Musical
por maneco nascimento
Uma fábula contemporânea invertida da verdade para a mentira e da mentira para a verdade, este é o enredo de “Lord Gaga – o monstro da fama”, realizado pelo multimídia Franklin Pires.
(Franklin Pires: "Lord Gaga"/foto:divulgação)
Em uma hora de divertido e paródico conto de perseguição à celebridade, o escritor de texto para o teatro mass media vai desenhando diversão, entretenimento e riso entre o fácil e o crítico reflexivo.
Aos “moldes” de padrão de grandes musicais o autor apresenta mapa cenográfico para uma semi-escadaria lateral com corrimão e outra frontal, ao fundo do palco, redomada por uma nave de luz, às vezes de paradigma “brodway” tupiniquim. Tudo com o propósito de escamotear e dar graça ao enlevado, como material de apreciação.
Os figurinos de Lord Gaga, criativos, midiáticos e funcionais ao proporcional planejado. Numa metalinguagem de ensaio de um show para o qual nunca chega público, a personagem L. Gaga/Franklin Pires vai dando seu showzinho.
(Flanklin Pires:"Lord Gaga"/foto:divulgação)
Entre uma paródia musicada, do cotidiano memorável da personagem, e a narrativa de sua história reiterada, ou ouvida pelos “partners”, há um destaque para estes últimos como reforço da trama. Entram mudos, mas representam-se bem ao contexto. Dosam os subtextos à lingüística pantomímica para histriônico eficaz.
A personagem narradora vai desconstruindo os figurinos em que reconta sua memória, enquanto também desfaz a imagem erigida à custa da mente “esquizofrênica”, potencializada pelas indústrias culturais e pelo esforço particular de quem sofre do fascínio de celebridade. Um quase (in)consciente auto-roteiro de The Truman Show(O show de Truman).
Franklin Pires descobriu seu toque de Midas e, vencendo os labirintos de Minos, vai forjando seu mundo de Boby com cuidadoso traquejo de quem sabe onde deve por o pé. Texto comum, mas com resposta na veia do público direcional, é determinante ao objetivo a ser alcançado.
(Franklin Pires: "Lord Gaga"/foto:divulgação)
As coreografias do coletivo que ilustram as paródias aos videoclipes internacionais, de sucessos da irmã gêmea Lady Gaga, estão profissionalmente finalizadas. Uma sincronia para estética, ações e efeitos e corpus dançante ao fundo do lago espesso da linguagem musical dos hits aos grandes centros urbanos.
Não falta ao drama as citações a Bieber, Gaga, Gretchen, Paulinho Paixão, Nayra Lima entre outros, todos envolvidos em caldeirão de pilhérias, paródias e citações variáveis entre o esdrúxulo, o escatológico e o gargalhável.
Autor inteligente, bom leitor e amante do cinema, Pires também enreda homenagens a “Aleluia, Gretchen”, “E o vento levou...”, etc. Logo se percebe que há um princípio saudável de fazer-se sucesso no amealho a público específico, mas há + ainda um determinado projeto de consolidar-se por uma linguagem envolvente e de uso de novas tecnologias interagindo com a cena tradicional.
Franklin Pires dança, canta, representa, imita, parodia e interpõe-se entre a fantasia e a realidade com um gracejo de quem não quer esvair-se pelo teatro “amador”.
Há um tratamento profissional desde a transversalidade das novas mídias, bem eficientizadas, até acuidade com maquiagem, figurinos, coreografias, carpintaria cênica e com coletivo de atores em cena.
É um musical enxuto. Com direção coreográfica, jogo de luzes contextualizado, cenas bem costuradas, figurinos apropriados, verdade de cena em marca própria e, especialmente, projeto de ótima defesa.
Franklin Pires e seu “Lord Gaga” praticam um filão às novas sociedades mass média fibrilizada. Envolve, encanta, sugere comoção, cria empatia e convence como linguagem musical de cena bem acabada.
(cartaz "Lord Gaga"/Franklin Wendel)
Estão de parabéns e a cidade terá que consumir essa obra do diverso contemporâneo. “Doelha a quem doelha!”
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