Apareceu a Edith
por maneco nascimento
O último espetáculo da noite, na programação do
Festival de Teatro Lusófono, dia 27 de agosto, às 23 horas, no Teatro Estação
(Miguel Rosa com Frei Serafim) trouxe a atriz premiada Edith Rosa, numa atuação
energética e recheada de surpresa para o público que lotou a pequena sala do
TE.
Edith provou porque mereceu o Prêmio de Melhor
Atriz no 20º. Festival de Monólogos “Ana Maria Rêgo” – Ano Lorena Campelo, que conquistou no início do mês de agosto de 2013. Para a apresentação no
FestLuso, a atriz variou entre a tranquilidade disfarçada e a loucura ensandecida
da personagem que cunhou para “Apareceu a Margarida”, de Roberto Athayde e
direção de Avelar Amorim.
Em 55 minutos inteiros, Edith desenvolve uma
professora escatológica que, sobrepondo a tresloucada proposta no texto
original, não deixa nada a dever a nenhuma versão de Dona Margarida que tenha
visto. A professora de Edith Rosa consegue prender a atenção do público mesmo
que a encenação fosse realizada encima de um caminhão, em dias de
BROBbro de Teresina.
Tudo parece estar na medida para a “mignon” que
salta de dentro da atriz para vociferar como a tirânica Dona Margarida. O
cenário, o figurino (A. Amorim), os adereços, as lições em papel seriado que prende ao
quadro de giz e as surpresas que vão sendo reveladas ao público, quando as gavetas
da mesa da professora são abertas, são muito divertidos.
Os trejeitos, a perna levemente manca e as
intenções e gestos obscenos e a boca suja, implementados pela professora,
ganham um sabor brejeiro e de um jocoso que deixa D. Margarida muito mais palatável e longe da endurecida e dramática, de matéria dura do hardware da ditadura que algumas intérpretes impuseram à Margarida de Athayde.
A peça escrita por Roberto Athayde, há mais de trinta anos,
mantém na encenação, fidelidade ao texto autoral, mas atualiza situações bônus para contexto
de agora, nesse momento em que as classes estudantis ouvem uma música que fala
a sua juventude. A atualização de curtir, do facebook, desenhada no papel
seriado da lição escolar, é uma surpresa muito risível. A professorinha ao cantar
os sucessos das massas de periferia, outra ficha que gera um riso sincero.
O desenho de dramaturgia, de Avelar Amorim, que
reforça a boca suja da professora, enquanto a deixa muito à vontade para ganhar
o carisma de Edith e seus trejeitos concentrados, numa dinâmica inteira de
despejar o texto com as nuances particulares da intérprete, valorizam a
personagem e definem uma nova Margarida que se mantém digna e empertigada para
fazer brilhar Edith.
A Maquiagem do Grupo Mosay cumpre a estratégia da
dramaturgia, deixa a D. Margarida com perfil de humanidade perdida nos
corredores de escola pública. A sonoplastia de Avelar Amorim compete ao enredo
e a Iluminação de Paulo Henrique define-se por si mesma. A D. Margarida, de
Edith Rosa, dispensa o caos em que está inserida por estar indispensavelmente contida nele. O enredo está tatuado na
atriz e em sua personagem que enleia o público.
(Dona Margarida melodramática/fotos: divulgação)
Edith provou o doce da vitória, foi mordida pelo
bichinho do teatro em maturação consciente e, durante sua apresentação na grade
de programação do FestLuso 2013, apresentou o teatro sem tradução e confirma
nome na lista dos memoráveis que assinam borderô do Festival de Teatro
Lusófono.
Apareceu a Edith e sua Margarida é muito legal de ver.
Nenhum comentário:
Postar um comentário