Meu velho amigo Jerry
por maneco nascimento
No painel gigante, ao fundo do
palco, em letras bem visíveis se lê “Projeto Seis & Meia O vaqueiro termina
de vestir o gibão para correr atrás do tempo. Apaga-se o lampião. Num antigo
forno de barro se faz o beijú. A manteiga da terra recobre o cuscuz de arroz
pilado nas primeiras horas. A carne de bode seca (...) ao sol. Ao longe o
barulho do trabalho árduo dos macetes na quebra de coco (...)”. Essas memórias
afetivas parecem querer aproximar o público da ideia do projeto musical e a
memória afetiva rural. A licença cumpre a letra.
(o eterno Bom Rapaz/foto: Vítor Sampaio)
Em diversas edições em que pude
assistir aos shows, fora a primeira vez em que meus olhos se desviaram do
artista para ficar no discurso poético, por
algum momento. “(...) se amar demais (...) foi o meu mal (...)”, mais uma vez
amei esse bom rapaz chamado Jerry Adriani. Aquele homem com sua camisa social,
verde discreto, calça jeans e sapatos elegantes, o cantor de voz inconfundível
entra em cena e faz o que melhor soube ao longo de já quase meio século.
Bem humorado, educado, solícito
com seu público e orgulhoso de retornar, mais uma vez, em Teresina, Jerry
Adriani estava muito à vontade para rir, mostrar sua ginga jovem guarda, contar
casos da vida artística, rever as velhas memórias musicais e cantar muito bem.
“Às vésperas de completar meus cinquenta anos de carreira (...)Em 2014,
completo cinquenta anos de carreira e quarenta e nove de idade”, brinca
Adriani.
Agradeceu a toda “a gente que
acredita na memória da história brasileira”, a quem acredita e insiste na
preservação da música brasileira. Lembrou-se do surgimento da Jovem Guarda e
das manifestações contrárias ao movimento. Falou da importância de “Preservarmos
os nomes (...) para existir o Luã Santana (...) existiu um Jerry Adriani lá
atrás”, complementa o artista sobre os novos rumos e hits da MPB.
O homem grato pela carreira,
público, memórias felizes, amigos. Homenageou colegas de profissão e geração. Disse
ter estado com Wando, dias antes do artista desaparecer. Lembrou Reginaldo
Rossi e pediu uma oração para que o amigo supere essa. Na carreira, descobriu
que “Tinha um cara que me imitava”, riu conosco e cantou versão para “Kiss me
quick” (Elvis Presley) e brindou o público com “Me Beija Assim” (autor/versão -
Cury), com registro vocal anasalado charmoso de sempre e rock melody para rock
gospel do rei do rock.
De Raul Seixas, de quem se tornou
amigo e trabalharam juntos, cantou “Cowboy fora da lei”. Ouviu todo mundo,
trocou ideias, brincou, provocou o público sempre com humor super respeitável e
atendeu pedidos. De uma aniversariante do dia, abriu espaço para
italianíssimas. Rosas Rubras também não poderia faltar. Sidney Magal e sua
“Sandra Rosa Madalena” não ficaram alheios das homenagens.
(o público de Adriani/foto de Vítor Sampaio)
As clássicas nunca poderiam ficar
de fora. O público já pedia “Querida”, desde cedo, mas ele cantou na hora certa
e disse que se ela faltasse, poderia “apanhar” dos fãs.” Doce doce amor” veio
seguida de “Querida”. Também contou um sonho que teve com Tim Maia, novinho,
magrinho. Confessou ter saudade e que de certo o velho Tim queria lhe falar
alguma coisa. Já anunciando o fim da noite, que ninguém queria ver acabada,
interpretou uma canção como bênção para todos. “Pai nosso” emocionante no
vozeirão jerryadrianico.
Depois anunciou o que mais se esperava.
Os grandes hits da Jovem Guarda. Ai foi um doce deleite. “Menina linda”; “Rua
Augusta”; “O bom rapaz”; “Pode vir quente que eu estou fervendo”; “Coração de
papel”; “Namoradinha de um amigo meu”; “Alguém na multidão”; “Esqueça”, et all.
Apresentou a Banda. Parabenizou o
Theatro 4 de Setembro e toda a equipe da Casa. A Banda Roupa Nova também esteve
presente com “Um sonho a mais”. E, com o bônus extra, desejou feliz natal e
entoou “Noite Feliz” e “Bate o sino”.
Agora o fim mesmo foi com “Tudo
que é bom dura pouco”. O que ninguém queria é que durasse tão pouco. Mas durou
um tempo de prazeres e felicidade memoráveis. E amar demais, ser bom rapaz foi
o meu bem, meu mal de amor por Jerry Adriani.
O Projeto Seis & Meia,
mantido pelo Governo do Estado, através da Fundac, ganha estilo continuado de
memória e história da música popular brasileira aqui praticado. Encerrou as
atividades de 2013 com chave da cidade, que reluz música, entregue ao carisma e
talento comprovado do príncipe Jerry Adriani.
(o artista entre amigos piauienses)
O artista a agradeceu com alegria a volta a Teresina, "Me dar a alegria de estar aqui depois de cinquenta anos. Os cinquenta anos que começam agora.", felicitou-nos o artista.
Que venha 2014. Esse ano foi
ouro.
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