por maneco nascimento
Para gregos, troianos e tantos outros povos que construíram cultura de teatro, porque de domínio do homem (genérico), há sempre uma necessária presença de como as identidades e pertencimentos vão dando obras à arte.
Assim a humanidade em seu eixo de construção sócio-cultural vai desempenhando seu papel dentro e fora do espetáculo da vida. Quer seja na arte da vida ou na da mímesis da vida há sempre a presença do criativo para o + nobre e, outras vezes, nem tanto.
As culturas como qualquer manifestação de qualquer sociedade carregam consigo as idiossincrasias, os conceitos, os pré-conceitos e os discursos de poder e “distinção” de seus próprios pares. Assim, carmim ou pálida, se apresenta a face social para contextos convenientes.
Para a sociologia, os atores sociais. Para a antropologia, mãe da cultura, os atores culturais. Para o teatro, imperativo os atores da cena à dialética prática do visível para o invisível, da história do homem acionada para o lúdico e a reinvenção do cotidiano em que se espelha a arte do fingimento.
Do primitivo das manifestações cênicas “expressões lúdicas e mágicas, em louvor da sedução da divindade” (Dr. Francisco Fragoso, Lisboa/abril-maio/2004 In Branco, João. Nação Teatro – História do Teatro em Cabo Verde. Lisboa, Instituto da Biblioteca Nacional e do Livro, 2004, 439p.) se construiu o cênico a partir de atos religiosos e ritualísticos à herança do teatro contemporâneo.
Na contemporaneidade, há distinções entre a arte de continuar a prática milenar em diversos matizes da cena e, uma outra construída aos celebrizados. Os do mundo midiático e de canais massivos ao ralo da funda indústria cultural. Assim há o ato cênico para homens e mitos inconfundíveis e o ato falho para o suspeito corifeu das vaidades.
Recentemente, espetáculo do Rio de Janeiro, contratou produção local para campanha de temporada do espetáculo “Fica Frio”, de Mário Bortolotto e direção de Raoni Carneiro. No elenco, “os globais”, Kayky Brito, Germano Pereira e um coadjuvante Marauê Carneiro.
“Fica Frio” se apresentou dia 23 de março, a partir das 20 horas, no palco do Teatro Municipal João Paulo II e deveria cumprir final de semana, nos dias 25, 26 e 27 de março, no Teatro da Assembléia, em seguimento a estratégia de circulação da peça pelo nordeste.
A produção local despretensiosa e lenta, parece ter perdido o bonde da dinâmica de divulgação e publicidade de espetáculos, especialmente para atrair o interesse de público voltado às celebridades da caixinha mágica da tevê. A produção nacional ficou decepcionada com o rendimento de público ao primeiro dia da temporada em Teresina, 23 de março de 2011.
O ator coadjuvante, Marauê Carneiro, em licença “profética” de visão estreita, teria postado em twitter que o “Piauí é o c. do mundo.” E, em ato de decisão política, o Presidente da Assembléia Legislativa do Piauí, achou por bem cancelar a temporada do espetáculo que ocorreria no Teatro da Assembléia.
O desavisado rapaz ainda teria se justificado que postara comentário ouvido em mesa de restaurante, quando em companhia dos seus. A emenda saiu pior que o soneto e perdeu-se a poesia, a literatura da construção de homens melhores, a arte e a dramaturgia que reitera cultura e sociedade mais livres de preconceitos e discriminação.
O ator carioca parece ter perdido a oportunidade de uma boa atuação social em Teresina. Sua primeira fala, deslocada, desabou procênio abaixo, obscurecendo o teatro feito para fins de deleite e prazer do público.
Determinada prática de teatro brasileiro arrasta a estética da tevê ao palco. Repete um teatro morto no crédito de que todo o mundo acorrerá no rastilho do brilho da estrela midiática. Nem sempre funciona tão fácil assim e se a produção não se mexer, esse tipo de teatro já forjou-se natimorto.
“Fica Frio” e sua companhia de celebridades esfriou a própria sorte, porque o Piauí não é o c. do mundo. Só dublês de artistas em sua falha trágica e língua morta podem vomitar discurso que macule a boa prática do teatro brasileiro e o imprescindível público que o aplaude.