quinta-feira, 19 de dezembro de 2013

Escola de Dança Lenir Argento

Ousadia compensada
por maneco nascimento

A Escola de Dança do Estado “Lenir Argento” abriu pauta no palco do Theatro 4 de Setembro, nos dias 18 e 19 de dezembro, à 2ª Temporada do Espetáculo "O Mundo dos Sonhos", uma recriação do II Ato do Ballet "O Quebra Nozes", inspirado no conto "O Quebra Nozes e o Rei dos Ratos" de E. T. A. Hoffmann. 
E “A novidade é que o Brasil não é só litoral/É muito mais, é muito mais que qualquer zona sul/Tem gente boa espalhada por esse Brasil/Que vai fazer desse lugar um bom país/Uma notícia está chegando lá do interior/Não deu no rádio, no jornal ou na televisão/Ficar de frente para o mar, de costas pro Brasil/Não vai fazer desse lugar um bom país” (Notícias do Meu Brasil/MiNas - Bituca)






O que se viu na estreia de “O Mundo dos Sonhos” é arte para encher olhos e orgulhar o investimento no material humano ali reunido para refletir educação, cultura, pedagogia aplicada, didática reorientada e ousadia compensada na releitura da academia e de suas formas e ritos de estética tradicional.
Caso os novos desafios, palavras chave da Direção Geral da Escola Lenir Argento, sejam a busca pelo desenvolvimento de ensino aprendizagem, quebra de paradigmas e reinvenção da aptidão natural do perfil escolástico, na linguagem da dança, a função se confirmou. Ousar fugir da inércia do tradicionalismo, para usufruir da experiência, do conhecimento e do potencial artístico individual e coletivo que a Escola possui, surtiu efeito positivo.
A montagem recria novas possibilidades de ser, pensar e ver a dança por outros ângulos. Uma brincadeira séria do(a)s aluno(a)s  às descobertas em que eles gracejam, dançam e dizem com o corpo algo que já é dança, em potencial e apreensão da técnica, sem sofrimento à academia e ao padrão formal.
Há em todo o espetáculo, que recria um clássico, um cuidado de estética para efeitos plásticos que geram uma completude de arte revelada, no esforço concentrado dos artistas envolvidos (crianças, adolescentes, jovens, adultos, professores facilitadores do ato criativo e direção artística). Os Figurinos, de Raimunda Leite, um habilidoso resultado que ilustra, enriquece e define as estratégias de convencimento que caminha pela direção artística. Cores e detalhes aplicados com suavidade e sensibilidade visual.
 Adereços, de Kleriane Amorim, xipofagiam mesmo efeito plástico para reforço da narrativa. O Cenário, Pereira Falazar, simples, mas de complexidade plástica, arrojado e emblemático. Ao fundo os fios da mora entrançam destinos, cosem a linha do tempo de esperas, do existir (Datan Izaká). O jardim suspenso com copas de flores de ponta cabeça, uma licença poética sígnica. Depois viram guarda chuva de flores em carrossel de primavera. Uma plasticidade visual inteligente. A iluminação de Pablo Gomes e Renato Caldas guardam proporções a simetrias de recortes e composição sensíveis.

A escolha da dramaturgia, que trabalhou a dança clássica ao viés da contemporânea, o melhor ganho conseguido pelo corpo de bailarino(a)s e facilitadores artístico da Escola. Coletivos graciosos, empertigados e despejando alegria na reinvenção da velha forma e quebra do paradigma escolástico.
Tradição e ruptura se enleiam e cumprem confronto de estéticas experimentadas. O minueto realizado só por bailarinos é de liberdade feliz e de revelação da fuga do óbvio. A personagem presa que dança de pantufas, ou pés descalços rompendo linóleo em passes clássicos, de livre arbítrio, concorrem ao prazer da assistência e recepção conquistada. Os corpos falam de felizes buscas e devoção à dança liberadas das velhas marcas de academias.


Os conjuntos, relidos de Quebra Nozes, brotam estações e territórios visitados que marcam simbiose de escolas. Intertextualizam a partitura tradicional musical com a partitura do corpus que representa os corpos falantes da revolução dramática. Interagem novos olhares e construtivismo do aprender a aprender em apreensão da linguagem, domínio evolutivo da técnica de dançar e falar as vozes do corpo em experimentação.

Requintado, inteligente, plástico, de alegria contagiante, de coragem revigorada e de ousadia compensada. A tradição ganha nova roupa do rei e é ao despir-se do dogma que “O Mundo dos Sonhos” assume nova cor e gera novidade.
Parabéns aos recriadores coreográficos, professores e aluno(a)s, e à direção artística, Datan Izaká. A nova roupa do rei desnuda o velho, sem ofendê-lo nem negar a tradição. A Escola de Dança do Estado “Lenir Argento” é “O Mundo dos Sonhos”. O espetáculo do ano de 2013 confirma a prova dos 9. Macktube!

Fotos: acervo da EDE Lenir Argento

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