por maneco nascimento
Com vida iniciada em 2005, a Cia. Técnica do Teatro tem, ao longo dessa caminhada, professado fé aos ritos da cena e do ato religioso dramatizado. Para a cena de rigor dramático realiza, há três anos, no quintal do Teatro Municipal João Paulo II, o espetáculo “O Auto de Nossa Senhora de Fátima”, encenado pela primeira vez no ano de fundação da companhia.
A última montagem concretizada ocorreu no dia 29 de maio de 2011, às 19 horas, para um público concentrado na mímesis do milagre de Fátima. Com texto adaptado por Ricardo Sousa, também responsável pela direção de cena e desenho dramatúrgico, “O Auto de Fátima” tem força de intenção e crença na verdade cênica apresentada.
O espetáculo a céu aberto, em noite de lua nova e estrelas por testemunhas, traz elenco composto por técnicos do Teatro Municipal João Paulo II e quinze atores iniciados na Cia. Técnica. Welton Sousa, na pele do prefeito do sítio de Fátima, consegue um tempo de dublagem regular, mas segura. É convincente.
Thiago Borges, incorporando Cristo na via crucis, é de uma verdade simples, mas emblemática. Comove o público encetado na paixão representada. As marcas trágicas de linguagem universal também elidem na composição de Thiago. Reforça o conjunto representativo.
Gisele Morais, a Nossa Senhora desse ano, marca forte presença. Consegue, em suas aparições como a Virgem de Fátima, apreender, à locução dublada, entonações doces e ao mesmo tempo sem qualquer carga de drama comum. Seu timbre vocal e sua particular dinâmica lingüística dão caráter neutro, mas expressivo às vozes da Senhora, manifestada no lugarejo de Fátima.
O cuidado técnico aos efeitos de luz e névoa dá às aparições uma qualidade estética que as transformam nas melhores cenas vista no espetáculo. As cenas das crianças no campo enquanto dialogam com a Santa cumprem seu papel.
Os atores, das vezes de Lúcia (Iara Carvalho), Francisco (Matheus Monteiro) e Jacinta (Mary), por vezes parecem não saber onde por as mãos. Não conseguiram, ainda, integrar-se ao espaço integrado do drama com todo o crédito necessário ao fingimento do intérprete. Talvez necessitem maior atenção da direção para que organicizem a naturalidade com que compõem as crianças escolhidas para testemunho do milagre.
Esses mesmos jovens atores (Iara, Matheus, Mary) são + concentrados nas cenas domésticas, quando dialogam com a mãe (Sônia Sousa), ou quando são aprisionados pelo Prefeito. As dublagens não deixam margem de que querem acertar sempre. Os silêncios do intérprete do menino Francisco falam + que todas as outras ações pulverizadas no grupo das crianças.
Da parte técnica, a dramaturgia encenada se tivesse um enxugamento do tempo, de uma cena para outra, ficaria + leve, mesmo com a densidade natural que ato dramático exige.
A trilha (Ricardo Sousa) que desenha o enredo, por vezes muito extensa, desgasta o pragmatismo que deve acompanhar a prática de teatro de campo. Especialmente, na temática religiosa, o tempo musical requer uma dinâmica quente que sustente a atenção do público.
A cenografia e efeitos especiais, de Leonardo Sousa, dão um toque prático e eficaz às cenas de aparições, prisão e inferno. A árvore resplandecendo luz é de uma plástica comovente. A Iluminação de Marcos Paulo e a Operação de Sonoplastia de Herberth Rogger também estão incorporadas ao conjunto.
A cena do inferno poderia aglutinar um número maior de “demônios” para preencher todas as frestas do obscuro e danado do submundo. Com um número tão reduzido, encolhe a intenção de causar impacto. Sendo o contraponto do luminar núcleo de Nossa Senhora, a quem deveria confrontar, se impõe enfraquecido.
Mas “O Auto de Nossa Senhora de Fátima” que ainda reúne (Antonio Marcos, Marcos Paulo, Richardy, Michael Rennan, Karina, Andressa, Joany, Tiago Silva) explica o milagre, compõe o histórico revisitado e professa a fé que acena à razão e sensibilidade do teatro planejado de práxis revigorada.
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