“O Diário da Bruxa”, com texto de Vitorino Rodrigues, enreda uma divertida comédia de erros contextualizada para o pequeno público. Magias, poderes brochados e malícias consumadas enfeitam o caldeirão de humor e fantástico, construídos para encanto de qualquer geração.
Uma bruxa (Vitorino Rodrigues) que, refém de um lapso de memória, trama estratégias para recuperar poderes bloqueados e se recria em personagens de esconde e mostra a mesma malícia da velha feiticeira de seus milanos.
Vitorino Rodrigues, numa construção da personagem nem tão boa, nem tão má assim, consegue evoluções corporais e máscaras tragicômicas de refinado laboratório da construção do ator.
Uma bruxa esquecida e espalhafatosa (Furdúncia), uma fada desengonçada (Açucarada Doce de Mel) e uma cansada e boa velhinha, com presentes de bombons envenenados, é o leque de opções da mágica do teatro que Rodrigues oferece ao assistente e interativo público de crianças e pais enleados na velha fórmula do triunfo do fingimento.
José Dantas dividido entre o Caldeirão e o Príncipe revelado tem uma empatia natural de inflexionar o texto e deixá-lo de uma naturalidade eficiente, como que a jogar palavras à sorte de talento inato em confirmação. Com boa entonação e projeção significativa de voz, já burila idéias que aparecem em corpo que começa a falar por si só.
Os olhos matreiros do Caldeirão e as malícias despejadas em poção de alquimia teatral dão ganho ao exercício da repetição, lição primeira da prática teatral. Do feitiço desfeito do encanto borralheiro surge um Príncipe empertigado e pomposamente concentrado no ato de fingir e aceitar o jogo de mentiras delicadas à concretização do prazer de atuar e ganhar o público.
Gisele Morais, a Fada Esperança, retém um encanto particular variável entre o falso ingênuo premeditado e a mocinha em processo de transformação para a “anti heroína” em busca do libelo de amor “perdido”. O texto em sua boca só não tem melhor efeito por desempenhar projeção miúda, quase acanhada.
Inflexões sobressaltadas e, por vezes, com riscos de metralhadas despeja pressa de domar o texto e descuido em degustar as palavras e melhor afinar intenções e atenções que devem direcionar-se com maior segurança ao público atento e empático.
Nada que o tempo e ouvidos atentos não possam assentar na maturidade da experiência despendida.
A Direção de cena de Roger Ribeiro concentra a idéia de dramaturgia regurgitada e confirma o apelo de boa dose de humor e fantasia premeditados da cena ao palco e do palco ao feed back eficiente com o público enfeitiçado.
“O Diário da Bruxa” recupera teatro infantil de linguagem e signos infantis, reverberando a arte da cena com acuidade de se representar bem. É Fabular.
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