Réus,
confessam.
por maneco
nascimento
A Cia.
Falácia, do Rio de Janeiro, trouxe seu bom riso e entretenimento refinado para
os tablados do Piauí. Através do Palco Giratório fez passagem por Floriano, dia
8, e desembarcou em Teresina para + uma das três apresentações planejadas.
“Amor
Confesso” continuou temporada no palco do Theatro 4 de Setembro, dia 10 de
outubro de 2013, às 20h e segue ainda para uma demonstração do teatro carioca, em
Parnaíba, litoral piauiense, dia 13.
A Cenografia
de “Amor Confesso”, um vestido suspenso, no céu do palco, com uma imensa calda que
faz as vezes de uma cortina plinsada, para recorte de espaços no esquerdo do
mapa de cena. Cortinas negras aproximam a dramaturgia no restante do palco.
Duas cadeiras, dois atores e um pianista com francas intervenções premeditadas que,
embora façam parecer, por vezes, despretensiosas, dão o tom do musical entre
enredos de contos de amor e traição revisitados.
Caso Arthur
Azevedo não fosse grande autor, dramaturgo e jornalista, ainda assim seria um
sensível mago das letras arriscadas. A montagem ajunta uma dupla de bons
atores, oito contos arthurazevedianos degustados, uma cartografia dramática
equilibrada e inteligente e uma energia indispensável para a arte do
fingimento. O que começa com um neutro, sem neutro, enquanto a plateia vai se
acostumando com o que está por vir, na surpresa da cumplicidade teatral, ganha
fôlego natural no metalinguismo apresentado.
(contos de Arthur Azevedo por Alexandre e Cláudia/fotos: Cia. Falácia)
As
personagens, construídas por Cláudia Ventura e Alexandre Dantas, um casal que se
prepara para casar. Na dúvida de casar, ou não casar, o casal realiza um
metateatro do doméstico ao lúdico de viver as personagens dos contos de Arthur.
Com agilidade, dinâmica histriônica em economia e técnica interpretativas, sem (in)gerir
apelo ao riso fácil, Cláudia e Alexandre desempenham a felicidade do teatro,
reproduzem metalinguagens da (in)felicidade de casamentos e dramas de Azevedo.
Com
facilitação de cena, traquejada por Ines Viana, “Amor Confesso” mantém
direcionamento para clareza do texto e soluções cênicas ágeis e eficientes nas
trocas das personagens e ambientações (in)visíveis que compõem a cenografia
extra.
Humor
e comunicação, sem ruídos, reinventam o lúdico para teatro valorado na arte do
ator e na compreensão sincera da encenação contemporânea. O piano, de Roberto
Bahal, tal qual o instrumentista das teclas bicolores, do neutro
da matiz à ineutralidade sonora direcionada, é inevitável à teia e sua mora
dramática. Coadjuvante, Bahal contribui para a manutenção do teatro no nível da
comunicação desejada.
A encenação
que começa, com os atores à meia roupa (Figurinos sóbrios), a peça íntima para a noiva e meio
fraque e cueca ao noivo, já abre a ideia do construtivismo da emoção do casal
que se vai retroalimentando das vivências das personagens em que se desdobram
os intérpretes. A montagem do quebra cabeça, em contos enredados, define o
desanuviar das dúvidas e finaliza com o “felizes para sempre” no ícone do casamento
desejado, mas resistido de início.
A interação
com o público, na quebra da quarta parede, intui melhor integração entre
assistência e elenco. Teatro distanciado, sem perder as virtudes do mezodrama,
ao intermediar o cômico, suprime gorduras saturadas.
Há uma
química de dígitos que atomizam Cláudia Ventura e Alexandre Dantas, em tabela
que quantifica ciência e sensibilidade e qualifica ação cênica nada desprezível.
Teatro articulado, de inflexões que variam do simples ao complexo da composição
de dramaturgia pensada.
(Cláudia e Alexandre são Amor Confesso/fotos: Cia. Falácia)
Montam, direção e elenco, a peça que chave ao riso e ao entretenimento, sem deixar
de ser, ou não ser, teatro à toda aprova. Eis a questão com resposta dada ao
prazer do público. “Amor Confesso” professa fé de olhos livres e faz de Cláudia
e Alexandre réus que confessam teatro e método à cena brasileira.
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