sábado, 16 de abril de 2011

Porque Amiga não tem preço

por maneco nascimento

Lá pelos idos dos anos de 1990 tive o privilégio de trabalhar na Fundação Antares Rádio e Televisão Educativas do Piauí. Contratado para o departamento de Produção e Criação de Tevê aprendi a lidar com os bastidores criativos e novas formas do fazer televisão local.

Naquele departamento, dividindo horas de prazer trabalhadas com Lury de Almeida, Solfiere Markhan, José Galas, Fifi Bezerra, Zé Dantas, Maia Veloso, Selma Bustamante, Laurent Mattalia, Valdemar Neto, Roger Arruda, entre outros, brincou-se de fazer coisas sérias e semeou-se resultados memoráveis.
(Zilma Martins e Maneco Nascimento em entrevista pelo aniversário da Rádio Antares, ano 2009. foto: Solfiere Markhan)

O prédio que sediava a Emissora de Rádio e Televisão Educativas continua plantado na avenida Walter Alencar, vizinho de “quina” com a TV Rádio Clube de Teresina e também das outras emissoras no entorno. A Casa “Fundação Antares”, de dois pavimentos, abrigava no inferior a vida da televisão, produção de programa e jornalismo e, no superior, os caminhos levavam à Rádio Antares 800.

O pessoal da tevê mantinha naturalmente integração afinada com o da Rádio. Em dois lances de escadas se estava nos estúdios A e B, no Arquivo Musical e memorial de U-Matics e corredores de produção do radiojornalismo. Nunca foi preciso se esforçar muito para se dar bem com o pessoal do rádio. Formávamos uma mesma e ótima energia.
 (Américo Abreu e Zilma Martins. foto Agecom)

Num desses bons encontros, que a vida nos propõe, conheci uma dupla dinâmica da produção de rádio. Filhos do curso de jornalismo da UFPI, Zilma Martins e Américo Abreu, sabiam porque estavam em passagem pela Rádio Antares. Dinâmicos, perspicazes e antenados com a verve estudantil curiosa e projetada de propósitos, deram um movimento incomum a horário de boa audiência.

Rádio Movimento” era o nome do programa, produzido por Zilma e Américo, de variedade luxuosa que apresentava o locutor noticiarista Roger Arruda, como âncora. Três horas quentes de boa informação, interação com um público ouvinte, fiel e um fã clube de causar alguma inveja saudável.

Amigo de R. Arruda, já que trabalhava com ele no departamento de produção da tevê, acabei estreitando alguma amizade com Zilma e Américo, quando o cinegrafista subia para a Rádio, em suas horas de ação no Rádio Movimento”. Os dois jornalistas, à época namorados e logo depois marido e mulher, me conquistaram de boa. Meu sonho era ser como eles quando crescesse.

Essa doce amiga, de riso largo e cheio de alegria solidária, seguiu seu caminho com seu companheiro Américo. A vida nos afasta e nos faz esbarrar nos velhos dias de encontros de memória, quando é possível. Vi-a algumas vezes na Faculdade CEUT onde construiu carreira exemplar e, em outras, guardei sempre aquele sorriso amigo, fiel e voz serena e risonha de dizer como é bom te encontrar.
                                       (Teo, Zilma e Américo. foto: reprodução)

Com Américo teve Téo e completaram um triângulo que a natureza explica, acomoda e orgulha pelo feito possibilitado. Essa doce amiga cumpriu sua parte por aqui e deixou-nos o legado de sua memória em saudades tranqüilas. No último dia 15 de abril, participei de missa de sétimo dia, desde sua passagem. Na igreja do Saci, família, amigos, colegas de profissão estiveram lembrando Zilma Martins da Silva Abreu que evoluiu em tenra idade.

Na mensagem deixada aos amigos, lida na cerimônia por Roger Arruda, nos falou de esperança, de entrega, de aceitação, de sentimento que variou, para ela, entre temor e fascínio na luta contra o câncer. Quanta fibra em lição nos foi deixada em uma lauda apenas de texto bem escrito.

Da cura almejada na brava batalha à auto cura abraçada em encontrar a resposta ao imponderável, nos apontou, a seu modo, que “(...) Com efeito, o nosso conhecimento é limitado, como também é limitado nosso profetizar. Mas quando vier o que é perfeito, desaparecerá o que é imperfeito (...)” (1ª. Carta de São Paulo aos Coríntios)

Aprendi com essa ótima amiga que sem amor ninguém é nada. Talvez ainda não tenhamos entendido essa premissa cristã e barata de se realizar. Zilma Martins nos confortou abrindo nossa curiosidade para entendermos que o último inimigo a vencer será a morte”. Ela começou a exercitar essa curiosidade. Lembrar da amiga será sempre buscar abrigo nas falas sãopaulinas que nos lembram:

O amor é paciente, é benfazejo; não é invejoso, não é presunçoso nem se incha de orgulho; não faz nada de vergonhoso, não é interesseiro, não se encoleriza, não se alegra com a injustiça, mas fica alegre com a verdade. Ele desculpa tudo, crê tudo, espera tudo, suporta tudo” (Idem).

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