quarta-feira, 1 de junho de 2011

Selvagem

por maneco nascimento
“(...) e o homem amestrado executou de maneira prodigiosa sua última imitação do lobo. Agarrou com unhas e dentes os apavorados animais arrancando-lhes pedaços de pele e carne, abocanhou uivando as carnes vivas e bebeu-lhes o sangue quente, com os olhos embriagados de prazer”. (Hesse, Hermann. O Lobo da Estepe. 2ª. ed., Rio de Janeiro: BestBolso, 2010, 250p.,trad. Ivo Barroso)
Com todas as lições escolares que os imberbes aprendizes levam para casa de um dia estudantil, nunca as experiências da vida cotidiana puderam fazer frente menor, se testadas com as teorias e teses de observação do mundo dinâmico e imprevisível.
A vida é a vida sendo mesmo como ela sempre é. A teoria, por sua vez, é testada porque ciência. Ciência da especulação, da comprovação, do placebo e do exaustivo resultado cientificamente testado.
O diverso viés da ciência pode em toda sua construção do conhecimento experimentado dar ao homem o que é do homem e ao lobo o que é da natureza lupina, embora às vezes o mundo do homem esteja impregnado da natureza primitiva e animal.
A “fuga” do mundo primitivo, se se considerar que a civilidade afastou a humanidade de comportamentos “condenáveis”, mas contumazes das eras rudes e irracionais, espelhou pessoas e novas efígies do mesmo tronco humano, porém evoluído.
Hoje, nos novos tempos, de novas empreitadas e novíssimas perspectivas a cada piscar de olhos, em que se avança em conhecimentos renováveis, parece que as sociedades desse futuro seguem na contramão das estabilidades sócio-emocionais. A vida está + difícil, os dias + violentos, a ética + desprezada e a morte de estatística + densa.
Hobbes, que se referiu ao homem como lobo do próprio homem, parece ter melhor compreendido a selvageria do racional contra seus pares. O cabeça da cadeia animal parece ter confundido seu papel evoluído, ou perdeu de vez a cabeça já que a razão virou peça menor no jogo da vida de sobrevivência.
Um pa(i)drasto, em Canto Alegre (SC), conseguiu matar  a própria cria. Um bebê de um ano morreu em decorrência de traumatismo estomacal. A criança levava socos no estômago porque chorava. Enquanto a mãe de três filhos trabalhava, seu companheiro, desempregado, torturava o bebê chorão.
Um pai de sete filhos, em Registro (SP) torturava sua prole, pois dono de suas vidas. Sua mulher abandonou a família por não suportar a violência do marido, não agüentava + ser espancada. Deixou três filhos com a própria mãe e os outros quatro ficaram à sorte do marido agressor.
Outras histórias estarrecedoras: amante matou criança, filha do companheiro, porque a relação amorosa acabou. Uma Medéia às avessas. No Pará, terra de ninguém, grileiros e traficantes de madeira mataram José Cláudio R. Silva e Maria do Espírito Santo. Os lavradores de Marabá foram exterminados por denunciarem o desmatamento ilegal.
A cada piscar do lobo, nova presa é destroçada, impedida de seu livre arbítrio. Jovens classe média podem se divertir ateando fogo em índio, espancando prostitutas e moradores de rua, exterminando homossexuais. Nada + será nem próximo de como estão os dias de hoje, amanhã.
Caso os céus não nos dêem uma vereda de salvação, os dias de selvagem serão lugar comum da autodestruição.
  

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