Raras miudezas
por maneco nascimento
“(...) Tinha clareza a respeito do papel que um
celular e um liquidificador exercem na vida das pessoas, mas não percebia o
papel que um poema ou romance teria em suas rotinas. Por este torto raciocínio,
que mede os bens culturais pela lógica do mercado, a literatura é realmente
imprestável (...)” (Soares, Wellington. O dia em quase namorei a Xuxa.
Teresina: Quimera, 2013. 162p. [Cotidiano literário – Crônicas]).
Essa foi a resposta que o professor de
literatura e escritor Wellington Soares deu, através de uma crônica, quando questionado, sobre a
utilidade da literatura. Sem encompridar a defesa, a literatura tem papel
revitalizador, a meu ver, ao curioso e amante da leitura. E Ela nunca passou
incólume pela humanidade. É arte de salvação e amor de perdição de quem se
torna fiel a uma boa literatura.
“O amor bate à porta e tudo é festa. O
amor bate a porta e nada resta. (SANTOS, Cineas.
Miudezas em geral.Teresina: Corisco, 1986. 67p)
(imagem colhida de www.poetasdopiaui.org.br)
Poeta, cronista, advogado, professor, livreiro
e agente cultural dinâmico, Cineas Santos define em palavras arriscadas à
licença poética a beleza contida no fazer poético e sua simplicidade em
encantar espíritos incautos para algo + valorável, talvez, que um celular ou
liquidificador. Mas é preciso saber ler e gostar de leitura para separar o joio
do trigo, em dias de fluxos e refluxos informacionais de novas tecnologias.
(o artista sob olhar doutro/imagem: piaui.com.br /caldeirada cultural)
Os poetas, autores, escritores, jornalistas,
articuladores da palavra, de todos os tempos, sabem bem do ofício da palavra
feita literatura. Da literatura universal à aldeia local, a arte de escrever
define o homem (genérico), a sociedade e sua contextualização histórica,
política, social e humana. A letra paga a pena e a tinta de ser olhar refletido
das sociedades e o faz bem.
Cineas Santos, esse também artista das palavras
feitas obra literária nos encanta pelo jeito de ser e estar na sociedade que
escolheu para prestar seu serviço sócio cultural. Quem nunca ouviu falar de
Cineas, ou é de Marte, ou é de morte decretada em vida pouco expressiva na
cidade. Nos corredores culturais de Teresina, poucos devem ser os que ainda não
esbarraram neste articulador cultural. Seu currículo fala por si próprio.
“Para nós, aqui da terrinha,
Cineas Santos dispensa apresentações. Todos os que o conhecemos, pessoalmente, sabemos
do seu valor, enquanto ‘fazedor de Cultura’, escritor e pessoa humana. Cineas é
personalidade pública – como ele mesmo diria, nós, fãs e amigos, já nos
‘adonamos’ dele (...) Se pensamos no homem-Escritor, poeta e prosador de
estirpe (...) um quê de elegância e brusca nobreza –, poderíamos salientar-lhe
algumas qualidades, oriundas de profundas e boas confluências literárias.
Entretanto, a ‘melopéia’ de Cinéas é singular, aproxima-o de ‘canções’ antigas
e modernas, desfaz as fronteiras entre conversa, letra de música e o melhor
cancioneiro literário português-brasileiro. Tem o ouvido ‘fino’ e a ‘pena’ afiada.
Miudezas em Geral, Nada Além e Ciranda Desafinada, além do Menino que Descobriu
as Palavras, que o digam e deixem bem clara a ‘fala’ poética do Professor.”
(Elias Paz e Silva, Teresina, 26.01.2010, 17h08 -www.overmundo.com.br/overblog/entre-tantos-cineas-santos)
É poeta das miudezas e riquezas na simplicidade
de cunhar a letra e a lei poéticas de expressão individual ao coletivo de
identidade social. Sabe ser autor, sem melindres nem arroubos de desespero a se
fazer notar. Sua obra se instala, sem festejos ou foguetes de entrada. É festa
de chegada pela literatura de pérola lançada aos outros.
“EPS - Animal movido à ternura, o carinho é uma
arma do coração?
CS - Meu profeta, muita gente não acredita que num "animal tosco" como eu possa haver alguma ternura. Você me conhece e sabe que sou movido a isso, meu combustível é o afeto. Prezo mais as amizades que os amores. A couraça de espinho é uma proteção. Nada além (...)
CS - Meu profeta, muita gente não acredita que num "animal tosco" como eu possa haver alguma ternura. Você me conhece e sabe que sou movido a isso, meu combustível é o afeto. Prezo mais as amizades que os amores. A couraça de espinho é uma proteção. Nada além (...)
EPS - Negar-se a si mesmo como poeta - embora já
nos tenha dado algumas pérolas -, é uma tática de (des)compromisso com a
poesia?
CS - É algo muito complicado. Quando digo que gostaria de ser Elias, William ou Climério, estou sendo absolutamente honesto. Vocês conseguem ser simples sem descer a rampa da vulgaridade. Eu tenho dificuldades, não me sinto muito à vontade para me imaginar poeta. Gosto mais de poesia do que de música, por exemplo, mas entre gostar e escrever, há um abismo muito profundo (...)
CS - É algo muito complicado. Quando digo que gostaria de ser Elias, William ou Climério, estou sendo absolutamente honesto. Vocês conseguem ser simples sem descer a rampa da vulgaridade. Eu tenho dificuldades, não me sinto muito à vontade para me imaginar poeta. Gosto mais de poesia do que de música, por exemplo, mas entre gostar e escrever, há um abismo muito profundo (...)
EPS - Do sertão à cidade grande, que Brasis ardem-lhe na alma?
CS - Há um Brasil que se distancia do povo. Um país com aspirações de primeiro mundo, fincado em palafitas. É uma contradição terrível. Queremos assento no Conselho de Segurança da ONU; queremos entrar para o clube dos ricos, mas não resolvemos ainda o básico em matéria de alimentação, saúde, educação. O Brasil, às vezes, me assusta muito (...)
EPS - O que não se vende e nem se negocia?
CS - Carinho, afeto, respeito.
EPS - De repente, escreva um poema-filosofia de vida...
CS - Enquanto estiver, estou/Não estarei entre os vivos /para ver o que sobrou.
EPS - E a vida Eterna, que pensa em sua breve idade?
CS - "Eterna enquanto dure". (Professor Cineas Santos entrevistado por Elias Paz e Silva, Teresina, 26.01.2010, 17h08 -www.overmundo.com.br/overblog/entre-tantos-cineas-santos)
Felicito a cidade que tem um cidadão de (Campo Formoso - Caracol do Piauí), sempre lembra de onde veio. Regurgita sua terra, porque fiel a si mesmo. Um homem que riscou corisco nessa chapada e andeja entre escritores do século XIX e novos autores desse XXI, porque Editora Corisco, SALIPI, A Cara Alegre do Piauí, Oficina da Palavra e seus Saraus Culturais e outras intervenções necessárias.
Nesse 20, também dos ipês de setembro, o
artista marca calendário, com saúde e língua viva afiada. É o mesmo homem de
sempre, esse poeta. O Cineas é assim, ame-o ou deixe-o. Eu amo sua poesia de
raras miudezas e não nego.
Então tô com ele, mesmo que ele nunca saiba. A
literatura tem utilidade, sim.
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