por maneco nascimento
Era tarde do dia 27 de março de 2018 e, no Theatro 4 de Setembro, na agenda do Ato 27 Ano IV - Dia 27 de Março –*Dia Internacional do Teatro e Dia Nacional do Circo, ao horário das 17h, marcado espetáculo para Escolas Públicas, apresentação em exercício de Ensaio Aberto da montagem “DIZ-RITMIA”, em expensas de estreia. O GT “Procópio Ferreira”, de Teresina PI, com direção GTProcoFer[Grupo de Teatro "Procópio Ferreira"] fez o expediente do horário.
Grata surpresa da assistência ao se deparar com + uma das reservas dramáticas do repertório Mais do Grupo de Teatro "Procópio Ferreira", companhia ascendente da Oficina Permanente de Teatro "Procópio Ferreira".
Dramaturgia, reunindo os artistas criadores da cena, ClerysDerys, Gleiciane Silva, Kaio Rodrigues e Lanna Borges, uma resposta pancada de resolução estética e reinvenção plástico dramática para contos de Caio Fernando Abreu.
Assim se apresenta o GT "Procópio Ferreira" [Baseado nos contos de Caio Fernando Abreu. Caio Fernando Abreu trabalha em seus textos o cotidiano humano da forma mais simples e trivial possível. Estaremos vivenciando quatro fases do amor: AMOR NASCENDO, AMOR FUGIDO, AMOR VIVENDO e AMOR VIVIDO.
A proposta do GTPF é mostrar esses amores. Cada personagem traz consigo os seus anseios diante das possibilidades suscitadas dentro de suas trajetórias amorosas. Assim, entre tantas lembranças, procuram mais uma vez se encaixarem dentro da vida real.]
Os textos encenados, “Vagina Dentada”, por Kaio Rodrigues; “Fragmentos Disso que Chamamos de Minha Vida”, numa luxuosa intervenção de Gleiciane Silva; “Coração de Alzira”, por ClerysDerys e, "Iniciação", na voz de Lanna Borges.
Elenco, de intérpretes concentrados à Obra e licença caiofernandoabreunianas, desnuda beleza, inferências, apreensões de vida, depreensões poético estéticas afiadas e definições de Teatro maturado na práxis de bem compreender a geografia do teatro buscado e a prospecção da geologia da arte do artista, feito discurso que germina fazer artístico.
A direção do espetáculo, a que se diz em fase de estreia, revela cena afinada e acuidade em compor e renovar a cena local e foge, vertiginosamente, dos discursos "do teatro certo", metaforizado como falas de coletivo que só abriga o próprio lago de narciso.
O GT "Procópio Ferreira" investe trabalho e pesquisa livre a resultados que se vê na cena, "perde" + tempo laborando Teatro limpo, discreto e sem arrojos de pupilo do senhor reitor da orelha do livro. O impacto estético de recepção é pelo simples, mas inteligente, sem recursos de academias emboloradas. Só teatro puro, simples, direto e artístico cênico.
Fecham a ficha técnica, à soma entre cartesiano e sensibilidade apurada, a encenação criada pelos quatro vértices dramáticos[Clerys, Gleiciane, Kaio, Lanna] que também assinam a concepção de iluminação; pesquisa de sonoplastia num incidental redondo às falas e vozes do Poeta; a concepção cenográfica e douram + a pérola no fecho da direção de dramaturgia.
Kaio Rodrigues que libera a primeira ação e vozes deslizadas, no sincopado das teclas da máquina de escrever, impõe economia e opera visagismo de crisálida que parte do real à projeção de Teatro de sombras, ao fundo, em luz reflexora da iluminação integrada e rara de criador/operador Renato Caldas. A grande lua de São Jorge, ou dos diferentes[licantropia], gera efeitos belos e ressignifica a mesa de Alice e a personagem do Poeta encolhido sobre a dimensão da imagem fabular.
As asas em milagre de libertação da essência Borboleta também gera signo limpo, na mesa do escritor, ou sombra projetada em ampliação do sentimento miracular expressionista. Kaio brilha e enquanto digere Caio, apresenta a segunda personagem Gleiciane Silva, avassaladora do mínimo ao máximo brechtniano.
Os silêncios e ruidosos gritos, da personagem marcada na oficina de intérprete de Gleiciane, domam o espaço cênico e dosam afeição e interação com a plateia, que já vem de um primeiro significado[Kaio Rodrigues] e se integra em outros significantes apresentados por ela, num desmoronar de sentimentos e desconstrução do simétrico, para enviesar as emoções e "sujar" o chão da realidade de óbvios. Está +.
ClerysDerys bebe a taça da continuidade/descontinuidade voltada ao eu e ao outro/a da personagem e, na segurança de quem já viveu Nelson, o Rodrigues, com calma e tranquila sordidez nascidas do jardim da obsessão, densifica polidez dramática a um quase naturalismo de linguagem, mas que não se enganem os mais incautos, é premeditação em menos que reverbera o + e detém força e energia dramático econômicas ao tônus de leituras afiadas no exercício do Teatro que pratica e bem.
Então, eis que Lanna Borges, no último alinhavo da carpintaria costurada, vem nos dizer que, hora é tempo de mora dramática e ciclo de viver Teatro vivo e repercutir madrepérolas emergidas das densas e profundas buscas de acertar, oxigenar a cena e, ao alcance da apneia do mergulho, resgatar arte dramática e vez de bem compreender a cartografia que se pensou ao todo, do tido como recortes cênicos afunilados ao roteiro enredado. Pontua o último vértice com concentrado ato de bem dizer Teatro.
Já se disse que a música, a luz e as atuações inteiram a obra da cena à Obra do Poeta revisitado. A cenografia, uma mesa-balcão, um microssistem sucata e uma caixa de [Pandora], de onde "vomitam" pregos, elementam o quinto ponto, a contarregra auxiliar da narrativa.
E, o figurino de criação de Gleiciane Silva, opera uma visualização plástica que vai se emendando no constructo dramático, cada vez que uma personagem desliga sua performance para a entrada luminosa da próxima. Como apontou João Vasconcelos, há um fio condutor, e os cordões vermelhos que estão nos ombros, dorsos, barra dos vestidos das mulheres costuram as linhas de ariadne e dão a dica do tempo de coser memórias e experiências afetivas.
Teatro no tempo certo, sem sobras nem sombras de dúvida de que é uma cena de vigor e limpeza dramática, e fideliza obra e autor e renova olhar sobre Caio Fernando Abreu que, por si mesmo, já libera muitas emoções e interações estéticas.
Parabéns a ClerysDerys, Gleiciane Silva, Kaio Rodrigues e Lanna Borges e ao GT "Procópio Ferreira" que muito se nos puderam apresentar no dia em que se comemorou o Dia Internacional do Teatro e Dia Nacional do Circo.
É Teatro Brasileiro, é da cepa Piauís e Teresina não declina do orgulho de poder recepcionar Teatro que operacionaliza novos vieses e olhares da cena local, sob a luz de ciência e sensibilidade dramáticas. Teatro mesmo e bom!
Evoé, GT "Procópio Ferreira"!
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