Qualquer um
por maneco nascimento
De nós, em algum momento, quem em alguma circunstância da vida não já sofreu alguma forma de repressão, discriminação e preconceito. Por vezes, de forma velada ou jocosa, sutil e bem humorada para descer mais leve, sem arranhar ou parecer um morde e assopra generoso.
Das insutilezas de senso comum, ou frases de (d)efeito, tipo “ mulher gosta de dinheiro, quem gosta de homem é 'viado’”, ou outras + “criativas” que reforçam, como a citada, conotações duplamente qualificadas de preconceito e discriminação, as sociedades estão encharcadas.
O mundo “legalizado” de formação de opinião negativa contra as minorias está a toda ponta, especialmente, em dias de acirrada manifestação homofóbica. Neste fim de semana dois homens, casal homoafetivo, ao saírem de um bar na região da Paulista foram abordados por dois outros homens que, entre outras coisas, teriam dito:
(calçada de local onde ocorreu a agressão/foto: Roney Domingos)
“(...) bichas loucas, vocês deveriam estar mortas (sic) só servem pra transmitir doenças (...)” rememorou em entrevista Marcos Paulo Villa, um dos homens agredidos. Seu desabafo foi feito em reportagem exibida na Rede Globo/Bom Dia Brasil, dia 03 de outubro de 2011.
(casal na delegacia de polícia/foto: Roney Domingos)
Seu companheiro, que levou um soco na boca e vários pontapés, teve a perna quebrada e o lábio aberto, preferiu não se identificar. Demoraram a dar queixa na polícia com receio de represália.
(perna quebrada de cidadão espancado por homofóbicos/foto de: Roney Domingos)
“Um casal de homossexuais afirma ter sido agredido em frente a um restaurante da Rua Fernando de Albuquerque, na região da Avenida Paulista. A agressão ocorreu na madrugada deste sábado (1º) quando o casal saía de um bar na Rua Bela Cintra. As vítimas registraram boletim de ocorrência no 78º. Distrito Policial – Jardins e foram orientadas a fazer exame de corpo de delito no Instituto Médico Legal (...)” (Bruno Azevedo e Roney Domingos/G1 São Paulo/globo.com/02/10/2011 - 15h43 -atualizado em 03/10/2011 14h05)
(vitima olhando a chapa da perna quebrada/foto: Roney Domingos)
Segundo reportagem da G1 SP, o caso foi registrado como lesão corporal e será investigado pela Delegacia de Crimes Raciais e Delitos de Intolerância - Decradi. Os agressores, homens brancos, um de 1,80 metro, outro de 1,75 metro. Um de cabelos curtos e ondulados, tatuado em um dos braços. O outro, de cabelos lisos.
“O casal estava com uma amiga no Sonique Bar. Ela foi assediada por dois homens. Segundo Villa, os agressores, com idades entre 25 e 30 anos, voltaram a assediar a moça e começaram a provocar a ele e ao namorado em um posto de combustíveis que fica na esquina das ruas Bela Cintra e Fernando de Albuquerque, chamando-os de ‘viados’”. (Bruno Azevedo e Roney Domingos/G1 São Paulo/globo.com/02/10/2011 - 15h43 -atualizado em 03/10/2011 14h05)
Os espancadores não se deram por vencidos. Talvez por orgulho ferido. Rejeitados por uma amiga de, como eles mesmos se reportaram aos cidadãos, “viados”. Então foram à forra “(...) Na fila do posto, esses dois caras vieram atrás e começaram a falar que a gente era viado, que a gente tinha que morrer, que não merecia viver (...)” (Idem)
Ainda segundo a reportagem da G1 SP, Marcos Paulo Villa retrucou a um dos potenciais agressores “(...) Vocês não sabem o que estão falando. Você é um cara novo ainda, pode ter um filho gay (...)” (Idem)
Talvez tenha sido a deixa que os bravos rapazes paulistas precisavam para consumar o espancamento. No país em que ainda se vê a lição repetida e impregnada no senso comum de que “não tenho nada contra preto, só não quero na minha família”, outro grave discurso discriminatório, bater em homossexuais tem virado rotina e nota de rodapé em página policial.
Em julho último, no município de São João da Boa Vista, interior de São Paulo, pai e filho confundidos com homossexuais foram brutalmente agredidos.
“Um autônomo de 42 anos teve parte da orelha arrancada durante a briga e seu filho sofreu lesões leves. Segundo a vítima, morador da cidade vizinha de Vargem Grande do Sul, o motivo da confusão foi ele e seu filho terem sido confundidos com homossexuais. Os rapazes, funcionários de uma serralheria no município, negaram que o motivo da briga tenha sido preconceito.” (Tatiana Fávaro d’O Estado de São Paulo/estadão.com.br/22 de julho de 2011)
Em setembro o cronista Cineas Santos registra:
(...) Duas semanas mais tarde, acesso o Portal SRN e me deparo com a manchete: ‘Homossexual é morto com requintes de crueldade em SRN’. Temi pela sorte da ‘Estrela Solitária’. A foto estampada no portal justificava o meu temor: era ela (...)” (Santos, Cineas. Um tango para Desirée [Echos da Chapada do Corisco]. Teresina, Jornal O Dia, 18 de setembro de 2011)
Os criminosos, quase sempre bem jovens. Belos e malditos e donos da rua e da moral vigente de seus círculos de convivência e opinião. Não haverá mudanças caso não haja uma real postura social de convivência saudável também na diversidade.
Não haverá menos homossexuais. Não conseguirão matar a todos. Em algum momento espancamentos e agressões físicas deverão deixar de receber registros em delegacias de polícia como lesão corporal e perder o percurso de lentas investigações.
Orientação sexual não parece ser escolha simplesmente. Acontece e acontecerá em qualquer família. Conviver com a diferença ou será o nosso melhor futuro, ou se terá que conviver com registros infames da espécie detratando sempre a própria espécie.
A sociedade precisa educar-se à nova convivência e educar os seus, ou o futuro será de selvageria e barbárie em que bestas assassinas serão deuses. Qualquer um poderá ser a próxima vítima.
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