
As Mostras de Futuros Autores (2015/segundo semestre) e (2016, segundo módulo/primeiro semestre) são sucessos assegurados da práxis produção/criação de textos teatrais e encenação de resultados consignados.
Parabéns, a Isis Baião e a seus aprendizes, de feiticeira, à dramaturgia textual!
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