O que nos possibilita as novas tecnologias senão podermos comprovar “in loco” as versões, quando se precisa contrapor as outras, preparadas ao desvio da responsabilidade. As cenas chocantes de um motorista atropelador de ciclistas em Porto Alegre parecem não deixar muitas dúvidas de quem seria o vilão da história.
Tentando acertar na busca de outras vias que melhor criem relações sociais, saudáveis, e direitos assegurados a qualquer cidadão, é que + de 20 ciclistas em grupo de uma centena foram (o vídeo no you tube não deixa dúvidas) intencionalmente atropelados enquanto pedalavam, na última sexta-feira, 25 de fevereiro de 2011, na Rua José do Patrocínio, em Porto Alegre (RS).
(foto: Outras Vias - mobilidade urbana e bicicletas em São Paulo)
“(...) um motorista apontou seu carro, acelerou e disparou intencionalmente contra mais de uma centena de pessoas que pedalavam na rua José do Patrocínio (...) Até o momento, as autoridades gaúchas consideram que o motorista do Golf preto é “suspeito” de um “acidente de trânsito” que resultou em “lesão corporal”. (Thiago Benicchio/Outras Vias – Mobilidade urbana e bicicletas em São Paulo/28.02.11)
(arte tncbaggins)
A mobilização internacional, chamada de Massa Crítica ou Bicicletada que nasceu na cidade de São Francisco (EUA) não é, segundo Thiago Benicchio, um movimento tradicional. Sem organizadores, regimentos ou plataforma, consiste essencialmente em um encontro para pedalar em grupo, durante algumas horas da última sexta-feira de cada mês.
Na última sexta-feira, 25 de fevereiro, foram colhidos pela má sorte à traição de crime premeditado para muitos e, talvez, “acidente” para alguns outros. Até aquela fatídica tarde de Porto Alegre nunca tinha havido circunstância tão agressiva e animal em qualquer lugar onde a bicicletada acontece.
(foto: Cristiano Estrela/Hoje em Dia)
“O agressor não presta socorro, abandona seu carro e foge. É a fórmula brasileira para sair de qualquer enrosco: fugir do flagrante. Esse é o típico ‘monstrorista’ jargão usado entre os ciclistas para classificar o motorista que usa o seu carro deliberadamente como uma arma.” (O monstrorista de Porto Alegre/por Renata Falzoni/ESPN.com.br/28 fev. 11h54)
O funcionário do Banco Central, cheio de poder auto-constituído se defende “que acelerou o carro para se proteger”. No Bom Dia Brasil de 01 de Fevereiro de 2011, duas versões de testemunhas se confrontam.
A primeira, um motorista que não quis se identificar, confirma a versão do atropelador de que este estaria sendo ameaçado e se defendeu. Um taxista desmente essa versão de que o atropelador estaria sofrendo violência dos ciclistas.
De sorte é que nos dias em que as tecnologias nos perseguem, rápida e eficazmente, se colhe uma versão flagrante quase impossível de ser desmentida. O vídeo que o mundo hoje vê, sobre a tentativa de homicídio contra uma manifestação para que haja mais bicicletas nas ruas, não contém rasuras, nem fotoshop, nem muito menos montagem.
Sem cortes de edição, é vídeo inteiro e claro de uma realidade bruta e covarde de quem se acredita dono das ruas. Para sorte dos pacifistas do Massa Crítica gaúchos não houve mortes, graças a Deus.
Na manifestação realizada na Avenida Paulista (tarde de 28 de fevereiro de 2011) os solidários ciclistas deitaram-se numa das avenidas mais movimentadas do mundo e ninguém passou por cima deles. Há homens e homens, motoristas e taxistas, bancários arroubados e cidadãos de paz.
Um dos manifestantes da Avenida Paulista disse que as ruas não são apenas para os carros e que é preciso que haja mais tolerância no trânsito. Acho que deve haver mais trânsito livre e saudável nas relações humanas.
Voltamos à barbárie numa versão + fácil de ser praticada e, parece que + assegurada de impunidade. Nada, nada nesse mundo justificaria um motorista “bonzinho”, na versão de defesa própria, atropelar semelhantes porque irritado com quem obstrui seu caminho de poder.
Parafraseando o velho e digno Drummond: quem mandou o ciclista ficar no meio do motorista, tão bonzinho. Cidadão com emprego regular, endereço fixo e ficha de conduta “limpa”, quem sobraria para vilão poderia ser os selvagens das bicicletas.
O Brasil urge dias de homens + justos e juízes de toga + irrigada de equidade.
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