+ um(a)
por maneco nascimento
“(...) Duas semanas mais tarde, acesso o Portal SRN e me deparo com a manchete: ‘Homossexual é morto com requintes de crueldade em SRN’. Temi pela sorte da ‘Estrela Solitária’. A foto estampada no portal justificava o meu temor: era ela (...)” (Santos, Cineas. Um tango para Desirée [Echos da Chapada do Corisco]. Teresina, Jornal O Dia, 18 de setembro de 2011)
As velhas e escancaradas estatísticas assomam + um(a) brasileiro(a) que caiu em desgraça por ser “diferente”. Renato Tavares Piauilino, a Renata Desirée, natural de Coronel José Dias "(...) incômoda presença nas ruas de São Raimundo Nonato. Foi brutalmente assassinado com dois tiros de escopeta, à queima-roupa, na noite do dia 7 de setembro, nos arredores da cidade. A polícia, para variar, ainda não tem pistas do(s) assassino(s) (...)”
(Idem)
Sobram números e faltam atos reais de investigação e justiça quando o assunto é agressão e atentado violento, seguido de morte, contra homossexuais brasileiros. Sei muito pouco das estatísticas estrangeiras porque parecem + distantes, não que sejam de menor importância. Mas, sei das que rondam nossa convivência.
A Bahia conta, há muitos anos, com uma organização vigilante aos arroubos de determinado nicho da sociedade brasileira e seus desvios justificáveis para aplicação de justiça, intolerância e discurso moral e purista.
O Grupo Gay da Bahia tem aplicado esforços para manter o Brasil informado e pratica denúncias confiáveis acerca de crimes cometidos contra homossexuais nos centros de sobrevivência brasileiros.
“(...) Grupo Gay da Bahia divulga relatório ASSASSINATOS DE HOMOSSEXUAIS NO BRASIL (2005), com o perfil dos gays, travestis e lésbicas vítimas de crimes homofóbicos nos últimos 25 anos(...)” (ASSASSINATOS DE HOMOSSEXUAIS NO BRASIL : 2005/Grupo Gay da Bahia- GGB - www.ggb.org.br/assassinatos2005.html -)
Teresina, tida como cidade que transita entre o moderno e o “provinciano”, também mantém suas maneiras de manifestar o descontentamento com os “diferentes”.
Pelos fins da década de 1980 e anos 90, um grupo de bem nascidos, conhecido como “Turma do Melecão” foi o terror nas noites da cidade. Fazia das suas, num discurso de assepsia social? O GGB nos aponta que:
“(...) Entre 1980-2005, foram assassinados no Brasil 2.511 homossexuais, em sua maior parte, vítimas de crimes homofóbicos, onde o ódio da homossexualidade se manifesta através de requintes de crueldade como são praticados tais homicídios: dezenas de tiros ou facadas, uso de múltiplas armas, tortura prévia, declaração do assassino ‘matei porque odeio gay!’. Crimes cometidos por ‘pura maldade’, como qualificou a Delegada de Maracanaú, no interior do Ceará, ao encontrar o corpo completamente desfigurado do cabeleireiro Emanuely, 49 anos, morto a pontapés por dois rapazes machista, um deles, filho de um militar (...)” (GGB www.ggb.org.br/assassinatos2005.html -)
Figuras que circulavam pelas noites e vias do centro da cidade de Teresina, umas desapareceram, outras mudaram de endereço e algumas outras venceram, com coragem e determinação, a tirania daqueles que acreditam ter poder de definir quando e quem pode ocupar espaços públicos.
“(...) Dentre as vítimas, 72% gays, 25% travestis, 3% lésbicas. Para uma população estimada em 20 mil indivíduos, as transgêneros (travestis e transexuais) são proporcionalmente mais agredidas que as lésbicas e gays, que somam mais de 18 milhões de brasileiros, 10% da população (...)” (GGB - www.ggb.org.br/assassinatos2005.html -)
(profissional da noite/imagem da web)
Alguns exemplos de desaparecidos em Teresina ou em outras praças brasileiras, Carlos Suely, Maria-Maria, Renata Desirée, Emanuely, entre tanto (a)s são só uma revelada e pequena ponta do iceberg.
“(...) De acordo com o Relatório Anual de Assassinato de Homossexuais de 2010, divulgado essa semana, foram oito piauienses que perderam a vida por terem uma escolha afetiva diferente da maioria (...)”. (“Número de crimes homofóbicos cresceu 31,3% em 2011, no Brasil, em relação a 2010”/meionorte.com/geral/06.04.2011, 08:13h)
O brasileiro não aprendeu a conviver com o diferente. Circunstâncias que envolvam etnias, orientação sexual e liberdades de expressão parece que sempre estarão sujeitas a reforçar números às vítimas de agressão e intolerância.
“(...) No Brasil registra-se, portanto, um crime de ódio anti-homossexual a cada 3 dias. Dois por semana. Oito por mês. Uma média de 100 homicídios anuais. A partir de 2000 essa média vem aumentando: 125 crimes por ano, sendo que em 2004 atingiu o recorde: 158 homicídios(...)” (meionorte.com/geral/06.04.2011, 08:13h)
Quem mandou o gay e o travesti atravessarem o caminho da sociedade justiceira e afeita a grupo de extermínio e limpeza social?
“(...) Dentre os mortos, 117 gays (59%), 72 travestis (37%) e 9 lésbicas (4%). O risco de uma travesti ser assassinada é 262 vezes maior que um gay. Nos dois primeiros meses de 2010 já foram documentados 34 homicídios contra homossexuais (...)" (Vermelho Portal/WWW.vermelho.org.br/6 de julho de 2010 - 16h37)
As Desirées, Marias, Adelys e Emanuelys da vida, já são número na estatística hedionda de crimes brasileiros, mas serão também sempre um sinal de que embora tenham perecido também representam um dedo na ferida nacional como denúncia.
“(...) dos 198 assassinatos do ano passado indicam uma escalada, comparados com os 189 de 2009 e os 122 de 2007. O Brasil permanece com o triste título de campeão de homicídios contra GLBTs. É seguido do México com 35 e dos Estados Unidos com 25 mortes anuais (...)” (Vermelho Portal/www.vermelho.org.br/6 de julho de 2010 - 16h37)
O Brasil está em sinal de alerta e o brasileiro precisa aprender a tolerância e respeito à diversidade. O vizinho não precisa morrer porque tem orientação sexual diferente do padrão. Há espaço de convivência harmoniosa a todo cidadão.
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