Quem não LIZ
por maneco nascimento
(Faces de Lizmedeiros, anjo guardador/foto Francisco Gilásio)
“Os olhos dela são de um verde de
tanta luz que fizeram sua mão sair por aqui e acolá pintando a vida, as
celebrações da vida, as mutações do viver. Claro, a esperança (...)” (Fonseca Neto)
Quem não conheceu os grandes
olhos verdes da esperança, não LIZ. Mas não é sem muito esforço que qualquer um
poderia ter visto, ou lido belas orações impressas em obras de arte. Apreciar
uma tela em que as palavras fazem curvas, linhas, redemoinhos de intenções em
chamar à atenção para as marcas dos pincéis e cores alegres que reverberam
vida, memórias infantis, familiares, religiosas e humor gracioso das personagens
imortalizadas pelo traço Lizmedeiros.
(Faces de Lizmedeiros, os rostos expressivos/foto: Francisco Gilásio)
Inquietos e calorosos sentimentos
de coletivizar AMOR solidário e aquecido, no peito aberto, que apreendesse o
apreciador da arte pictórica é que a querida Liz, em salto do gato de Alice,
sorriu às tintas estilizadas e a “partir de um determinado momento, passei a
inserir, nos meus desenhos e pinturas, fragmentos de textos. Não que a
expressão plástica fosse insatisfatória, mas tenho necessidade de contar algumas
histórias e não consigo só com traços e pinceladas, o texto surge incorporado
ao desenho. Não tenho, aliás, explicação lógica para isso.” (Lizmedeiros)
Assim obras como “Colo de Mãe I”,
a peça conta história da memória da infância, olhar infantil em colo materno
para bogarins e rosas vermelhas, entre outras piscadelas. Em “Família I”, o
anjo guardador sobrevoa a família, enquanto a oração do anjo da guarda se
espalha pela tela. Na série a “Amor primeiro”, uma das obras depreende a Salve
Rainha, enquanto a mãe ajoelhada, aos pés da cruz, vela o filho crucificado. A
tela quase toda é a pinceladas de vermelhos e azuis e a mãe flagela os joelhos
em terra amarela ferrosa.
A outra “Amor Primeiro” tematiza
o olhar da artista para uma oração à “Pietá”. Obra dominada pelo vermelho
sangue, só quebrado pelo azul da virgem Maria. Há um coração em vermelho quente
trespassado pela espada. E a terceira “Amor Primitivo”, em oração maternal Maria
amamenta seu bebê, enquanto a história contada também pelos textos
sobrevaloriza a imagem. As cores suavizadas para o rosa bebê de aproximação do
menino Deus, “preso” ao colo da Mãe em oracionada ação de amiga do peito.
A homenagem a Mário Faustino
também é comovente, poética e ciente de respeitosa admiração. Nos apresenta
numa série, em duas peças. A primeira, “Aqui JAZ aquele cujo nome traçaram os
VAGALUMES cujo perfil formaram as PÉTALAS caídas antes do DIA e do VENTO" (Lizmedeiros 2001) e a segunda obra, "gaivota vais e VOLTAS. Gaivota,
vais e não VOLTAS Mário FAUSTO E HINO” (Lizmedeiros, 2001).
E para o amor e rosas, revela “QUEM
AMA, AMA, NO mato ou NA cama” (Quem ama, ama – Lizmedeiros 2003) e ainda “ROSAS
VERMELHAS QUE FICOU DO AMOR QUE ACABOU” (peça erótica em vermelho intenso e
personagens perfiladas em traços no preto. “Rosas Vermelhas”, Lizmedeiros 2003)
(Faces de Lizmedeiros/foto: yayhypemagazine.com.br)
“Faces de Liz – manifestação que
se realiza a partir de emoções, ideias, dando um significado único e diferente
para cada obra (...) apresenta não apenas uma diversidade de linguagem, mas
também as inquietações presentes nas questões que marcaram sua arte. O ciclo
diversidade é representado como uma mandá-la, não tem começo, fim, sequência
lógica, tudo circundava um centro que é o AMOR (...)” (Instituto Lizmedeiros)
O visitante da Exposição pode
viajar em expressões impressas para “Flores Azuis”; “O Livro” (2003); “Anônimos
I e II”; “Caras Tristes”; “O casal”, obra refletindo o nú sensual; “Tocadores
de violões”; ‘Obra inacabada”, em vermelho e preto; “Floresta protegida”, em
oração reflexiva sobre o planeta e (in)civilidade da humanidade; “Caras”, obra
de beleza recorrente no acervo da artista; “”Palhaço I e II” e “Circo Dr. Alegria”,
a contagiante temática infantil de suas
pinceladas; “Aquela Bicicleta”; “Negro”, em reprodução anatômica perfeita; “Estudos
sobre a mulher em sépia”, expressionismo suavizado pelo desenho delicado.
(Faces de Lizmedeiros [Obra Inacabada]/foto: yayhypemagazine.com.br)
“MÁTRIA – Liz foi uma mãe farta,
o seu colo era macio e disponível para muitos filhos. No lar ensinava o
princípio fundamental da vida – o amor – fazendo arte e usando todo esse poder
nato de ser mãe. Cada amanhecer era apaixonar-se pela vida, a fogueira de sua
existência se reacendia e a mãe Liz, saía ou ficava, produzindo uma arte que se
entranhava nela mesma, alegre, colorida, cheia de brincadeiras, de histórias,
seu cotidiano, família, filhos, marido, amigos, religiosidade, sexualidade...
era mãe criança (...)” ( Instituto Lizmedeiros)
Outros legados em obras, para o
diverso das técnicas, a ver “Estudo Negra e Flores” e “Corpo de Mulher”
(desenhos); “Vacas e Bois” e “O casal” (óleo); “Negra de turbante”, “Casal de
dançarinos” e “Cesta de Flores” (aquarelas); Série ‘Pássaros” (marrecos, tucano
azul e flamingo); “Permutação de dia BNH; “Dançarinas” e “Dançarinas
aquáticas” (lápis e aquarela) e a belíssima obra “A Santa Inquisição”, trabalho
de finalização de curso na Escola de Belas Artes (Rio de Janeiro, 1985).
(Faces de Lizmedeiros[detalhe de A Santa Inquisição]/foto: Francisco Gilásio)
“(...) era mãe criança. Ilustrou
livros infantis, histórias contadas nos terreiros das fazendas, ah!, nos seus
desenhos, outras histórias se desenrolavam(...)” (Instituto Lizmedeiros)
Maga das pinceladas que a fez conhecida,
também, pelo colorido intenso, os rostos expressivos e pelas mensagens
imprimidas nas telas, Lizmedeiros não só tornou-se uma grande representante da
arte pictórica brasileira, da cepa piauiense, como também na contagiante disseminadora
da alegria e solidariedade traduzidas nas tintas. Posterizou-se, através de sua
arte, como a Mensageira do AMOR.
Quem não LIZ, não aprendeu do seu
amor revelador.
Expediente:
“Faces de Lizmedeiros”
Na Casa da Cultura de Teresina –
Praça Saraiva – Centro
Até 16 de agosto das 8h às 18h
Ação de Recepção: Sala de
interação com crianças de escolas públicas e privadas. Contação de histórias
com Márcia Evelin.
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