por maneco nascimento
Lendas, poema, versos, quadrinhas, vozes sociais, repente, memórias ribeirinhas, história da construção social teresinense, rios, mitos às licenças de literatura e heranças ibéricas, em risco de simplicidade, afetos escritos, livre criação e dialogismos com a cultura do inventário popular, presente aqui e alhures, quando a palavra parla.
Histórias fabulosas, de heróis e anti heróis mancebos, princesas, moças, virgens e donzelas, Marias, Antonietas, peixe falante, musa, Rio Parnaíba, piau estalante, Piauí cortado por dois rios perenes, que lambem a capital e também aguçam fábulas e lendas e mitos naturais.
"Maria de Cuia", criação de Luciana Azevedo e parceria, à bela ilustração, de Patrícia Paulozi. Uma narrativa, de apropriação da lenda do Cabeça-de-Cuia (cultura oral e lenda ribeirinha teresinense), entrecruzada com outras culturas populares nordestinas, que aproxima e intertextualiza as oralidades sociais da vida e reinventa a memória dramática.
Livreto/cordel, "Maria de Cuia", enreda a generosa atitude da menina moça que quer resgatar o "monstro", que vive submerso nas águas do rio, preso à própria sina e desgraça fatídica que cunhou-lhe a sorte.
"Ó musa da providência/Só trago aqui minha pena/Para falar de Crispim/Com aquela sorte sem cena/Nas águas quentes do rio/De uma história serena.// Serena foi e ninguém sabe/Desenho de um retrato/Que Maria então pintou/E fez de uma cuia um ato/Deixando tudo mais leve/Neste meu breve relato (...) O Crispim foi amaldiçoado!/Penava condenação./A sua cabeça virou cuia/Nem podia ter salvação/O peito despedaçado/Sete amores, uma ilusão (...)"
(Azevedo, Luciana. Maria de Cuia [Cordel]. Teresina. 2016)No discurso entrecruzado, a poesia popular repercute morte e vida do rio; "morte" e redenção do homem/"monstro" das águas, rio abaixo, rio arriba; desejo da quebra da maldição e, a força que a lenda impõe para se perpetuar e negar a prenda do desejo e manter o mito, que do rio Parnaíba é feito oferenda e ao Piauí conserva-se lenda.
Do folclore e cultura popular, ainda, intertextualiza com Câmara Cascudo que recolhe da cultura oral elementos para o conto A menina enterrada viva, ou a Estória da figueira: "A madrasta chegou para ver se ela tinha vigiado direito. Descobrindo o figo bicado, ela ficou furiosa. Mandou cavar um buraco e enterrou a menina viva."
e variações da mesma narrativa dramática "Minha mãe me penteou, minha madrasta me enterrou, Quando o pai voltou da viagem a madrasta disse que a menina fugira..." e ainda "A madrasta odiava pentear a menina, assim como tinha aflição de ouvir a menina cantar... exigiu que ela fosse enterrada no quintal, perto da figueira... Não sei dizer se ela estava viva ou se viveu outra vez ao encontrar o pai."
"Maria de Cuia" encerra seu enredo para as vezes de auto exílio da donzela, enterro (plantada) às margens do rio, entre capins e canaranas na interlocução com A menina enterrada viva, seus cabelos são capim.
"E a musa que me ilumina/Com sua pena de jasmin/No relato se encanta/Na sua mudança, enfim,/Na beira do velho rio/Maria de Cuia é capim!
(Idem)
Luciana consegui trazer à baila com Maria de Cuita um ecossistema cultural da maior qualidade, sem percer a beleza estética e instigante de um personagem amoroso que é Maria.
ResponderExcluirconsegiu*
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