sexta-feira, 5 de agosto de 2011

Exercício acadêmico


Exercício acadêmico
por maneco nascimento

“A novidade veio dar à praia
Na qualidade rara de sereia
Metade o busto
D'uma deusa Maia
Metade um grande
Rabo de baleia (…)”
(A Novidade/Gilberto Gil)

Um barulhinho bom invadiu a cena do Theatro 4 de Setembro, nos dias 02 e 04 de agosto de 2011, às 20 horas, repetindo, na cidade, buchicho já experimentado dia 16 de junho do decorrente ano, em estréia concorrida no Cine Teatro da Universidade Federal do Piauí – CTUFPI.

A novidade aportada na cidade, um exercício livre para “The Phantom of the opera”, do inglês Andrew Lloyd Webber, fecundado no Departamento de Música e Artes – DMA/UFPI e tendo como idealizadores Deborah Oliveira e Cássio Martins.

Para a apresentação conferida dia 04 de agosto, um libelo de efeito surpreendente para resultado de prática acadêmica que envolve professores, músicos, coralistas e solistas às espetaculares composições na “mis-en-scène” de um dos mais populares musicais já criados ao show biz.

                             (Fantasma: Edivan Alves e Christine: Luana Campos/acervo ufpi)

O evento tem na coordenação musical e regência da Orquestra de Câmara da UFPI, o professor mestre Cássio Martins e, na preparação vocal e cênica, a professora mestre Deborah Oliveira. Repercute técnica, acuidade artístico-musical e vocal e facilita um fascínio ao público para engenhosa dramaturgia melódica de obra original à releitura praticada.

O espetáculo-show, na forma de concerto, inicia-se com exposição, em novas mídias, da hemeroteca histórica deO Fantasma da Ópera”. As projeções da memória de montagens originais do musical percorrem toda a cena reeditada aos dias de espetáculos a Teresina.


A primeira entrada de apresentação de solista, com Deborah Oliveira, intérprete de uma das Christines, ficou prejudicada pelos "defeitos" no som do Theatro. Falta de ajustes técnicos antecipados? O suporte auxiliar ao concerto foi se afinizando com o correr do enredo apresentado.

Deborah Oliveira divide cançãoThink of mecom Ailton Carneiro, que encarna Raoul, o mocinho da história. Marca um dueto equilibrado técnica e emocionalmente. O primeiro fantasma a se manifestar, Edivan Alves, contracena com Luana Campos, outra das Christines para o ensaio dramático.

Edivan Alves marca uma entrada dramática, mas com tônus tímido e voz pequena para rito de iniciação que, talvez, exigisse maior impetuosidade. Fascinante e anti-herói de primeiro impacto, a personagem precisa ganhar + o intérprete para que o pisar, a rigidez maliciosa e apaixonante do fantasma, seja para maior convencimento.

Luana Campos, na pele de Christine e, noutro momento, como Carlota, possui uma tranqüilidade de encenar, cantando, que é invejável. Ao seu lado, o registro vocal bem definido preenche a “ópera” de graciosidade e beleza singelas. Desempenha uma envergadura dramático-vocal de leveza sublime.

                               (Luana Campos, uma das Christines da montagem/acervo ufpi)

Jaquebede Cristina, a terceira Christine, realiza o soloWishing you were somehow here againcom boa desenvoltura. Está no mesmo peso e medida de interpretação vocal das outras fragmentadas mocinhas do drama. Segurança e equilíbrio no cantar percorrem ouvidos e ressonância vocal nas três solistas-chave do enredo.

Gildomar Oliveira, apaixonado intérprete para o soloThe music of the night”, resguarda à personagem do Fantasma primeiro a vontade, depois o desejo de ganhar a cena com força premeditada. Pisa bem o palco, tem força interpretativa variável entre a economia e o dramático medido. Acerta muito.

Glaycyjane Carvalho, a doce Meg, amiga de Christine, está bem. Assim como Lucas Coimbra, como o paparicador André, que destaca-se do coro para em ato de Corifeu reforçar a trama. O outro avanço do coro, Marcos Vinícius, completa as performances vocais destacáveis da narrativa coletivizada.

Coro, de predominância vocal e coletiva, eficaz. Orquestra concentrada no todo e Solistas afinados. Estão todos musicalmente à vontade. Há uma afinidade técnica músico-melódica digna de qualquer concerto profissional. Prova que os laboratórios de musicalização da UFPI dominam a linguagem.

A dramaturgia de cena para a versão local d’O Fantasma da Ópera ainda exige melhor desempenho. A coreografia de Ellen Wylfa e a programação visual de Thiago Ramos completam um ciclo de bons propósitos, mas há ainda um descuido no mapa dramatúrgico. Alguns intérpretes parecem pouco à vontade no se impor à cena. Nada que um olhar + detido não resolva.

O Departamento de Música e Artes da UFPI está de parabéns com a novidade que invade as Casas de espetáculos da cidade. O + é ganhar vida útil para que a antropofagia do exercício acadêmico se aproprie das expectativas do público e o belo projeto não se confunda com o canto da sereia.

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