quarta-feira, 28 de agosto de 2013

Apareceu a Edith

Apareceu a Edith
por maneco nascimento


O último espetáculo da noite, na programação do Festival de Teatro Lusófono, dia 27 de agosto, às 23 horas, no Teatro Estação (Miguel Rosa com Frei Serafim) trouxe a atriz premiada Edith Rosa, numa atuação energética e recheada de surpresa para o público que lotou a pequena sala do TE.

Edith provou porque mereceu o Prêmio de Melhor Atriz no 20º. Festival de Monólogos “Ana Maria Rêgo” – Ano Lorena Campelo, que conquistou no início do mês de agosto de 2013. Para a apresentação no FestLuso, a atriz variou entre a tranquilidade disfarçada e a loucura ensandecida da personagem que cunhou para “Apareceu a Margarida”, de Roberto Athayde e direção de Avelar Amorim.

Em 55 minutos inteiros, Edith desenvolve uma professora escatológica que, sobrepondo a tresloucada proposta no texto original, não deixa nada a dever a nenhuma versão de Dona Margarida que tenha visto. A professora de Edith Rosa consegue prender a atenção do público mesmo que a encenação fosse realizada encima de um caminhão, em dias de BROBbro de Teresina.

Tudo parece estar na medida para a “mignon” que salta de dentro da atriz para vociferar como a tirânica Dona Margarida. O cenário, o figurino (A. Amorim), os adereços, as lições em papel seriado que prende ao quadro de giz e as surpresas que vão sendo reveladas ao público, quando as gavetas da mesa da professora são abertas, são muito divertidos.

Os trejeitos, a perna levemente manca e as intenções e gestos obscenos e a boca suja, implementados pela professora, ganham um sabor brejeiro e de um jocoso que deixa D. Margarida muito mais palatável e longe da endurecida e dramática, de matéria dura do hardware da ditadura que algumas intérpretes impuseram à Margarida de Athayde.

A peça escrita por Roberto Athayde, há mais de trinta anos, mantém na encenação, fidelidade ao texto autoral, mas atualiza situações bônus para contexto de agora, nesse momento em que as classes estudantis ouvem uma música que fala a sua juventude. A atualização de curtir, do facebook, desenhada no papel seriado da lição escolar, é uma surpresa muito risível. A professorinha ao cantar
os sucessos das massas de periferia, outra ficha que gera um riso sincero.

O desenho de dramaturgia, de Avelar Amorim, que reforça a boca suja da professora, enquanto a deixa muito à vontade para ganhar o carisma de Edith e seus trejeitos concentrados, numa dinâmica inteira de despejar o texto com as nuances particulares da intérprete, valorizam a personagem e definem uma nova Margarida que se mantém digna e empertigada para fazer brilhar Edith.

A Maquiagem do Grupo Mosay cumpre a estratégia da dramaturgia, deixa a D. Margarida com perfil de humanidade perdida nos corredores de escola pública. A sonoplastia de Avelar Amorim compete ao enredo e a Iluminação de Paulo Henrique define-se por si mesma. A D. Margarida, de Edith Rosa, dispensa o caos em que está inserida por estar indispensavelmente contida nele. O enredo está tatuado na atriz e em sua personagem que enleia o público.



(Dona Margarida melodramática/fotos: divulgação)

Edith provou o doce da vitória, foi mordida pelo bichinho do teatro em maturação consciente e, durante sua apresentação na grade de programação do FestLuso 2013, apresentou o teatro sem tradução e confirma nome na lista dos memoráveis que assinam borderô do Festival de Teatro Lusófono.

Apareceu a Edith e sua Margarida é muito legal de ver.

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