Canção
de dama legal
por
maneco nascimento
O
teatro de Luanda, Angola, mostrou sua força no palco do Theatro 4 de Setembro,
dia 28 de agosto, às 20h30, com o espetáculo “A Órfã do Rei”, do Grupo Teatral Henrique
Artes. Direcção e Encenação de Flávio Serrão e Assistência de Direcção de
Adilson Vunge “Cadete”.
Teatro
de feição melodramático, alça a atriz Mel Gamboa ao centro da cena, em quarenta
minutos de enredo denso e dedicado, muito particular, na detida representação e
boa atuação da intérprete.
O enredo, uma das primeiras doze órfãs do Rei, em
1853, munida de um dote, é envolvida na trama da própria partida, por mar, ao
reino de Angola, onde consumará o casamento com um homem de emprego garantido
no funcionalismo público daquele país.
Espetáculo
que leva a Assistência de Encenação, de Carla Gamboa, está no palco a uma
intérprete. A cenografia, um baú de memórias amargas, um mastro de navio fincado
na praia e uma luz forte e presente. A personagem, Beatriz Constância, filha
dos asilos reais e envolta nos desígnios de seu protector, depõe em favor de
Mel Gamboa e a torna sentimento sangrado na encenação.
Mel
Gamboa detém a si uma particular ação de transformar, o texto e dramaturgia
sugestionada, em ato recheado de melodrama, envolto num talento em definição concreta.
Inflexões e articulações das falas da personagem ganham sabor de domínio da
cena e respeito pelo ritual consagrado à epifania da dor e sofrimento que
regurgita em memória dorida.
(A Orfã, de Mel Gamboa/fotos: acervo do Grupo)
De
delicada apresentação que comove a recepção, numa variação entre as memórias do
desconhecido futuro da nubente e as consequências de obrigações matrimoniais
com um estranho, a atriz desliza para o grave drama derramado e sutilezas da ignorância
infantil da personagem que atingem a intérprete com verdade e risco de cena planejada. O teatro
sem tradução se elege pela força da atriz.
A
iluminação do espetáculo tem um viés particular, de cores quentes e recortes
que redomam + o mapeamento centrado nas agruras da personagem. O desenho de
Luz, de Jorge de Palma, aliado à Técnica de Nuno Nobre e a Operação de luzes
para Ailton Silvério, ratificam a cena angolana com um carinho e definição de
demonstrar sua língua e linguagem em técnica de reforço à dramaturgia. Detêm o
fator principal do teatro, a identidade com a cena. Acertam bem.
A
produção da cena angola, realizada por Benjamin Ferrão e José Maria Barreto “Zé Maria”,
causa impacto de amar, ou desistir do enredo repercutido por Mel Gamboa e
Flávio Ferrão. Não é difícil optar pelo teatro vindo de Angola.
É cena
orgulhosa de apresentar a própria cultura de palco e confiança em deixá-la na
mão de Mel Gamboa, que nunca decepciona, entra e sai da história com acuidade
de demonstrar que seu teatro confirme o exercício da equipa que a apoia na
empreitada de convencimento.
(A Orfã do Rei, de Luanda/fotos: acervo do Grupo)
O
Figurino e Maquilhagem de Mel Gamboa, + uma prova de concentração da atriz em
desempenhar o seu melhor. Estão em versos sutis, ao corpo da personagem, para
definição em licença do gesto de amor ao teatro feito crédito e fé defendidos.
A Publicidade de Áudio, Hélio Taveira, e a Comunicação, de Sófia Buco, fecham o
ciclo das inteirezas estéticas amparadas no ato dos artistas de Luanda.
(teatro derramado em desespero e abandono poéticos/idem)
De
densidade poética a ciência do palco e coração pulsado à representação dramática
do exercício da atriz, a peça trazida ao FEstLuso 2013, “A Órfã do Rei”, de Mel
Gamboa e Flávio Ferrão, se garante e confirma teatro sem tradução.
Muito Obrigada :)
ResponderExcluirMerecida homenagem!
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